No Acampamento Internacional de Jovens Revolucionários, em Serpins, reuniram-se cerca de 120 jovens de Portugal e Espanha para buscar alternativas comuns para a luta contra a austeridade.
Numa Europa onde governantes massacram a população com sucessivos pacotes de austeridade e resgatam, ao mesmo tempo, bancos e especuladores, torna-se urgente discutir a resposta que, conjuntamente, trabalhadores e juventude devem dar para impedir a progressão desse caminho. Foi com esse intuito que cerca de 120 pessoas, entre amigos, simpatizantes e militantes, aceitaram o convite e marcaram presença no Acampamento Internacional de Jovens Revolucionários, organizado pelo Movimento de Alternativa Socialista (MAS), que decorreu entre os dias 27 e 29 de julho em Serpins, Coimbra.
Este ano o evento teve uma característica especial: para além da comparência de ativistas de Braga, Coimbra, Lisboa e Algarve, a partilha de experiências de luta saiu reforçada com a vinda de 50 ativistas ligados à Corriente Roja, de Espanha, e provenientes de regiões como a Catalunha ou Andaluzía.
Marxismo e crise na Europa
Tendo como pano de fundo a beleza natural da povoação, localizada num vale arborizado atravessada pelo rio Ceira, os três dias de discussão permitiram abordar vários temas fundamentais para quem se propõe a apresentar uma alternativa política forjada no combate quotidiano. Nm dos debates, que se debruçou sobre a perspectiva marxista de trabalho e alienação, discutiu-se como o trabalhador é reduzido a um mero servo do seu patrão, que impõe as suas condições e se apropria do fruto do seu esforço.
Entre discussões houve oportunidade para vários momentos de convívio e lazer, aproveitados para banhos de rio, passeios pelas redondezas, prática de desporto ou troca de ideias e experiências de luta. À noite, altura para uma confraternização mais descontraída e relaxada, com um pézinho de dança partilhado por diferentes estilos musicais, de várias regiões da península ibérica.
Um outro debate centrou-se nos efeitos da crise na Europa e a estratégia das suas potências (Alemanha e França), focadas em continuar a empobrecer os países periféricos, destruíndo-lhes os sectores produtivos e subordinando-os à chantagem da dívida. “Pagam a sua dívida com a nossa educação”, dizia uma das faixas penduradas na sala de plenário, trazida pelos estudantes da Corriente Roja. Muitas foram as perguntas levantadas durante a discussão: será inevitável continuar a pagar esta dívida? Será o acirrar da crise um factor de maior mobilização nas ruas?
A luta mineira
O acampamento, que funcionou com uma equitativa distribuição de tarefas pelos presentes, contou também com a presença de um jovem mineiro das Asturias, num momento em que a luta dos trabalhadores do sector se intensificava e confluíra na marcha de 11 de Julho, em Madrid. As palavras emocionadas do companheiro não deixaram ninguém indiferente, transmitindo a miséria e dificuldades actuais dos mineiros, num contexto de completo desinvestimento no sector, que o governo pretende ver extinto até 2018.
Os três dias não podiam terminar sem que as perguntas levantadas ao longo dos debates obtivessem uma resposta de grupo. Na perspectiva do MAS, sair da crise é antónimo de austeridade. Delapidar serviços públicos, cortar subsídios e aumentar impostos ou propinas não fará a situação voltar à normalidade. Continuar a pagar a dívida – criada pela crise do capitalismo e alimentada por casos como o do BPN ou pelas famosas Parcerias Público-Privadas – representa um brutal fardo para trabalhadores e juventude. É por isso necessário um partido que o diga sem medo, quando a maior parte já se demitiu dessa tarefa. De Serpins, trouxemos uma reforçada vontade de construir essa alternativa, nas ruas, buscando um novo 25 de Abril. Não só em Portugal ou Espanha, mas a nível internacional.