O governo de Pedro Passos Coelho está em contagem decrescente. No espaço de uma semana, a raiva contida de milhões de portugueses explodiu após o anúncio de novas medidas de austeridade sobre os trabalhadores e a juventude. Ficou claro então que o governo persistiria numa receita que se demonstrara capaz de aumentar a recessão, o desemprego e a pobreza e incapaz de reduzir a dívida e o défice públicos conforme prometido.
Ao fazê-lo, o primeiro-ministro e a sua equipa demonstraram incompetência, insensibilidade social e, o que foi ainda mais chocante, uma monumental arrogância política. Mesmo quando os seus pares advertiram-lhes para o erro que cometiam, nada alteraram do plano traçado.
Mas, como diz a sabedoria popular, quanto mais alto o voo, mais dura é a queda. A deste governo já começou e ganhará um grande impulso na manif de amanhã, “Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!”, a ser realizada em Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Faro e mais pelo menos 28 cidades no país e várias outras pelo mundo.
Esta será a primeira grande resposta popular contra uma política consciente de empobrecimento do país e do seu povo em benefício de uma minoria, constituída pelos carros-chefes da União Europeia, pelo sistema financeiro e a grande burguesia portugueses. Deve ser seguida por novas manifestações e uma greve geral que pare todo o país.
Não nos enganamos com os sound bites da troika a insinuar que as medidas adotadas pelo governo não seriam exatamente as suas; nem de políticos como Bagão Félix e Manuela Ferreira Leite ou de empresários como o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), António Saraiva, a criticá-las. Por trás dessas críticas há, antes de mais nada, o medo de que o regime perca o controlo sobre o povo.
Também não nos ilude o semblante compungido do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. Ele e o seu partido, o CDS-PP, são tão responsáveis quanto os seus parceiros de coligação pelas políticas seguidas pelo governo. Por último, também não nos deve comover a decisão do secretário-geral do PS, António José Seguro, de votar contra o orçamento de 2013. Não nos esquecemos que o PS, com José Sócrates na chefia do governo, permitiu a intervenção da troika em Portugal e, sob a liderança de António José Seguro, absteve-se na votação do Orçamento de 2012 (onde estavam os cortes nos subsídios de férias e de Natal e outras medidas de austeridade) e do novo Código do Trabalho.
Não se trata, para os trabalhadores e jovens portugueses, de negociar o grau de austeridade, como querem os políticos e empresários do chamado arco governativo. Trata-se, isso sim, de correr com a troika e o seu governo, rasgar o memorando de entendimento e iniciar um grande debate nacional sobre de que forma a maioria dos portugueses quer tirar o seu país da crise e iniciar um novo ciclo de crescimento.
Nós, do Movimento Alternativa Socialista (MAS), temos as nossas propostas, que gostaríamos de apresentar e debater com todos e todas que nos quisessem ouvir. Uma das que consideramos mais importantes é a da suspensão do pagamento da dívida externa, seguida de auditoria para determinar as responsabilidades pela sua criação. A dívida é o nó górdio da nossa situação de dependência económica e justifica os programas de austeridade a que temos sido submetidos. Outro tema que temos de discutir sem tabus é o da nossa integração à comunidade do euro, para analisar as consequências da permanência do país na moeda única. Do ponto de vista político, a nossa proposta é a unidade da esquerda – PCP, Bloco de Esquerda, socialistas antitroika, independentes e partidos e movimentos de esquerda – para criar uma alternativa ao rotativismo direita-PS.
Amanhã estaremos junto com o povo português nas manifestações em todo o país. Para lixar a troika e o governo de Passos Coelho e começar uma nova vida.