Escrito por Corriente Roja
A jornada de 11 de julho em defesa dos mineiros culminou pela tarde com a saída às ruas de cerca de 25 mil manifestantes que acudiram à convocatória da plataforma “Hay que Pararles los Pies”, da qual participam CO.BAS e também Corriente Roja, e que era apoiada por muitas assembleias do 15M, centros sociais e outros setores do sindicalismo de base.
Os organizadores, que participaram unitariamente da manifestação de receção aos mineiros do dia 10 de julho pela noite e também da manifestação que foi de Colón ao Ministério da Indústria pela manhã, explicaram, em palavras de Ángel Luis Parras, da CO.BAS, “Hay que Pararle los Pies” e de Corriente Roja, que convocaram a manifestação da tarde com um duplo objetivo: criar uma alternativa para que os que trabalham durante o dia pudessem participar nas manifestações em solidariedade aos mineiros e fazer com que se escutasse a voz dos mineiros e não apenas a da burocracia sindical.
A manifestação, que partiu de Atocha a Puerta del Sol, ia encabeçada por um grupo de mineiros das bacias de Cangas (Astúrias) e de Matarrosa (de Bierzo, León), protagonistas desta exemplar luta. Sua presença serviu para demonstrar que, pese os mais de 50 dias de greve, não estão dispostos a aceitar nem uma só traição mais da burocracia de CCOO e UGT, e que por isso vão dar a batalha até as últimas consequências.
A mobilização surpreendeu e reuniu muito mais gente do que se previa, posto que os meios de comunicação, a burocracia sindical e a direção anarco-sindicalista fez de tudo para que as pessoas não respondessem essa convocação. Os meios a omitiram, a pesar de Madrid estar cheia de cartazes pregados pelos ativistas que a convocavam. A Manifestação foi convocada pela base, de maneira militante, pelo sindicalismo alternativo, ativistas e muitas assembleias do 15M, muitos centros sociais e pelas redes sociais. Também a CGT e o “bloco unitário”, equivocadamente, tentaram boicotá-la de todas as maneiras, numa atitude sectária e divisionista, que debilita a luta pela construção de uma alternativa à burocracia sindical.
Mas, com tudo isso, a manifestação foi uma vitória muito grande que fortalece a luta em geral e vai forjando uma alternativa de luta, democrática, classista e pela base à burocracia.
A marcha do final da tarde demonstrou que a única saída para essa crise e ao plano de cortes contra os trabalhadores só pode ser a união de todos os setores em luta e a mobilização nas ruas.
As palavras de ordem mais cantadas durante todo o trajeto da manifestação, foram “ Madrid obrero apoia os mineiros”, “Que viva a luta da classe operária”, “Aqui faz falta já outra greve, outra greve, aqui faz falta já outra greve geral” , “A ver, a ver, quem leva a batuta, se os mineiros na rua ou o governo filho de puta”, “Mariano, Mariano [Rajoy], não passas do verão” ou “Espanha, Itália, Grécia e Portugal, a luta operária é internacional”, entre outras.
A chegada a Puerta del Sol foi, além de massiva, emotiva. A marcha que reunia nesse momento quase 20 mil pessoas encontrou outras milhares a esperar e, no encontro, explodiu um estrondoso “Madrid Obrero apoia os mineiros” e “Resgatam os banqueiros e despedem os mineiros”.
No final da marcha, intervieram várias pessoas em nome de “Hay que pararles los pies”, dos trabalhadores da empresa UPS-Vallecas, que continuam em luta. O ato finalizou com as palavras cheias de emoção dos companheiros mineiros de Astúrias, membros da Corriente Sindical de Izquierda, interrompidas em várias ocasiões por vozes a gritar: “A luta do mineiro, orgulho do obrero!” Com milhares de vozes a cantar “Santa Bárbara Bendita”, o hino dos mineiros, encerrou-se a manifestação.
Lamentavelmente, após o fim da manifestação e numa Puerta del Sol praticamente vazia, os poucos companheiros que ainda lá estavam foram violentamente atacados pela polícia. Alguns ficaram feridos e outros foram detidos.
A jornada de apoio aos mineiros foi uma grande vitória, que fez aflorar e perfilar todos os demais setores dos trabalhadores e da juventude precarizada, assim como setores médios em vias de proletarização, atrás de uma luta e consciência classista. O “Madrid Obrero apoia os mineiros” tem um alcance e um significado que vão frontalmente contra os capitalistas, seus governos e a burocracia e partidos do regime, que tudo que sabem fazer é pactuar com eles contra nós.
Dentro desta jornada, o sindicalismo alternativo teve um papel objetivo, talvez decisivo, por ser quem primeiro pôs de pé e manteve por quase 15 dias uma campanha de apoio aos mineiros e o apelo a que se fizesse uma receção de massas à sua marcha. Esta política acabou por ser adotada pela burocracia, o que foi muito positivo e fortaleceu a luta. Desta forma, o sindicalismo alternativo soube fazer unidade na luta ao mesmo tempo que buscava construir de maneira democrática, classista e combativa uma alternativa política e de organização à burocracia, inclusive defendendo com clareza a nacionalização das minas sob controlo operário como saída de fundo para o atual conflito.