A greve dos médicos de 11 e 12 de Julho teve uma adesão quase total, traduzindo-se no esvaziamento dos hospitais e na redução brutal do número de consultas externas e de cirurgias programadas. Nem houve a habitual guerra dos números, já que, face ao anúncio de adesão de 90 a 95% dos sindicatos, o governo anunciou que nem faria qualquer estimativa.
As razões da greve foram os inúmeros ataques do governo ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e aos seus trabalhadores. Depois dos cortes na Função Pública, seguiu-se o fim dos subsídios de férias e de Natal. Os doentes sofreram ainda com o aumento das taxas moderadoras, com o fim dos transportes, com o aumento dos exames complementares de diagnóstico, etc. O resultado está à vista: houve menos 6,7% de idas às urgências no primeiro trimestre de 2012, segundo a Administração Central do Sistema de Saúde – os sindicatos falam de menos 20% e qualquer médico que esteja no terreno sente, efetivamente, a diferença – e menos quase 4 mil cirurgia em igual período. O único dado que aumentou foram as consultas não presenciais, ou seja, os doentes preferem telefonar do que ir ao médico, fruto do aumento dos transportes. É este o SNS “sustentável” do governo PSD/CDS.
A gota de água para os médicos foi a abertura do concurso em que o critério de adjudicação era o do mais baixo preço. Ao permitir a contratação, através de empresas privadas, de médicos “à hora”, o governo está a tentar precarizar esses profissionais e torná-los peças rotativas e baratas. Esta medida faria com que um doente pudesse ser visto por vários médicos ao longo do ano, já que a empresa pode encontrar sempre outro mais barato. Ninguém quer ser operado pelo cirurgião mais barato. Um doente deve ser acompanhado ao longo do tempo pelo mesmo médico, para que a sua avaliação possa ser permanente. A saúde não é uma coisa que se quotize na bolsa…
Adesão praticamente total
Assim, as organizações sindicais convocaram uma paralisação para os dias 11 e 12 de Julho, ainda com o apoio da Ordem dos Médicos. A greve foi um sucesso absoluto, com os hospitais a terem apenas serviços mínimos. Os médicos mostraram ao ministro Paulo Macedo e a seus pares que estão unidos na defesa das suas carreiras e do SNS. No dia 11 de Julho concentraram-se entre 2 mil a 3 mil médicos, em frente ao Ministério da Saúde, naquela que foi a maior manifestação da classe desde o 25 de Abril.
Contando com a solidariedade dos doentes, que na sua maioria estiveram de acordo com a greve, os médicos mostraram ao governo que as suas espingardas estão bem contadas e carregadas. Os números falam por si: Hospital de Santa Maria com 99% de adesão; Hospital de São João, no Porto, com 95%; Hospital de São José com 100% e por aí adiante. Os médicos disseram, em uníssono, que não estão com o governo e com as suas políticas.
E depois de 12 de Julho?
No contexto de enorme crise económica e com a política de cumprir o memorando da troika, parece muito difícil que o governo PSD/CDS ceda no que ao mais importante diz respeito. Provavelmente dará algumas migalhas para tentar calar o descontentamento, mas manterá o plano de desmantelamento do SNS. Como na Grécia, poderemos assistir a um aumento da taxa de suicídios, com hospitais sem medicamentos e quedas brutais nos índices de saúde. É importante que os médicos mantenham a sua luta, sem tréguas, para impedir o avanço dos planos do governo.
Para tal, é preciso que a luta seja democrática, debatida em assembleias de trabalhadores. E que seja virada para o SNS, procurando pontos de contacto com os doentes, enfermeiros, auxiliares e técnicos de saúde.
É inadmissível que os médicos tenham feito greve dia 11 e 12 de julho e que o sindicato de enfermeiros marque agora uma para dia 20. Se o governo nos ataca unido, não devem os trabalhadores da saúde defendê-la também unidos?
Roque da Cunha, presidente do SIM (Sindicato Independente dos Médicos) já negou a possibilidade de uma greve conjunta com os enfermeiros, numa prova de sectarismo que só favorecerá o governo.
Para ganhar depois de dia 12 de Julho não bastarão negociações. É preciso que a luta continue nos hospitais, centros de saúde e na rua. É aí que caem as políticas do governo, é disso que Passos Coelho e Macedo têm medo.
Nenhuma confiança neste governo!
Por um SNS público, universal e gratuito!
Pelo fim das taxas moderadoras!
Ordenados e carreiras dignas para todos os trabalhadores da saúde!
Pela condução unitária da luta de todos os trabalhadores da saúde!
M. N. (médico)