O mês de maio terminou com o Estado Espanhol à beira da bancarrota do sistema financeiro. O colapso do mesmo e o consequente “corralito” [bloqueio da retirada de depósitos em contas correntes e poupanças] estão por um fio. A crise do Bankia e o seu resgate desesperado não são mais do que a ponta do iceberg. O governo de Mariano Rajoy resolveu deixar nas mãos do Banco Central Europeu (BCE) a reestruturação do sistema financeiro espanhol e essa decisão representa o reconhecimento implícito de que o Estado deverá recorrer aos fundos de resgate europeus para “salvar” a banca espanhola, ou, o que é o mesmo, para assegurar os créditos dos seus grandes credores, os bancos alemães e europeus, e para impedir que a crise iniciada após a quebra-nacionalização do Bankia acabe num tsunami incontrolado.(ver artigo nesta página o artigo “A crise bancária e a decadência do capitalismo espanhol”)
Com o sistema de crédito paralisado e os investimentos estrangeiros fugindo para um sítio mais seguro, o governo empreendeu uma operação de resgate dos bancos que significa a perda do poder financeiro da banca espanhola e de suas empresas frente à banca dos países imperialistas centrais da Europa, em particular da Alemanha. As medidas de salvamento dos bancos trarão, inevitavelmente, um forte aumento da dívida pública e significarão mais cortes, mais impostos e mais despedimentos.
O descrédito e a indignação popular aumentam após cada medida do governo. Os iniciais 7 mil milhões de resgate necessários para o Bankia converteram-se dois dias depois em 10 mil milhões e sobem oficialmente para 24 mil milhões dias mais tarde. E tudo isso sabendo que mentem sobre o custo real da “nacionalização” do Bankia porque o Estado “entre o que pôs e o que avalizou, já comprometeu 73 mil milhões, e se acrescentarmos as garantias dos depósitos (173 mil milhões), chegamos a um valor de 246 mil milhões de euros, que equivalem a 24% do PIB espanhol”. (ver mesmo artigo citado)
Resgates milionários à banca enquanto os cortes sociais, apenas na educação, prenunciam o despedimento de milhares de professores(as) e acabarão por deixar fora da Universidade milhares de estudantes, aos quais resultará impossível pagar a exorbitante subida das propinas.
Em cinco meses de governo, Rajoy bateu recordes. Recorde de despedimentos e desemprego, recorde de cortes sociais, recorde de reformas laborais que nos fazem retroceder mais de trinta anos e recorde de cortes nas liberdades democráticas na tentativa de acabar com os protestos a golpe de cargas policiais, multas e prisões.
Mas as suas dificuldades não podem ser dissociadas da tenaz resistência dos trabalhadores(as), da juventude e dos setores populares. Desde o primeiro dia o seu governo contou com a oposição da rua. As greves e massivas manifestações da educação e saúde pública, dos empregados(as) municipais, dos trabalhadores(as) do aeroporto, dos pilotos da Iberia, da greve geral do passado 29 de março (29M), etc. têm sido a demonstração do repúdio social ao governo. As massivas manifestações do passado dia 22 de maio, precedidas pelas de 12 a 15 de maio ou os cortes das estradas e greves dos mineiros (foto), confirmam esse repúdio social ao governo.
As crises políticas que acompanham a situação, a crise no poder judiciário, a decisão unânime dos reitores em não participar de uma reunião do Conselho das Universidades com o ministro da Educação, o descrédito da monarquia ou o mesmo desgaste a passos de gigante do governo central são a expressão por cima do crescente descontentamento social por baixo.
É preciso dizer basta a estes governos ladrões, ao de Rajoy e a todos os que, desde as regiões autónomas, cumprem o papel de gestores deste plano de guerra social. Há que dizer basta a este roubo em plena luz do dia que condena à miséria os trabalhadores(as) e o povo para salvar os banqueiros, enquanto os seus gestores, como Rato [presidente do Bankia, Rodrigo Rato] e companhia, saem com indemnizações milionárias e sem prestar contas algumas do seu roubo.
Nem um euro a mais para os banqueiros! É preciso expropriar a banca porque é o setor que concentra em suas mãos o domínio real da economia e é impossível dar um só passo sério para resolver a crise enquanto a banca continuar em mãos de ladrões. É preciso expropriar os bancos e criar um sistema unificado de investimentos e créditos, sob o controlo dos trabalhadores e do movimento popular, que permita acabar com o desemprego e reorganizar a economia.
“E os banqueiros?” Como se grita nas manifestações: “Temos a solução: os banqueiros para a prisão!”
Editorial do jornal Pagina Roja, de Corriente Roja, Estado Espanhol (www.corrienteroja.net)