O 12 M no Estado Espanhol fez encher as ruas de 80 cidades, em especial Madrid e Barcelona, para protestar contra as medidas do governo do PP de Mariano Rajoy. Centenas de milhares (e não os estúpidos 30 e 45 mil, apontados pela polícia, para, respetivamente, Madrid e Barcelona, basta ver as fotos espalhadas pela net) tomaram as ruas: jovens, estudantes, trabalhadores de todas as idades e profissões. Todos fartos e indignados com medidas que cortam na saúde, na educação, nos salários e nos empregos, mas não no salvamento da banca, como está a ser o caso do resgate milionário do Bankia (ler artigo de Corriente Roja em http://www.corrienteroja.net)
Em Lisboa, Porto, Coimbra e Braga, o número de participantes nas manifs convocadas pelo movimento Primavera Global para este 12 de Maio foi bastante mais reduzido (pouco mais de 1000 em Lisboa), a refletir o interregno vivido na luta de classes em Portugal, mas também a demonstrar, pela combatividade, ânimo e palavras de ordem dos manifestantes, que esta situação pode ser alterada. Sintomas da raiva ainda contida dos trabalhadores, da juventude e da maioria da população são as greves dos controladores aéreos, que têm provocado o cancelamento de vários voos e vão continuar este mês, e dos revisores e trabalhadores das bilheteiras da CP, anunciadas para maio. Nos dois casos o objetivo é obrigar as respetivas empresas a recuar nas medidas adotadas para fazer cumprir os planos de austeridade laboral impostos pelo governo de Passos Coelho.
Os trabalhadores da NAV, empresa encarregada do tráfego aéreo em Portugal, protestam contra o corte de 15% que o governo quer aplicar ao setor, o que provocará redução de pessoal e investimentos num setor crucial para a economia do país e para a segurança dos voos. A CP, pelo seu lado, anunciou que só vai pagar 50% pelo trabalho em dia de folga dos trabalhadores, entre outras medidas penalizadoras.
12 M com centro espanhol
Houve manifestações de protesto neste 12 de Maio em cerca de 50 países, sendo expressivas em várias cidades. Em Londres, centenas de manifestantes reuniram-se em frente à Catedral de São Paulo, em Tel Aviv, cerca de 1000, e outras centenas em Moscovo, Nova Iorque e Atenas.
O ponto alto do movimento aconteceu na Espanha, em manifestações verdadeiramente populares, para as quais convergiu a revolta de um povo. Na Porta do Sol, em Madrid, centenas de milhares de manifestantes lotaram a praça, algumas centenas dos quais lá permaneceram acampados até serem violentamente desalojados pela polícia (18 presos e 20 feridos). Em Valência, Cádis e Palma de Maiorca a polícia também desalojou manifestantes acampados. Como relatam os jornais, de novo ouviram-se nas ruas as batucadas e o tradicional “Que no, que no, que no nos representan”.
Em Barcelona, pancartas, bem-humoradas, diziam “60 millones para la Iglesia y si te pones enfermo, agua bendita”, ou, otimistas, “Mariano, que no llegas a verano”. Em Bilbau, leu-se um comunicado em defesa dos serviços públicos, frente a milhares de participantes com chapéus amarelos, “a cor do 15M no País Basco”. Numa pancarta estava escrito “ “Más elefantes y menos gobernantes”, numa referência à recente viagem do rei de Espanha para caçar elefantes no Botsuana. Em Sevilha, a marcha foi recebida com aplausos por centenas de pessoas que lotavam a praça da encarnação. Na Andaluzia, além de Sevilha, houve manifestações em Málaga e Almeria.
Desgaste do governo Rajoy
As gigantescas manifestações do 12 M em Espanha comprovam o desgaste do governo de Mariano Rajoy, cujo partido, o PP, já recuou 7,5 pontos percentuais nas sondagens em apenas 6 meses de governo. As medidas que vem adotando para cumprir a receita de austeridade da União Europeia esta a traduzir-se no aumento do já elevadíssimo índice de desemprego de quase 25%, na perda das casas por parte das famílias que não conseguem pagar o financiamento à banca e nos recentes ataques à educação.
Em 10 de maio, os alunos das universidades públicas de Madrid passaram a noite em algumas das faculdades para preparar a greve e as manifestações desse dia, em protesto contra o aumento de até 540 euros das propinas. Dezenas de concentrações de estudantes, professores e pais foram realizadas em Madrid, Barcelona e Santiago de Compostela contra os cortes na educação determinados por Rajoy, que pretende que os governos autonómicos cortem 3 mil milhões de euros no ensino já a partir do próximo ano letivo. Além do aumento nas propinas, o governo quer também endurecer as penalizações impostas aos alunos que repetirem, que poderiam chegar a assumir 100% do valor calculado pelo curso, entre 5 mil e 7 mil euros, segundo estimativas do próprio ministério.
A Primavera Global prossegue até 15 de Maio, quando o movimento dos indignados espanhóis completa um ano.