Apesar da brutalidade das medidas de austeridade que estão a ser impostas à maioria do povo português, vários dados
demonstram que, ao contrário do que nos querem fazer acreditar, estes sacrifícios não nos tiram da crise e arrastam milhares de portugueses para a pobreza.
Neste início de ano, o governo já admitiu a necessidade de, durante o ano de 2012, tomar novas medidas de austeridade. Exemplo disso é que já se equacionam novos aumentos das taxas moderadoras para o final do ano que agora começa. Isto porque o Compromisso de Défice com a Troika de 2011 foi garantido pela medida “cosmética” da transferência do fundo de pensões dos bancários para a Segurança Social. No entanto, esta medida aumenta o défice para o ano de 2012, acrescentando ao Orçamento o pagamento pela Segurança Social das pensões dos bancários. Para compensar este desvio orçamental, o governo propõe-se a vender património e a tomar medidas de austeridade adicionais.
Já o Banco de Portugal, em relatório recente, estima que a recessão vai ser de -3,1%, um valor superior ao previsto no OE2012, enquanto a OCDE aponta para -3,2%. O Banco de Portugal afirma ainda que provavelmente a recessão real será ainda superior a esta estimativa. Já as previsões para 2013 são de uma estagnação (0,3%) no melhor dos casos, sendo bastante provável, todavia, a continuação da recessão.
Segundo o governo, o pagamento da divida obriga à austeridade e aos sacrifícios. Mas fica cada vez mais claro que essa austeridade, além de não ser para todos (os ricos continuam a fazer grandes lucros e os pobres mais sacrificios), alimenta a recessão, não garante o pagamento da divida (cujos juros crescem constantemente) e obriga a novas medidas de austeridade, que vão gerar mais recessão.
Esta é a situação que a Grécia já vive hoje: aprofunda-se a recessão (-5% já em 2011) e a divida do país continua a aumentar. É a pior situação no país desde a 2ª guerra mundial. Apesar de todas as medidas de austeridade (já se coloca a hipótese da redução do salário mínimo de 600€ para 450€), está clara a impossibilidade da Grécia pagar a dívida. A troika já está, por isso, a discutir uma reestruturação da divida grega, ou seja, aceitar que uma parte da divida não seja paga, para garantir que o país continua a pagar a divida aos credores internacionais. Ao mesmo tempo, cresce a “divida social” grega, com o desemprego oficial nos 18,8% e a pobreza atingindo 20% da população. Expressão da catástrofe social em curso é o aumento do número de crianças abandonadas por motivos económicos e do número de suicídios.
Está claro que os sacrifícios e a austeridade que o governo nos pede não nos tiram da crise e, pelo contrário, levam-nos para o mesmo cenário de barbárie social que já vive a Grécia hoje.
Clara Sousa