Montenegro – Fuga à responsabilidade, Governo fragilizado

Luís Montenegro continua sem assumir responsabilidades no caso da (sua) empresa Spinumviva e aos dados que se têm vindo a descobrir. A cedência de quota à sua mulher é juridicamente inválida, por exemplo. Não se conhecem funcionários nem gestores à Spinumviva para além do núcleo familiar do primeiro-ministro. Agora Montenegro afirma que cedeu a empresa aos filhos. Mas Montenegro não continua a ser o dono? É óbvio que sim. Ele não quer abdicar para si e para os seus, o salário de primeiro-ministro mais as avenças.

O conflito de interesses existe. Todas as justificações apresentadas por Montenegro nas suas declarações são frouxas. Estas declarações acabam por cair em saco roto, com a sua tentativa de gerar uma moção de confiança, sem ter assumido conflito de interesses ou qualquer responsabilidade no caso.

“Não pratiquei nenhum crime nem tive nenhuma falha ética por isso.” “Nunca cedi a nenhum interesse particular face ao interesse público e geral” (Montenegro). Mas esse é um dos problemas. A sua empresa familiar recebe 4500 euros por mês do grupo Solverde, cuja actividade principal está dependente de uma concessão do Estado. Se Montenegro foi (ou é) o sócio maioritário da sua empresa, então aquilo que temos na prática é um primeiro-ministro a ser pago por empresas privadas no exercício do seu cargo. Não se conhecem funcionários nem gestores à Spinumviva para além do núcleo familiar do primeiro-ministro. Aqui o que parece é: a empresa em causa, de nome Solverde, paga-lhe para garantir atempadamente (e há vários anos) para este político e o seu partido, os favoreça aquando da atribuição de concessões.

Claro que há falhas éticas enormes: antes de se sentar à mesa do Conselho de Ministros, Montenegro já estava comprometido com interesses privados. O capital continua a ser representado nos governos, atualmente no governo PSD/CDS. Sabemos que os governos, tal como afirmam os estudos marxistas, em sociedade burguesa, estão sempre ao serviço dos poderosos, dos capitalistas e das grandes empresas. Este caso de Montenegro é um bom exemplo disso. De que nos admiramos quando se descobre que o primeiro-ministro é pago com avenças de uma empresa privada? Quem é que eles iriam financiar? Um revolucionário? Ou um defensor do sistema?

Uma vez no poder, só se esperava que Montenegro ajudasse a manter os negócios dos casinos nas mãos dos mesmos de sempre. Os capitalistas a protegerem-se a eles próprios com a eleição de figuras governativas. Montenegro está politicamente ferido.

A sua integridade ético-política não existe. O primeiro-ministro, que se quis vender como um líder credível e confiável, está profundamente fragilizado. Em vez de assumir responsabilidade, parece preferir colocar-se no papel de vítima. Não podemos ter confiança neste Governo nem neste chefe de governo.

O que Montenegro está a contar é que ninguém, talvez excepto o Chega, estejam interessados em deitar abaixo o governo, mas somente queimá-lo em lume brando. O PSD sabe disso, e por isso mesmo, ele não se demite, pelo menos por agora, e espera que o clima económico favorável (por enquanto também) ao país, lhe permita ainda renovar a sua maioria em futuras eleições antecipadas, mais prováveis após as presidenciais.

À esquerda, do PS ao BE, do Chega ao PAN, todos a braços (uns mais outros menos) com graves crises intestinas, todo este lamaçal ao redor de Montenegro, lhes ‘caiu que nem ginjas’ como diz o povo. De repente já não se fala, das mulheres despedidas do BE, não se fala das incongruências do Pedro Nuno Santos e nem sequer dos roubos de malas, deputados pedófilos, etc, tudo no partido que iria limpar Portugal. A Europa, se é que há uma Europa (na verdade há várias) a braços com crises várias, e entre elas, a guerra na Ucrânia e a aprender a lidar com um “chefe” do mundo meio tresloucado. A resposta desta suposta Europa é gastar mais dinheiro para armamento e colocar-nos ao borde de novas guerras agora eventualmente do ‘lado de cá’.

O MAS é contra os 5% dos orçamentos de Estado para armamento e guerras actuais ou futuras, o MAS é contra a extrema-direita, mas a solução não está nos mesmos de sempre, nos partidos do centrão, dos PS e PSD de Portugal e outros semelhantes por essa Europa fora, que durante anos permitiram a deslocalização de empresas, despedimentos em massa e que prosseguem quer em França, quer na Alemanha e em muitos outros países europeus.

O problema não está entre escolher por Bidens, Costas, Venturas, Montenegros, Putins, o problema é sistémico, só uma alternativa verdadeiramente anti-sistémica pode apresentar alternativas de paz, de emprego e de proteção dos mais desfavorecidos, da manutenção e reforço dos hospitais públicos, da escola pública (fim das propinas) e até do reforço da natalidade e igualmente o reforço das reformas para os idosos. Também para as novas gerações, são urgentes novas políticas que reforcem o seus salários e carreiras permitindo evitar a permanente fuga para a emigração.

O futuro para as novas gerações, para os jovens, não pode ser enfrentar o cenário de novas guerras, ditaduras fascistas e miséria generalizada, que será o destino da Europa (e não só) se continuar a assistir em sucessivas eleições à chegada ao poder das diversas extremas direitas mais reacionárias e retrógradas. A solução terá de surgir em nova esquerda. O MAS está empenhado nessa tarefa e será parte dela.

Anterior

A moção de censura do Chega: um truque político sem consequências reais