O partido neo fascista Chega, liderado por André Ventura, apresentou recentemente uma moção de censura ao governo, num movimento que parece mais um golpe de teatro do que uma verdadeira iniciativa política com intenção de mudar o panorama governativo. Esta jogada, previsivelmente condenada ao fracasso (daí ele já ter colocado a hipótese de não a apresentar), surge num contexto muito particular e com objetivos que vão além da simples (e fingida) oposição ao atual governo.
1. Desviar as atenções dos escândalos internos
Nos últimos dias, o Chega tem sido alvo de notícias negativas relacionadas com os comportamentos de alguns dos seus deputados. Desde polémicas com declarações controversas até às acusações de roubo e pedofilia, situação “contraditória” com a imagem pública que o CHEGA defende, o partido viu-se envolto em escândalos que fragilizam claramente a sua (falsa) imagem junto do eleitorado. Assim, a moção de censura surge como uma cortina de fumo para desviar o foco mediático e afastar as manchetes dos seus problemas internos.
2. Fingir que é a única oposição
Ventura tem-se esforçado para se apresentar como o único verdadeiro opositor ao governo da AD, liderado Luís Montenegro. A moção de censura encaixa-se nesta estratégia, permitindo ao Chega ocupar o centro do debate político e reforçar a ideia de que apenas este partido enfrenta o atual governo com determinação. É uma tentativa de se diferenciar de outros partidos da direita tradicional e da esquerda parlamentar, projetando uma imagem de (um falso) combate solitário contra o “sistema”. Tudo isto na ausência de uma esquerda revolucionária representada no parlamento, pois se ela já existisse outra seria a realidade actual diante a demagogia chegana permanente.
Além disso, a moção de censura recai sobre questões como a habitação e a lei dos solos, e supostas incompatibilidades de Montenegro, um tema sensível para os trabalhadores portugueses. No entanto, há uma contradição gritante: Ventura votou favoravelmente ao lado do governo para a legislação que agora critica, mostrando que sua preocupação é mais oportunista do que genuína.
3. Mudar o debate e responsabilizar o PS
A moção de censura está condenada ao fracasso desde o início. O Chega sabe disso, mas a intenção nunca foi realmente derrubar o governo. O verdadeiro objetivo é influenciar a agenda política e mudar o foco das discussões, ao mesmo tempo em que Ventura tenta responsabilizar o PS (e todos os outros partidos que eventualmente recusarem aprovar a sua falsa moção de “censura”) por manter um governo que supostamente não serve os interesses da larga maioria dos trabalhadores portugueses.
Ao apresentar uma moção de censura sem possibilidades de aprovação, o Chega constrói uma narrativa em que os outros partidos se tornam “cúmplices” do governo. Esse discurso permite ao partido reforçar sua posição como (uma falsa e) única alternativa “credível” ao “sistema estabelecido”.
4. Manter a relevância para as presidenciais, e acima de tudo, para eventuais legislativas antecipadas
A um ano das eleições presidenciais, André Ventura precisa de se manter no centro do debate público e evitar uma queda na sua popularidade. Apresentar esta moção de censura é uma forma de garantir exposição mediática, manter a militância mobilizada e reforçar a sua imagem de suposto opositor “implacável”. A moção é, portanto, parte de uma estratégia maior que visa consolidar Ventura como candidato competitivo nas presidenciais, onde precisará de um forte apoio popular para tentar uma votação significativa. E daí está com o olho numas eventuais e prováveis eleições legislativas antecipadas, dado ser provável que o PS e o Chega venham a votar contra uma proposta de OGE, após as presidenciais de janeiro de 2026.
Conclusão
A moção de censura do Chega é um exercício de puro oportunismo político. Não se trata de uma tentativa real de alterar o rumo do governo ou de oposição, mas sim de um movimento estratégico para desviar atenção dos escândalos internos, reforçar a narrativa de Ventura como suposta e única oposição e preparar terreno para as próximas eleições presidenciais (e as eventuais legislativas antecipadas em 2026). Em resumo, um “coelho” tirado da cartola sem impacto real no funcionamento do governo, mas com claros objetivos políticos e eleitorais.
Os trabalhadores devem retomar as suas mobilizações contra as políticas do actual governo, dado que as rendas de casa (e o acesso à habitação) continuam pela hora da morte, o salário mínimo e médio das classes trabalhadores são dos mais baixos da UE e uma inflação que aumentou brutalmente os preços dos produtos mais necessários para um nível insuportável. O que faz falta é a reconstrução de uma nova esquerda combativa e revolucionária que seja uma verdadeira alternativa anti-sistémica, pois com a direita tradicional no poder e no futuro com uma eventual coligação de direita com a extrema-direita, colocaria o país de novo num regime precisamente mais autoritário e ditatorial semelhante ao que já viveu, quase meio século, no século passado.