A passagem dos 10 anos do atentado às torres gémeas do World Trade Center foi lembrada pelos meios de comunicação do mundo inteiro. O governo dos Estados Unidos promoveu uma cerimónia, com a presença de Obama e George W. Bush, no Marco Zero, situado na cratera que ficou depois da queda dos edifícios. As homenagens foram tele-visionadas para todo o mundo com o objetivo evidente de capitalizar o acontecimento para o imperialismo e levantar de novo o “fantasma” da ameaça terrorista.
Nos milhares de cadernos especiais, artigos e programas de TV dedicados ao tema, o 11 de setembro de 2011 foi caracterizado de diferentes maneiras, desde como o “evento que definiu o início do século 21” até como uma “guinada histórica”, lembrando a “guerra ao terror” e a invasão do Afeganistão e do Iraque. Outros analistas enfatizaram o “declínio do império americano”, as guerras que se arrastam e a crise económica, chegando até mesmo a dizer que “Bin Laden venceu”. Mas, para os trabalhadores e os povos oprimidos de todo o mundo, qual o real significado do 11/09?
Os atentados: um pretexto para uma “guerra contra os povos”
O aspeto fundamental dos atentados que derrubaram as torres gémeas foi sua utilização pelo governo de George W. Bush para desencadear, sob o pretexto de “guerra contra o terror”, uma verdadeira “guerra contra os povos”, tentando principalmente controlar os países produtores de petróleo e as vias de acesso a eles. Foi essa a verdadeira razão para o ataque ao Afeganistão, via de acesso fundamental ao petróleo da Ásia Central; e ao Iraque, país que detém a segunda maior reserva mundial do produto; e do apoio do governo norte-americano à tentativa de golpe contra Chávez em 2002.
O imperialismo tentou ir mais além: desencadeou uma ofensiva não só militar, mas política, ideológica e económica, substancializada, por exemplo, nos Tratados de Livre Comércio, como a ALCA, com o objetivo de submeter e saquear as riquezas dos países explorados.
Os atentados de 11/09 foram tão úteis para esses propósitos que há evidências de que o governo de Bush, informado pela CIA e pelo FBI, tinha conhecimento dos preparativos da Al Qaeda e não tomou nenhuma medida, deixando correr os acontecimentos e se aproveitando das repercussões do fato.
Não é à toa que o próprio Bush chamou os atentados de “o Pearl Harbor do século 21”, comparando-os com o ataque do Japão aos Estados Unidos em 1941. Cabe o paralelo, já que hoje está comprovado que o ataque japonês era conhecido com antecipação por Franklin Delano Roosevelt, presidente norte-americano na época, que também não tomou nenhuma medida e o utilizou como pretexto para justificar a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
Foi a resistência das massas que colocou em crise a ofensiva imperialista
Não há dúvida de que o atentado de 11/09 teve enorme repercussão, não só porque o imperialismo o utilizou, mas porque a ação se prestava a isso, já que se deu na principal cidade do mundo, centro do país mais poderoso da Terra e contra um dos símbolos do capitalismo.
No entanto, interpretações que partem do ponto de vista de que um atentado terrorista possa ser o fator determinante para definir guerras, crises económicas e o declínio do país imperialista mais forte do mundo são mecânicas, simplistas e até ridículas. Têm como base uma conceção da História da humanidade definida por atos de indivíduos ou grupos, sejam conspirativos, traiçoeiros ou heroicos. Não passa de uma tentativa da classe dominante e seus ideólogos de encobrir os poderosos movimentos das classes em luta e das contradições na base da economia mundial.
A verdade é que os acontecimentos posteriores ao 11/09 foram definidos no terreno da luta de classes mundial. Foi a resistência armada dos povos iraquiano e afegão que provocou milhares de baixas nas Forças Armadas dos Estados Unidos, as mais poderosas do mundo. Depois de anos de guerra e desgaste, o governo Obama teve que decretar a retirada das tropas norte-americanas desses dois países. E mesmo esta saída ainda é parcial. Os Estados Unidos se encontram “atolados” em uma terrível contradição: têm que sair, mas não podem permitir que a resistência afegã, encabeçada pelos talibãs, saia vitoriosa, ou que o débil governo de Maliki no Iraque seja derrubado.
Posteriormente, a crise económica mundial, que continua atingindo especialmente os países imperialistas – Estados Unidos, Europa e Japão –, desenvolveu-se a partir das contradições internas do capitalismo mundial (a queda da taxa de lucro, o crescimento vertiginoso do capital financeiro especulativo), agravadas pelos enormes gastos com o orçamento militar despendido nas guerras.
A solução do imperialismo, depois de algum tempo, vem sendo a “clássica” saída capitalista para as crises: fazer com que os trabalhadores arquem com os sacrifícios, por meio do desemprego, da perda de conquistas e dos cortes nos orçamentos sociais dos governos.
Até agora, vem conseguindo impor seus planos, porque conta não só com a ajuda de governos “progressistas” e “nacionalistas” submissos, como também com a colaboração de burocracias sindicais e políticas no mundo inteiro que ajudam a impor os planos em troca de migalhas da mesa dos grandes capitalistas. Os Estados Unidos, apesar da crise e de sua decadência, continuam e continuarão a ser o império central, não só por sua enorme hegemonia militar e superioridade tecnológica, mas também porque não há um concorrente à vista.
Os únicos que podem mudar essa situação são os trabalhadores e os povos explorados do mundo inteiro. As grandes ações de massas que vêm ocorrendo em todo o mundo são uma demonstração disso, principalmente dos trabalhadores europeus e dos jovens “indignados”, que vêm resistindo aos planos do imperialismo, lutando por sua sobrevivência e acelerando a decadência do monstro.
A Revolução das massas árabes é o verdadeiro protagonista da História
Dez anos depois do 11 de setembro, é a revolução das massas árabes contra seus regimes ditatoriais capitalistas e pró-imperialistas, e não o terrorismo, que assume o lugar de protagonista da História. Foram os trabalhadores, jovens e desempregados do Egito, Tunísia, Síria, Iémene e Líbia que saíram às ruas e deram suas vidas para derrubar regimes odiados. A Al Qaeda e outros grupos terroristas, que há dez anos tentavam capitalizar o ódio das massas árabes contra o imperialismo dos Estados Unidos, não desempenharam nenhum papel na Revolução Árabe.
A explicação é simples. Quando milhões de pessoas tomam seus destinos nas próprias mãos e lutam por eles, as ações isoladas e desesperadas de pequenos grupos são totalmente eclipsadas por estes grandiosos acontecimentos que constituem as Revoluções. Por mais que, curiosamente, o imperialismo tente ressuscitar a ameaça terrorista, a maior lição do 11/09 é que nada pode substituir a ação revolucionária e a auto-organização da classe trabalhadora e das massas populares.
Bernardo Cerdeira – Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)