AMEAÇAS AO PARQUE NACIONAL PENEDA-GERÊS

/

Nos últimos dias, a tranquilidade bucólica do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) – a única área protegida em Portugal com estatuto de Parque Nacional – tem sido perturbada com duas notícias preocupantes que mostram a forma como a protecção da Natureza é vista no nosso país.

Se por um lado, o Município de Terras de Bouro avançou com obras que irão de forma irremediável alterar a paisagem de uma das zonas mais emblemáticas do PNPG, supostamente em nome da segurança, por outro, e num legado deixado pela anterior governação do Partido Socialista, pretende-se cobrir duas áreas de albufeira no parque nacional com centenas de painéis solares.

Num projecto que somente agora teve o aval da tutela, com a alteração de Governo preconizada nas últimas eleições legislativas, e que recua a – pelo menos – 2022, o Presidente da Câmara de Terras de Bouro, militante do PSD, avançou com um projecto que visa instalar “um miradouro, gradeamento, um cordão de segurança para os banhistas, uma estrutura metálica de acesso e espaço para estacionamento…” numa zona denominada Fecha de Barjas (ou Cascata de Vázeas), Ermida – Vilar da Veiga.

Esta zona atrai milhares de turistas todos os anos por altura do verão e todos os anos, apesar dos avisos constantes e existentes no local, ocorrem acidentes por descuido, alguns deles que já resultaram em mortes.

Numa decisão de má gestão turística, a promoção do território aponta para a convergência excessiva do turismo para as zonas balneares no interior do Parque Nacional, levando a um excesso de carga nessas mesmas zonas e, consequentemente, para um aumento da sinistralidade que, de facto, deve ser combatida. Os acidentes acontecem um pouco por todo o lado, mesmo na albufeira da Barragem da Caniçada onde abundam os «desportos» motonáuticos, todos os anos surgem notícias de ocorrências que terminam no hospital.

No entanto, e no caso específico da Fecha de Barjas que levou ao protesto de associações ambientais e de inúmeros visitantes do PNPG, o Município de Terras de Bouro respondeu laconicamente com um “quem manda em Terras de Bouro são os terrabourenses,” prosseguindo com os seus planos sem atender às solicitações feitas.

Se a segurança deve ser uma prioridade nos diversos locais de turismo, a construção de uma estrutura metálica (miradouro) e de um passadiço de acesso, bem como o aumento dos lugares de estacionamento irá ter o efeito (sem dúvida desejado pelo município) de aumentar a afluência de visitantes ao local, visitantes esses que posteriormente quererão descer à cascata. O aumento de visitantes irá consequentemente fazer aumentar o número de ocorrências devido ao espaço limitado disponível. De notar, que todos os acidentes naquela zona ocorreram no leito do rio e é aqui onde a obra se deveria centrar.

A solução ideal passaria pela construção de um acesso em segurança à zona balnear, aliás como em tempos um particular construiu, tendo sido esta obra embargada e posteriormente destruída. A construção do miradouro é apenas um capricho que irá alterar de forma irremediável a paisagem daquele lugar e de forma alguma aumentar a segurança de quem visita o local.

O «respeito pela Natureza» é, acima de tudo, um respeito por nós próprios, é sabermos os nossos limites físicos e mentais e até que ponto estamos dispostos a correr os riscos que a montanha ou que um ambiente selvagem e desconhecido nos impõe. Esse desconhecimento e esse desrespeito leva ao acidente, acidente esse que acontece em muitos aspectos do nosso quotidiano.

Painéis solares em albufeiras

Numa herança do secretário de Estado adjunto e da Energia, João Galamba, e a secretária de Estado do Ambiente, Inês Santos Costa, da anterior governação do Partido Socialista, foram lançados através de leilão pelo Estado, dois projectos de centrais solares e eólicas no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Estes são projectos que violam o Plano de Ordenamento do PNPG e que terão um impacto ambiental profundo na zona.

Os dois projectos preconizam a instalação de 44.000 painéis solares nas albufeiras das barragens de Paradela e de Salamonde, e de cinco eólicas no limite da área protegida. Além disso, o projecto conta ainda com a construção dos respectivos acessos rodoviários e de torres de alta tensão, o que compromete a integridade ecológica e paisagística do parque nacional.

O Plano de Ordenamento do PNPG refere a interdição da “instalação de infra-estruturas de produção de energia eléctrica, excepto, no caso de recursos hídricos ou eólicos, em sistema de microprodução, ou, no caso de recursos hídricos, no troço já artificializado do rio Cávado que constitui limite administrativo do Parque Nacional da Peneda-Gerês”.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas ainda não se pronunciou sobre este tema e a Agência Portuguesa do Ambiente mantém-se estrategicamente silenciosa. Segundo a empresa Finerge, vencedora do concurso, “a electricidade produzida nas duas albufeiras poderá ser vendida por duas vias: “em mercado organizado ou através de contrato bilateral; e através de participante no mercado que preste serviços de agregação da produção”. Em troca, é exigido o pagamento de uma compensação fixa ao Sistema Eléctrico Nacional (SEN).” Resumindo, as populações locais, directamente afectadas por estes projectos, não irão beneficiar em nada, pois a energia será destinada aos grandes centros urbanos.

Anterior

INGLATERRA: ATOS RACISTAS E A RESPOSTA DA SOCIEDADE – COMO ENFRENTAR A EXTREMA-DIREITA

Próximo

As causas da crise no SNS