Em 28 e 29 de Março, realizaram-se eleições no SBSI/Mais Sindicato. Disputando a direção e demais órgãos do sindicato, voltou a apresentar-se lista de alternativa sindical. Desta vez, a oposição sindical democrática e combativa apresentou-se sob a sigla Novo Rumo, unindo os ativistas do MUDAR a outros ativistas que se têm oposto à desastrosa política da coligação PS/PSD.
A lista Novo Rumo (lista B) candidatou-se aos corpos gerentes (Mesa da Assembleia Geral e Direção Sindical) e obteve 40% dos votos, o que significa 3682 votos (mais 900 votos em relação à eleição de 2019). Quanto à lista dos TSS/TSD, a ‘coligação do centrão’, obteve o escrutínio de 5687 votos (menos 400 do que em 2019).
Note-se que esta eleição, para um universo de 33.434 sócios, é realizada por ‘votação eletrónica’, durante um largo período de 42 horas seguidas (no Brasil 12 horas são suficientes para o voto de 180 milhões de eleitores). Acresce que quem controla o processo de votação é a Mesa da Assembleia Geral (MAG) e não a Comissão Eleitoral. A MAG é composta pelos candidatos da lista A (os que estão na direção), e os membros da MAG têm acesso ao sistema informático do processo eleitoral e foram eles que operaram na emissão dos pin’s (códigos para votação), o que retira democraticidade e transparência ao processo eleitoral e permite a ‘produção’ de votos, o que a lista B suspeita ter acontecido, pelo que apresentou recurso em relação ao acto eleitoral.
Apesar de diversos constrangimentos, as listas Novo Rumo / Mudar de Rumo apresentaram-se nas secções sindicais das principais regiões e bancos. No BCP, no BST, na Interempresas (agrupa vários bancos), na secção dos Reformados, na região de Setúbal, Torres Vedras, Santarém, Tomar, Évora e Beja. Estas candidaturas abrangeram localmente 25.500 sócios dos 33.434 sócios que integram a totalidade das secções do sindicato.
Nas maiores secções, Reformados (12685 sócios) e Setúbal (4307 sócios) a lista B venceu com maioria absoluta, o que se repetiu também noutras secções como Tomar, Ponta Delgada e Horta (Açores), e na Secção Interempresas.
O crescimento eleitoral da lista alternativa e a expressiva vitória nas maiores secções do sindicato, são um bom indicador das possibilidades futuras para melhorar a organização dos activistas para as novas lutas.
Os trabalhadores bancários perderam 22,7% do seu poder de compra só nos últimos sete anos. Também perdemos o contrato coletivo histórico quando todas as direções sindicais aceitaram o ‘contrato’ proposto pelos banqueiros, concretizando uma das maiores traições aos direitos dos trabalhadores.
Em 2016, os bancários perderam as grandes conquistas ainda anteriores a 1974, conquistas conseguidas nas grandes lutas de 1970 a 1973. Conquistas como a carreira profissional, a estabilidade dos postos de trabalho e a defesa do emprego foram perdidos em 2016 e, com as ‘mãos livres’, os banqueiros despediram milhares de bancários nestes últimos anos.
Os sindicatos não só nada fizeram para mobilizar os bancários como até se opuseram ativamente às mobilizações que alguns ativistas sindicais e a Comissão de Trabalhadores do Santander Totta organizaram contra os despedimentos.
O enfraquecimento da contratação coletiva, as permanentes cedências e a subserviência das direções sindicais dos TSS e TSD perante os banqueiros, levou também a uma perda de capacidade de financiamento dos serviços de saúde, o SAMS.
Neste momento verificamos uma grave situação na classe bancária, sem organizações sindicais capazes de ação reivindicativa, com os trabalhadores entregues a si próprios, sem confiança na luta sindical, mantendo-se filiados nos sindicatos pelos serviços de saúde (o SAMS) e sujeitos a uma vida laboral infernal pelos ritmos de trabalho alucinantes, sujeitos a enorme assédio laboral e a permanentes ameaças de despedimentos.
Quanto ao SAMS, no principal sindicato, agora batizado de MAIS Sindicato (antigo SBSI), verificamos uma situação deficitária há vários anos consecutivos e que questiona a sua sobrevivência futura como um serviço que foi construído pelos bancários para os beneficiar em cuidados de saúde.
Os burocratas carreiristas que se apoderaram dos corpos gerentes do MAIS Sindicato, privilegiam as suas mordomias (e mesmo negócios próprios) em detrimento da sustentabilidade do sindicato e do SAMS. Preocupam-se em agradar aos banqueiros e em dissuadir os bancários da possibilidade de lutarem. Na recente onda de destruição de emprego nos grandes bancos, BCP e Santander Totta, era ver os ‘dirigentes sindicais’ a dizerem aos trabalhadores que o melhor era aceitarem as ‘rescisões’ por que as indemnizações até eram ‘superiores à lei’ (dos despedimentos…). Com este tipo de gente a gerir sindicatos, os banqueiros nem precisam de se esforçar muito a despedir bancários para os substituir por ‘outsourcings’ em salário mínimo.
Há alternativa para salvar o Sindicato e o SAMS
As recentes lutas e mobilizações no setor da Educação, refletem uma reorganização do movimento sindical após décadas de sindicalismo de capitulação aos poderes e de sucessivos retrocessos nas condições de vida dos trabalhadores e dos seus direitos laborais.
Há décadas que perdemos direitos contratuais, que a precariedade aumenta, que o poder de compra dos salários diminui de geração a geração. A habitação que uma geração anterior conseguiu adquirir a partir dos seus salários, hoje é uma miragem para a geração dos salários mínimos que só consegue habitação partilhada nos subúrbios.
Foi neste contexto que se ergueu uma alternativa eleitoral que reuniu o MUDAR com mais alguns setores locais e regionais de oposição à atual direção da coligação TSS/TSD que nos bancários e na UGT continuam unidas na tentativa de impedir a necessária mudança que os bancários precisam para verem os seus direitos defendidos e para conseguirem fazer frente à continuada ofensiva que os banqueiros e as suas Administrações têm feito para subjugar e explorar as dezenas de milhares de trabalhadores da banca (sejam eles os bancários abrangidos pelo ACT Bancário, sejam eles os milhares de outsourcings que garantem a atividade dos bancos e estão desprovidos de direitos contratuais).
É preciso mudar o movimento sindical bancário. Mudar para mobilizar os trabalhadores e repor uma contratação coletiva com direitos para todos os que trabalham na banca. Mudar para defender a continuidade do SAMS ao serviço dos trabalhadores bancários. Mudar para defender que a banca tem de estar ao serviço do público (e dos trabalhadores que são a imensa maioria) e não dos interesses dos ‘accionistas’, muito deles de grupos capitalistas estrangeiros.
É nesta luta que os bancários do MAS e o movimento MUDAR estão empenhados.