por Miguel Lamas, dirigente da UIT-QI
O Sri Lanka é hoje o ponto mais agudo da crise capitalista mundial. No dia 9 de julho, uma gigantesca manifestação com centenas de milhares de pessoas, advindas de todo o país, tomou a residência presidencial. Outros milhares incendiaram a residência do primeiro-ministro. Ambos haviam fugido para se esconder em bases militares, anunciando suas renúncias. O presidente Gotabaya Rajapaksa fugiu do país em um avião militar, durante a madrugada do dia 13/07.
A enorme multidão chegou à capital, Colombo, convocada pelos sindicatos. Muitas e muitos fizeram o percurso através de marchas a pé, que duraram vários dias, porque quase não há transportes e nem combustíveis na ilha. A grande rebelião popular já dura mais de três meses, com greves gerais e manifestações massivas. A mesma iniciou-se no dia 31 de março, convocada por sindicatos de trabalhadores, organizações camponesas e estudantis, diante do desastre econômico vivido pelo povo trabalhador.
A crise capitalista internacional aumentou o preço dos alimentos e combustíveis; a dívida externa com a China, Europa e Estados Unidos tornou-se impagável, enquanto os capitalistas destinam seus dólares para fora do país. O Estado ficou sem divisas (uma situação conhecida na Argentina), fazendo com que, nos últimos meses, não tenha como comprar combustíveis e nem outros produtos de importação. Os transportes públicos pararam de funcionar, a nafta não é comercializada, cortou-se a eletricidade e o gás e há carência de medicamentos básicos. Muitos trabalhadores foram demitidos ou suspensos sem salários.
O Sri Lanka é uma ilha de 65 mil km², localizada ao sul da Índia, com 22 milhões de habitantes. Além de suas tradicionais exportações agrárias de chá, coco, óleo de coco e arroz, converteu-se, nos últimos vinte anos – assim como outros países asiáticos -, em um grande exportador têxtil, com empresas associadas às multinacionais, com mão de obra baratíssima. Hoje a chamam de “a fábrica mundial de sutiãs”. Antes da atual crise e inflação aguda (similar à da Argentina) e desvalorização da rupia (moeda local), as operárias e operários têxteis (350 mil) ganhavam 62 dólares mensais, valor que é ainda menor hoje.
Segundo a constituição, esta semana o Parlamento deveria nomear um novo presidente interino. Dirigentes anunciaram que não irão à casa de governo até que Rajapaksa saia do poder. Outros afirmaram que não apenas exigem a queda dos atuais governantes, mas que é necessária uma mudança total do sistema político e outro plano econômico, que proteja o povo. Nós, da UIT-QI, saudamos essa grande rebelião popular. Consideramos que somente um governo dos sindicatos de trabalhadores e das organizações camponesas e populares que lideraram a rebelião poderá tomar as medidas econômicas de fundo para salvar o povo desse desastre capitalista.
Este artigo foi traduzido do original em espanhol.