Não queremos um futuro minado

Não minem as nossas vidas! O Lítio não é solução!

O anúncio da presença de lítio no subsolo do país, há uns anos atrás, foi feito com pompa e circunstância. O Governo PS deu luz verde à exploração de lítio, em Novembro de 2018. Nos últimos anos, foram vários os pedidos de exploração, e um quarto dos municípios do país correm sérios riscos de ter o seu território profundamente deformado. As regiões alvo são essencialmente: Minho, Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior.

O “Ouro Branco” ou “Petróleo Branco”, como recentemente é designado este metal, é o elemento essencial das actuais baterias dos veículos eléctricos. Com as metas de descarbonização fixadas na cimeira de Paris, este metal ganha importância no mercado mundial. De acordo com o banco mundial, a procura de lítio vai disparar 965%. O projecto do Governo PS é criar um “cluster” de lítio no país. A Galp, através do seu CEO, Andy Brown1, já fez saber que está interessada no processamento de lítio. A Bosh e a Prio2 também se mostraram interessadas na fabricação de baterias. As potências da UE vêem com bons olhos a mineração portuguesa, uma vez que vão necessitar de grandes quantidades de lítio na Europa, sem acarretarem com as consequências da mineração no seu território.

De todos os pedidos de exploração, aquele que se encontra em fase mais avançada é o da empresa Savannah (inglesa) que pretende explorar a Mina do Barroso, situada nas freguesias de Dornelas e Covas do Barroso, concelho de Boticas. O único estudo de impacte ambiental (EIA), sobre esta mina, foi feito pela própria empresa Savannah, demonstrando a cumplicidade do Governo PS com a multinacional mineradora. O objectivo da Savannah é iniciar a produção de lítio em 2022 e no ano seguinte já conseguir produzir 30 mil toneladas de lítio3, o suficiente para fabricar meio milhão de baterias eléctricas. As populações locais, desde 2017, têm demonstrado o seu repúdio a este projecto, sob o mote ”Não à mina, Sim à vida”. Estas populações têm-se organizado, conjuntamente com as populações de outros locais onde também está prevista a extracção de lítio. Realizaram-se palestras, protestos, passeatas, manifestações e até um acampamento. A mina de Covas do Barroso será apenas uma entre muitas que o Governo pretende desenvolver no país. Esta solução mostra um enorme paradoxo: “descarbonizar” o planeta, sem evitar a sua destruição ambiental.

Os problemas associados à extracção do lítio são inúmeros: contaminação dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneo, para além do enorme consumo de água; contaminação dos solos e ar; perda de vegetação e biodiversidade em todas as áreas de extracção e zonas circundantes.

Já estão estudadas e testadas alternativas às baterias de lítio. De momento, a que parece ser mais eficiente e sustentável são as baterias de iões de sódio. O sódio, altamente abundante, existe numa proporção mil vezes superior ao lítio. Pode ser extraído da água do mar e as baterias terão uma capacidade de armazenamento e carregamento superior às actuais baterias de lítio, bem como um ciclo de vida mais longo. Para além destas vantagens, nas baterias de sódio não há risco de explosão, ao contrário das baterias de lítio.

O lítio é o “escolhido” para a suposta “transição energética” por representar a melhor solução de negócio. A sua escassez, transforma-o num metal valioso, permitindo um lucro muito maior às empresas que fazem a sua extracção e refinação. Aqueles que nos dizem hoje que a solução é o lítio, são os mesmos que que durante longos anos fecharam os olhos aos alertas dados pela comunidade científica sobre o aquecimento do planeta.

As alterações climáticas ameaçam a humanidade, pelo que a extracção de carvão, petróleo e gás deve cessar imediatamente e ser substituída por energias ambientalmente sustentáveis. É necessário investimento num plano de transportes colectivos e públicos, ambientalmente sustentáveis, que permitam circular dentro das cidades, sem condicionamentos de tráfego, e deslocações para fora das cidades mais rápidas e seguras. Só com as indústrias de energia e transporte nas mãos do Estado se pode fazer uma planificação racional de forma a garantir uma verdadeira transição energética sustentável.

O MAS está completamente solidário com as populações que se mobilizam contra a exploração do lítio no país, engrossando as suas manifestações e acções de luta. No entanto, esta luta não é exclusiva das populações directamente afectadas. Esta é uma luta que precisa da mobilização de todos nós. Não há planeta B! Não à mina, Sim à vida!

1 https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/energia/detalhe/galp-em-conversacoes-avancadas-para-erguer-unidade-de-litio

2 https://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/bosch-e-prio-querem-acelerar-nas-baterias-de-litio-e-juntam-se-ao-cluster

3 https://eco.sapo.pt/2020/09/28/savannah-quer-produzir-30-mil-toneladas-de-litio-por-ano-em-portugal-a-partir-de-2022/

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