A pandemia destapou muitos dos problemas sociais que todos sofremos: sistema produtivo dependente do turismo, da especulação imobiliária e dos serviços, sectores pouco produtivos de mão-de-obra indiferenciada, precária e mal paga; serviços públicos descapitalizados, transportes insuficientes e profundos problemas habitacionais. Estes problemas são ainda mais graves entre as mulheres, os idosos e a população imigrante ou descendente de imigrantes, nas zonas periféricas das grandes cidades.
O PS tem sido parte do problema, no governo central e nas autarquias. Somos dos países europeus com menos investimento público, nos últimos anos. Este dinheiro público tem sido canalizado para tapar os buracos financeiros da banca privada. A “bazuca” europeia irá despejar dinheiro no país, mas sem um plano de transformação produtiva, o resultado será sobretudo a manutenção da especulação financeira.
PSD e CDS-PP, desesperados, vão cultivando a polarização social, abrindo espaço à extrema-direita, normalizando o discurso de ódio, racista e xenófobo. PSD e CDS-PP estão ansiosos para chegar ao poder e voltarem a ter acesso aos recursos públicos com os quais sustentam os seus partidos e clientelas políticas. Nem que para isso tenham de recorrer a vergonhosos candidatos racistas que fazem do discurso de ódio a sua carreira. A oportunista candidatura de Suzana Garcia, por parte de uma ampla coligação da direita, encabeçada por PSD/CDS-PP, à Câmara Municipal da Amadora, é disso exemplo.
Enquanto isso, BE e PCP vão mantendo a política dupla que nos têm habituado nos últimos anos. Ora estão com o Governo PS, ora exercitam a retórica de oposição. A Geringonça sofreu alterações, mas não foi extinta. A geometria da conciliação apenas se tornou mais variável. O PS prefere parceiros reservados e confiáveis, pelo que o PCP granjeou a “honra” da parceria. O BE, ao prever os efeitos da crise, aproveitou para se distanciar do Governo, retomando as exigências que abandonou durante 5 anos, mas sem nunca recusar um regresso aos acordos com o PS. Para a esquerda parlamentar tudo serve para manter a contestação social em níveis mínimos e de preferência sob o seu controlo, permitindo que o PS vá governando.
Afinal, a Geringonça trouxe o reforço eleitoral do PS, mas não o do BE e PCP, pelo que nenhum destes dois tem grande interesse em mobilizações que, eventualmente, pudessem provocar eleições antecipadas. Sem projecto, além do eleitoralismo, BE e PCP limitam-se a servir de ponto de apoio à gestão do PS. Esta é a única forma de evitar o regresso da direita ao poder, dizem-nos. O resultado conjugado de todos estes factores tem sido precisamente o crescimento da extrema-direita.
Sem oposição à esquerda, o Governo PS mantém um relativo prestígio, pelo que se prepara para conseguir renovar os resultados autárquicos de 2017.
O MAS candidata-se às câmaras municipais da Amadora, Barcelos e Coimbra, como oposição de esquerda à governação do PS e às candidaturas racistas e xenófobas da extrema-direita e do PSD/CDS-PP. Como forma de fortalecer candidaturas à esquerda, independentes do PS, entrámos em contacto com outras forças políticas de esquerda, tanto em Barcelos como na Amadora, que acabaram por declinar a nossa proposta. Apenas em Coimbra foi possível manter o bom exemplo de convergência à esquerda, com o independentes, BE, Livre e activistas, independente do PS, através da plataforma Cidadãos Por Coimbra (CPC), da qual o MAS também faz parte desde 2013.
A nossa proposta política tem o objectivo de responder à crise social que a pandemia vai gestando, através de uma transformação produtiva do país e do combate aos poderes instalados, na qual as autarquias devem activamente participar, como forma de alcançarmos um sistema social humanamente digno, ambientalmente sustentável e tecnologicamente avançado.