Sócrates e Alegre em Castelo Branco: um comício que merece registo

No comício de Castelo Branco confirmou-se, mais uma vez, o óbvio: Manuel Alegre não é “o candidato da esquerda” nem serve para “juntar forças”. Em Castelo Branco, Sócrates – o 1º ministro, não o filósofo grego, e, portanto, o dos cortes nos salários, o do desmantelamento do Sistema Nacional de Saúde, o do Governo que injectou dinheiro no BPN – foi mostrar o seu apoio a Alegre, o seu candidato.

 

Em troca, Alegre voltou a dar palmadas nas costas do seu Governo (como era de esperar). Para quem ainda tem dúvidas acerca da ligação Alegre-Sócrates, Alegre não podia ter sido mais claro, segundo este excerto do jornal Público, sobre a presença do primeiro-ministro no seu comício: “Mas precisava desta prova?”, interrogou a repórter da estação televisiva. “Não. Eu não precisava. Os senhores é que talvez precisassem”, afirmou, dizendo depois que as palavras de Sócrates “coincidem” com aquilo que pensa e que os dois discursos [dele e do líder do PS] tiveram “coisas muito parecidas”.

 

“É para mim um momento de grande alegria e de grande alento ter aqui hoje o apoio claro, inequívoco, do secretário-geral do meu partido, o meu amigo e camarada José Sócrates”, dissera Alegre no seu discurso durante o comício de Castelo Branco. Alegre disse ainda que o primeiro-ministro José Sócrates teria sempre o seu apoio pela “coragem e determinação com que está a defender a autonomia e capacidade dos portugueses resolverem por si próprios os problemas”. Ainda segundo a imprensa: “No comício em Castelo Branco, em que o secretário-geral do PS surgiu pela primeira vez junto de Manuel Alegre desde que a campanha eleitoral começou, o candidato fez uma declaração de apoio à forma como José Sócrates tem gerido a questão da crise económica e financeira em Portugal”.

 

Para disfarçar e apresentar um álibi à esquerda para “justificar” a sua colagem ao governo Sócrates, Alegre elege como bicho papão o FMI, passando a falsa ideia de que Sócrates teria uma política independente deste organismo, que estaria a lutar contra a sua vinda a Portugal. Nada mais mentiroso. Sócrates, na verdade, já está a aplicar a política do FMI e, desta forma, ao promover a recessão e ao estimular o jogo especulativo que aumenta a dívida pública, a abrir as portas para a vinda do FMI.

 

É este o candidato da esquerda? Que junta forças? Junta forças com quem? Com Sócrates e com um governo que está a impor um plano de austeridade à medida do FMI e da Comissão Europeia? Um plano que aumenta a pobreza e o desemprego dos portugueses? Que garante milhões ao BPN, à banca em geral e aos grandes empresários?

 

De facto, não é a alternativa que os trabalhadores precisam um candidato que dá a mão a Sócrates num dia e, no outro, dá-la ao Bloco de Esquerda.

 

Alegre nas presidenciais de 2005

 

Manuel Alegre, nas presidenciais de 2005, tinha uma dinâmica diferente, de ruptura com o PS. Aí sim, fazia sentido a tentativa de reunir esforços com sectores “alegristas” e PCP. Essa união, claro, seria em torno de um programa, não fazendo qualquer sentido apoiar-se qualquer candidato sem essa discussão prévia.

 

Porém, a dinâmica de 2005 há muito que se inverteu. Desde o apoio de Alegre a Sócrates no famoso comício de Coimbra, numa tentativa clara de segurar o eleitorado à esquerda, que não há margem para dúvidas: Alegre está de volta à sua casa de sempre.

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