Oh rama do Olival…

Pouco ou nada temos lido e ouvido sobre o que se passa nas terras do Alentejo profundo, tão apreciado por nacionais e estrangeiros pela sua magnífica paisagem a perder de vista e cantado e vivido por poetas.

No entanto, é extremamente preocupante, de todos os pontos de vista, a actual realidade do Alentejo. Toda essa riqueza de terra, paisagem, terreno de múltiplo interesse arqueológico, de cores e formas, está, literalmente, em vias de extinção. E nenhuma entidade governativa está sequer a levantar a voz contra a situação, muito menos a tomar medidas.

A cultura do olival intensivo, acompanhada da cultura do amendoal no mesmo regime, está a deixar a terra do Alentejo despojada de toda a sua capacidade, está a deixá-la estéril.

Este tipo de cultura que está a ser levada a cabo um pouco por todo o território do Alentejo está a causar a total devastação da sua flora e fauna naturais, está a destruir ilegalmente sítios de elevado valor arqueológico, entre estes e citando o “Navegantes de Ideias”, uma necrópole da Idade do Ferro, pontes, aquedutos, villas romanas, “recintos de fossos” da pré-história, todos eles inscritos no Plano Director Municipal (PDM).

Estão em causa 18ha de importantes vestígios, centenas de locais arqueológicos.

As equipas de impacto ambiental registaram 193 ocorrências. Os proprietários foram contactados para “suspender a intervenção para avaliação dos danos e ponderar medidas correctivas”, pois trata-se de um crime. Mas não o fizeram e continuaram a exploração tal como está.

É, de facto, uma exploração super-intensiva de olival e de amendoal. O Alqueva vai esgotar-se muito rapidamente. A ser continuado este tipo de exploração, o Alentejo não terá mais de 20 anos de vida.

Também a partir do blog “Navegantes de ideias”, que cita a Lei constante do site do Ministério da Agricultura, “os compassos a usar dependem da variedade, do solo, da possibilidade da cultura ser ou não regada e do destino a dar à azeitona – azeite ou conserva. Para azeite, devem ser plantadas entre 200 a 300 árvores/ha, devendo as linhas distarem 7mt entre si, para facilitar a colheita mecânica. Para conserva, podemos plantar mais de 300 árvores/ha.”

Mas são mais de 2.000 árvores por hectare para azeite. A plantação do olival, sem surpresas, é subsidiada. Ou seja, andamos a pagar “o fim da planície, a degradação da qualidade do azeite, a poluição; a destruição da fauna, a flora e do património histórico, a existência de escravatura”.

Esta situação já se verifica há algum tempo, no entanto, nada tem sido mencionado nos meios de comunicação social. Também, sem surpresa, se observarmos que estas culturas estão associadas a grandes grupos  económicos com quem, obviamente, o poder não deseja indispor-se.

Existe a possibilidade de reverter esta situação antes da completa destruição mas passaria obviamente por uma mudança radical na forma como as autoridades, governos e outras, lidam com as questões ambientais.

É necessário que toda a população se mobilize contra o atentado que está a ser levado a cabo contra o Alentejo, do Minho ao Algarve.

Sendo este um texto de alerta, este é um tema ao qual voltaremos pela extensão da sua complexidade.

 

Artigo de Alexandra Martins

Anterior

Relatório da CGD: faltam as principais conclusões políticas

Próximo

Ninguém é ilegal! Extrema-direita e neonazis fora de Portugal!