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Deutsche Bank: está algum elefante na sala?


Editorial – 18 de Julho de 2019

 

Deutsche Bank (DB), um dos maiores grupos financeiros mundiais, arrasta um buraco financeiro gigantesco, desde a crise de 2008. Governo e elites alemãs, BCE e UE não o reconhecem publicamente mas está um enorme elefante na nossa sala.

Já foi tentado que bancos concorrentes comprassem o DB, num daqueles negócios “a la Novo Banco” em que o buraco financeiro fica a cargo de todos nós. Mas o buraco é de tal ordem que ninguém se comprometeu. Já foi feita uma recapitalização do DB que ascendeu a €30 mil milhões. Não bastou. Já foi criado um “DB mau” com milhares de milhões em ativos tóxicos. É insuficiente.

O DB continua a registar prejuízos, produto de uma carteira de empréstimos de difícil cobrança e de outros ativos tóxicos que se estima em, pelo menos, €288 mil milhões.

Este, afinal, não é problema exclusivo do Sul da Europa. Não é um problema específico dos, supostamente, “preguiçosos” e “corruptos” PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Não é um problema nacional. Este é um problema sistémico do capitalismo e das elites que o gerem. E a partir do momento em que o capitalismo se tornou mundial, infestou o planeta com os seus vícios. Corrupção, gestão danosa e especulação em função de benefícios privados. O DB, esse pilar da suposta integridade, organização e disciplina alemãs, não é exceção. Os casos de corrupção, especulação financeira e gestão danosa sucedem-se. Banqueiros e grandes empresários passeiam-se, entre offshore cheias, como se nada lhes fosse imputável.

A solução encontrada é uma nova reestruturação do DB que visa a criação de um segundo “DB mau”, com cerca de €74 mil milhões de empréstimos incobráveis e outros ativos tóxicos, e o despedimento de mais 18 mil trabalhadores bancários. Entretanto, outras injeções de capital serão necessárias.

Lá como cá, o habitual: banqueiros e grandes empresários, responsáveis pelos buracos financeiros, vêem os seus benefícios defendidos, enquanto aqueles que vivem do seu trabalho pagam os insuportáveis custos com os seus salários, empregos e condições de vida.

O buraco financeiro do DB tem a capacidade de arrastar todo o continente para uma nova crise e as elites europeias apontam o dedo aos supostos problemas com a imigração? Juntando o buraco existente na banca italiana, de mais uma largas dezenas ou centenas de milhões de euros, facilmente perceberemos que o problema está nas elites que nos têm governado.

A única solução passa pela responsabilização dos governos, banqueiros e grandes empresários europeus que estiveram envolvidos na gestão do sector financeiro, nas últimas décadas. Pelo confisco de todos os seus bens e benefícios para tapar os buracos por si criados. Como se viu na CGD, as elites que nos governam não permitem que o sector público esteja completamente imune aos interesses privados. No entanto e precisamente por ser pública, a CGD tem a possibilidade de ser submetida a um maior controlo e escrutínio público. Mais importante, para um governo verdadeiramente comprometido com os interesses de quem vive do seu trabalho, um banco público é fundamental para a defesa do desenvolvimento nacional, ao invés da defesa exclusiva dos lucros privados.

Como tal, a melhor forma de evitar que os buracos financeiros se voltem a repetir é através da nacionalização da banca, submetendo-a ao controlo público e democrático. Nem mais um euro público para os buracos financeiros, nem mais um despedimento na banca!

Também o sector dos transportes públicos está um caos. Para os passageiros e para os trabalhadores do próprio sector, reduzidos a condições de trabalho deploráveis, com salários de miséria. O desinvestimento é profundo. Costa escuda-se no “passe acessível”, recentemente criado, mas qualquer utente já compreendeu que para utilizar o “passe acessível” são necessários mais e melhores transportes. E é precisamente isso que falta: o investimento necessário nos transportes públicos coletivos! Ganhamos todos e ganha o ambiente.

O Governo PS, que renovou praticamente o seu mandato nestas últimas eleições, tem de resolver o problema de investimento nos serviços públicos, tornando-os acessíveis e de qualidade. Foi para isso que o povo votou PS e BE. Isso requer uma grande alteração nas prioridades políticas e orçamentais. Ou vamos continuar atados aos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros privados, nacionais e europeus?

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