Repudiamos o Golpe de Guaidó. Fim do bloqueio e das sanções à Venezuela!

Na madrugada de 30 de Abril, um grupo reduzido de polícias venezuelanos, capitaneados pelo auto-proclamado presidente interino Juan Guaidó, libertou o líder da extrema-direita Leopoldo López, já antes envolvidos em diversos golpes, e apelaram a uma sublevação militar contra Maduro.

Trata-se de uma tentativa de golpe de Estado, ainda que boa parte dos meios de comunicação de todo o mundo se recusem a dizê-lo. Independentemente da evidente despreparação e desespero desta nova tentativa de golpe, ela corresponde à política criminosa dos EUA, apoiado pelo Brasil, Colômbia e UE para retirar Maduro do poder. Ainda que Maduro esteja muito longe de ser um socialista e a sua política seja de grandes cedências aos EUA, Trump não aceita que o país com as maiores reservas de petróleo do mundo seja governado por quem não lhe obedece cegamente e ousa até negociar com a Rússia e a China. Por isso, os EUA e a direita venezuelana estão tão desesperados. Por isso tentaram um Golpe de Estado contra Hugo Chavez, já em 2002, que resultou em centenas de feridos e mortos. Só a mobilização popular parou o golpe em 2002. Hoje, tentam ir pela mesma via. É por isso obrigação de todos os que defendem a liberdade e a soberania das nações se oporem a este política golpista norte-americana que já trouxe tantas mortes e patrocinou tantas ditaduras na América-Latina.

As notícias são poucas, distorcidas e contraditórias. Mas parece evidente que com o Golpe de 30 de Abril, Guaidó não conseguiu arrastar uma base de apoio significativa, nem entre os civis nem entre os militares. As manifestações de apoio ao golpe foram pequenas quando comparadas com os milhares que saíram à rua contra ele. O exército, mais uma vez, manteve-se fiel ao Governo. Nem a direita se uniu para apoiar a aventura de Guaidó. Não é certo se foi um acto desesperado ou uma tentativa de Guaidó de forçar a sua própria prisão e assim pressionar os EUA a intervirem militarmente. A verdade é que em nenhum país ocidental alguém que procurasse sublevar o exército contra o Governo eleito, em conluio com potências estrangeiras seria mantido à solta. Porém, Guaidó continua livre.

Embora o Golpe tenha falhado, o perigo não se dissipou. Pelo contrário, a acção de Guaidó terá certamente a consequência de apertar o cerco à Venezuela. Ontem a Reuters a noticiou que a empresa Blackwater, responsável pela morte de 17.000 civis no Iraque e cujo dono é um apoiante entusiasta de Trump, está a preparar um exército privado de 5.000 militares para agredir a Venezuela. É com este plano criminoso, que o Governo português quer que Portugal se alinhe.

  O Governo PS retira o pão da boca à Venezuela

O PS, nestas eleições europeias, procura apresentar-se como alternativa à nova extrema-direita que ameaça ganhar peso na UE. Porém, ao mesmo tempo, coloca Portugal a reboque da política golpista de Trump e Bolsonaro na Venezuela. Contribui para o bloqueio económico que conduz à fome de milhões de venezuelanos, inclusive luso-descendentes, e dá cobertura a um plano dos EUA que pode levar à guerra civil. O Governo reconheceu como presidente o não eleito e auto-proclamado Juan Guaidó e diz que “Maduro deve sair para evitar um confronto”. Ou seja, o PS abertamente alinha com a ameaça armada de Trump à Venezuela, colocando em risco a vida de milhões de civis.

A alegada intenção do Governo português de ajudar a resolver a crise humanitária na Venezuela ou de salvaguardar a segurança dos luso-descendentes é hipócrita. Caso as acçóes de Trump e Guaidó degenerem numa guerra civil, os civis serão os mais afectados. Inclusive, luso-descendentes.

Sobre a crise humanitária, o Governo e a Direita são igualmente hipócritas. Portugal participa no bloqueio económico à Venezuela. Segundo o site AbrilAbril, o Ministro Mário Centeno terá participado numa reunião nos EUA[1] sobre o cerco à Venezuela, poucos dias antes do Golpe de Guaidó. Um relatório[2] recente do Centro de Pesquisa Política e Económica dos EUA apresenta o bloqueio económico que os EUA mantêm desde 2015 sobre a Venezuela como uma “punição colectiva” responsável pela morte de mais de 40 mil venezuelanos. Recentemente, o FMI anunciou o bloqueio de 400 milhões de dólares da Venezuela[3]. Em Janeiro, o Banco de Inglaterra impediu que o Governo Venezuelano resgatasse mil milhões de dólares em ouro pertencentes ao povo venezuelano. O Governo PS apoia esta política. Há quase dois anos que está um petroleiro venezuelano da estatal PDVSA retido no Tejo e impedido de voltar ao seu país. O Governo PS desce a este nível para agradar a Trump. Em nada se distingue da triste política de Durão Barroso e Paulo Portas na triste cimeira das Lajes, onde Bush anunciou a invasão do Iraque.

Neste como em tantos outros assuntos, a esquerda parlamentar parece enredada no seu apoio ao Governo e é incapaz de dizer a verdade e tomar o lado do povo venezuelano. Ao adotar o discurso de “Nem Maduro, nem Guaidó” o BE cede à pressão dos media e do Governo e põe em pé de igualdade o Governo eleito da Venezuela e o golpista patrocinado por Trump. Já o PCP, embora denuncie as agressões à Venezuela, manteve o apoio ao Governo PS durante os quatro anos em que este ajudou a UE e os EUA a matar de fome os venezuelanos.

O MAS repudia totalmente o Golpe de Estado tentado por Guaidó no passado dia 30, assim como a política de ingerência os EUA e UE, apoiados pelo Brasil e a Colômbia, na vida da Venezuela. Denunciamos que não existe por trás deste cerco qualquer preocupação humanitária, mas sim o desejo por petróleo.

Exigimos o fim do bloqueio económico à Venezuela e que o Governo português termine com a sua participação nesta política criminosa. Exigimos que sejam respeitadas as decisões dos Venezuelanos. É preciso prisão e justiça para os golpistas e mão dura contra os que querem fazer da Venezuela um novo Iraque. Tirem as mãos da Venezuela!

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