Entre 2000 e 2015, as várias administrações da CGD concederam empréstimos de alto risco, sem as devidas garantias, ignorando as análises do seu próprio Departamento de Risco e ignorando as regras internas de concessão de crédito. Estas operações já resultaram em perdas que ascendem a €1,2 mil milhões, no banco público. Os maiores empréstimos terão sido concedidos à La Seda, Joe Berardo e Manuel Fino.
Mas não é tudo. As sucessivas administrações da CGD fizeram ainda vários investimentos ruinosos. Compra de acções do BCP que se transformaram em perdas de €555 milhões. Compra de obrigações Caravela (operação financeira feita com o Credit Suisse), originando perdas de €340 milhões. Compra de acções da La Seda, com a perdas de €53 milhões, entre muitas outras perdas.
O Revisor Oficial de Contas da CGD alertou, em 2007, para o risco de “fraudes ou erros”, alerta que foi ignorado pelo supervisor, o BdP, e pelos sucessivos Governos PS/PSD/CDS-PP. Daí que nenhum destes partidos tenha tido grande interesse em divulgar, durante os seus governos, o que se passava na CGD.
As administrações da CGD apenas serviram como correia de transmissão dos interesses privados do governo de turno. Os reguladores fecharam os olhos e quem paga agora a fatura são os trabalhadores da CGD e os contribuintes. Mas quem administrou a CGD? António Sousa (2000 a 2004), nomeado pelo Governo Guterres (PS), Governador do BdP, entre 1994 e 2000. Dessa administração fazia ainda parte o ex-ministro da Indústria de Cavaco Silva, Mira Amaral (PSD). Vítor Martins (2004 e 2005), nomeado no Governo Santana Lopes (PSD), por Bagão Félix (PSD). Carlos Santos Ferreira (2005 a 2008), nomeado no primeiro Governo Sócrates (PS). Dessa administração fazia parte o ex-ministro da Juventude e Desporto de António Guterres, Armando Vara (PS). Fernando Faria de Oliveira (2008 a 2011), igualmente nomeado pelo Governo Sócrates (PS). José de Matos (2011 a 2015), nomeado pelo último Governo PSD/CDS-PP. Já Carlos Costa, actual Governador do BdP, foi vogal do Conselho de Administração da CGD, entre 2004 e 2006.
A extrema-direita e as elites que nos governam tentam convencer-nos que o problema do país e da Europa está nos bairros periféricos das grandes cidades, entre os mais pobres e excluídos, as comunidades negras e ciganas, entre os imigrantes que chegam à Europa em busca de refugio que lhes permita trabalhar e sobreviver. No entanto, a verdadeira criminalidade, capaz de arruinar países, faz parte do mundo dos grandes negócios e da grande finança, dos governos da direita e do PS.
É lamentável que BE e PCP tenham ajudado o PS a aprovar uma reestruturação da CGD, sob o aval de Bruxelas, onde foram autorizados a injectar cerca de €4 mil milhões e a contrair um empréstimo obrigacionistas, junto de privados, em troca da destruição de 2.500 a 3.000 postos de trabalho e do encerramento de 180 agências. Tudo antes de uma séria auditoria e da responsabilização das diversas administrações.
Ao que parece, esta reestruturação da CGD foi feita antes de se conhecer os resultados de uma verdadeira auditoria, antes de se conhecerem os principais devedores, os respectivos responsáveis pela concessão de tais créditos, as devidas perdas e antes de serem desenvolvidas todas as acções para a recuperação dos créditos concedidos. Antes de se saber o que se passou, avançou-se com o dinheiro público. Como se chegou, afinal, ao número de €4 mil milhões para injectar na CGD? Hoje, estamos confrontados com a possibilidade de os crimes cometidos e a gestão danosa poderem já ter prescrito. Já para não falar da impunidade dos sucessivos governos da direita e do PS, representantes do acionista Estado, aqueles que aprovaram as contas da CGD, que aprovaram os vários relatórios de auditoria e que promoveram os bónus chorudos aos administradores. Sobre os pequenos devedores, a banca é implacável, cobrando todas as dívidas até ao último cêntimo. Já os grandes devedores, aqueles que deliberadamente não pagam os créditos que lhe são concedidos, nada lhes acontece.
Nada disto é propriamente novo. Administração financeira danosa e criminosa. Gestão paga a peso de ouro. Interesses privados que reforçam as suas fortunas através de dinheiros públicos. Regulador ausente. Auditorias e inquéritos parlamentares para entreter a opinião pública. Governos coniventes. Reestruturações de Bruxelas. Trabalhadores despedidos. Serviços destruídos e nós, trabalhadores e contribuintes, a pagar os buracos financeiros. Basta!
É necessário defender a CGD pública e os seus trabalhadores bancários!
O plano de Bruxelas é a privatização da CGD, assim como fizeram com os CTT e estão a fazer com a Saúde e a Educação.
Não basta que todos os partidos parlamentares estejam agora de acordo com mais uma Comissão de Inquérito, sem qualquer relevância judicial, a que todos os inquiridos respondem com a conveniente amnésia. Não basta que os mesmos partidos que nomearam as sucessivas administrações da banca, PS, PSD e CSD-PP, assumam agora que houve gestão danosa, ao mesmo tempo que os despedimentos na CGD prosseguem. Não é sério, no mínimo.
Tem de existir, sim, a manutenção e fortalecimento de uma banca pública, capaz de incrementar planos de desenvolvimento económico, de investimento na nossa economia, de redução do desemprego, de melhoria do emprego existente e de aumentos salariais. A defesa de todos os postos de trabalho é fundamental. BE e o PCP têm de passar dos jogos de palavras aos actos. Passar da análise da conjuntura à transformação da realidade. Passar do “sorrir e acenar” para a concretização de um plano de defesa dos nossos empregos e salários.
Sem uma banca pública forte as condições para o desenvolvimento, defesa da soberania e independência sairão debilitadas. Isto é tudo o que Bruxelas tem para nos oferecer e o que o actual Governo PS, apoiado por BE e PCP, vai consumando.
Prisão e confisco para quem roubou e endividou os bancos!
Nacionalização de todos os setores estratégicos!
Defesa e manutenção da banca pública! Defesa de todos os postos de trabalho!