Há 50 anos, a 4 de Abril de 1968, Martin Luther King, ícone da luta pela igualdade racial nos EUA, foi assassinado em Memphis, Tennessee. A sua morte veio dar, de certa forma, “razão” aos que consideravam que a resistência não-violenta à brutalidade racista dos sectores brancos mais conservadores e das forças policiais constituía um beco sem saída e uma inútil perda de tempo, tendo a dor e a revolta tomado conta dos espíritos dos negros nos motins e tumultos que se seguiram ao seu homicídio, em várias cidades dos Estados Unidos.
Analisando brevemente a curta mas corajosa vida de Martin, muito terá de ser levado em conta: os primeiros boicotes de autocarros em Montgomery, no Alabama, devido à obrigatoriedade dos negros de se sentarem nos bancos de trás; as manifestações pacíficas contra o racismo gritante no Sul dos EUA; o famoso discurso “I have a dream”; passando pela atribuição do Prémio Nobel da Paz, em 1964, e as divisões/querelas, por vezes, fortes dentro do movimento anti-racista, entre diferentes líderes e correntes de pensamento.
Todos estes acontecimentos moldaram este personagem que, embora calejado por vergonhosas humilhações e até agressões físicas de cariz racista, sempre tomou a opção tática da não-violência e da resistência passiva, face à senda discriminatória americana dos anos de 1960.
Esta opção que acabou por gerar a simpatia dos sectores brancos, mais moderados e liberais, não obteve o mesmo resultado do lado das populações negras. Muitos foram os que o acusaram de excessiva benevolência e até cobardia, mostrando-se Malcolm X e o Black Power Movement, como os seus mais acérrimos opositores intra-raciais, apresentando-se todo o histórico discriminatório, violento e brutal americano, face aos negros, desde a escravatura, como pano de fundo.
O legado de King e da luta anti-racista viria a ter algum eco durante os anos 70, 80, 90 e 2000. Os direitos conquistados foram arrancados com o suor e sangue de milhares de ativistas negros, entre eles, King e Malcolm X.
Todavia, num país construído com base no genocídio de indígenas e na escravidão negreira, o racismo continua fortemente enraizado na sociedade americana, atual, representando disso prova a eleição de Donald Trump, como Presidente dos EUA, em 2016. Uma das suas propostas assumidamente xenófobas e mesmo racista foi a célebre construção de um muro, entre os EUA e o México, para impedir a entrada de imigrantes ilegais, algo bastante irónico uma vez que mais de 90% dos norte-americanos são descendentes de imigrantes.
Posto isto, é caso para dizer que o sonho de Martin Luther King, de uma sociedade americana e mundial livre da opressão racista, continua por se cumprir. Enquanto vivermos em capitalismo, esta é uma luta que todos nós, trabalhadores negros e brancos, devemos abraçar, tomando a abnegação de todos os ativistas negros, que deram as suas vidas por um mundo sem opressão, como um exemplo de vida.
Milton Rocha