De nenhum desses dois lados, mas ao lado do povo brasileiro pela nacionalização da Vivo e pelo direito ao acesso da maioria à telefonia móvel.
Tanto o Bloco de Esquerda quanto o PCP apoiaram o governo português quando este usou a sua golden share (acções com poder de veto) para evitar a compra da participação da Portugal Telecom (PT) na Vivo, empresa de telefonia móvel brasileira, pela Telefónica espanhola. Assim como condenaram o Tribunal de Justiça da UE que ilegalizou esta operação.
A Vivo, líder do mercado brasileiro, é uma verdadeira galinha dos ovos de ouro para essas duas empresas ibéricas, que dividem o seu controlo. Em 2009, a Vivo mais que duplicou os lucros anuais, atingindo cerca de 336 milhões de euros, distribuídos na maior parte pelos accionistas.
A mesma sorte não têm os brasileiros, que pagam a segunda tarifa de telefonia móvel mais alta do mundo (US$ 0,24 o minuto, em média), abaixo apenas da praticada na África do Sul. Na Índia, falar ao telemóvel custa apenas 1 cêntimo de dólar por minuto, na China, 3 cêntimos de dólar, e na Rússia, Egipto e México, 5 cêntimos. De acordo com um estudo da consultoria europeia Bernstein Research, o alto valor da tarifa não se deve apenas à elevada tributação dos serviços de telefonia móvel efectuada no Brasil, mas à fixação de preços exorbitantes por serviços que os clientes têm de utilizar, sobretudo as ligações para outras redes fixas ou móveis.
É por isso que, apesar de o Brasil ser um dos cinco países com mais telemóveis no mundo (173,9 milhões em operação, 9 para cada 10 habitantes), tem uma das cinco piores classificações no mundo em tráfego de voz via telemóvel, isto é, muitos têm telemóveis, mas evitam usá-los para não gastar dinheiro.
Portanto, tanto para o povo brasileiro quanto para povo português, a solução deve ser uma só: do lado de cá, a nacionalização da PT, para que os seus lucros possam beneficiar a maioria da população, e não os accionistas como o presidente do BES, Ricardo Salgado; e do lado de lá, a nacionalização da Vivo, para que a telefonia móvel possa ser usufruída pela maioria dos brasileiros, como um serviço público, e não continuar a ser a galinha dos ovos de ouro seja da burguesia portuguesa seja da espanhola.