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Mudar algo para que tudo fique na mesma?

Na sequência dos incêndios do último fim de semana, a Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa demitiu-se.

Perante a repetição da catástrofe, em condições ainda mais dantescas que Pedrógão Grande, o Presidente da República (PR) foi forçado a pressionar o governo nesse sentido. Mais 41 mortes face à tragédia de Pedrógão Grande levaram António Costa a assumir o inadiável. Há apenas uns dias atrás, António Costa tinha dito que seria ‘infantil’ demitir a ministra na sequência das primeiras 74 mortes deste (longo) Verão. O próprio PR, em Agosto, depois de se deslocar a Pedrógão Grande afirmou, em socorro do Governo, que “nada mais poderia ter sido feito”.

Hoje todos dizem o contrário. Todos concordam com a demissão da ministra, todos, dissimuladamente, acham que há que “mudar tudo”. Mudar tudo para que tudo se mantenha na mesma.

Só para recordar: nos últimos 20 anos o PS governou o país em catorze deles. António Costa sabe-o, Catarina e Jerónimo sabem-no mas suportaram e suportam há tempo demais um governo que mantém o país enfeudado às exigências do Euro e do pagamento pontual de 8 mil milhões de euros em juros da dívida, todos os anos (em dez anos são oitenta mil milhões!). Claro, depois “não há dinheiro” para a Proteção Civil, para a coordenação de bombeiros e nem para bombeiros voluntários ou profissionais, não há dinheiro para a proteção da floresta, não há dinheiro para pagar a limpeza de matas e florestas, não há dinheiro para o ordenamento do território, etc.

Mas o problema não é só “não haver dinheiro”. O problema nº 1 são as políticas dos sucessivos Governos PS e da direita (PSD/CDS-PP) em proteção do loby das celuloses, os que são responsáveis por ter tornado o país num imenso inferno de eucaliptos (e de pinheiros).

Portugal compete com a China (imaginem o tamanho da China) em área com mais plantação de eucaliptos. Ninguém trava as celuloses, nenhum governo obriga a mudar de política florestal e combater a monocultura e agora todos, rapidamente, aprovam a demissão de uma ministra (que de facto já devia ter sido demitida, há muito tempo), como uma manobra de diversão, para que tudo fique mais ou menos igual.

E esse é o maior crime do Governo PS que se prepara para entrar em ‘novo ciclo’ ainda que com novas caras. A direita (com Assunção Cristas à cabeça) avança sobre o governo para capitalizar, pela direita, o descontentamento actual e as recentes 41 mortes em incêndios desde sábado, quando no governo do qual fez parte, perante o mesmo problema dos incêndios, apelou aos segredos da fé para que chovesse.

Por sua vez, as direções do BE e do PCP não fazem o seu papel. Ainda não lemos uma linha nem uma declaração de Catarina ou de Jerónimo a pedir para pôr fim ao imenso eucaliptal que existe em Portugal. Ainda não lhes vimos questionar o permanente apoio ao Governo PS e tudo vai continuando igual, ainda que com algumas medidas de ligeiros (ligeiríssimos aumentos de pensões e de salários, tudo lançado o mais para a frente possível) que o PS vai concedendo, para conseguir uma possível maioria absoluta em 2019.

Quantos incêndios mais devastadores e quantas mais mortes para entendermos que a esquerda deve romper com a permanentemente dicotomia de ou Governos PS ou Governos PSD/CDS? BE e PCP devem começar já por não aprovar um Orçamento do Estado que não priorize o investimento público, nomeadamente, na floresta e no ordenamento do território.

As nossas vidas devem assumir a prioridade face aos lucros das celuloses, ao controlo do défice e aos pagamentos dos desmedidos juros da dívida pública.

 

Gil Garcia

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