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Nos 77 anos do assassinato de Trotsky

“A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão.”

Neste dia 21 de Agosto fazem 77 anos da morte de Leon Trotsky. Assassinado no México por Ramon Mercader, agente de Estaline, aos 60 anos. O revolucionário russo – mais precisamente, ucraniano de origem judia – tinha sido expulso da URSS por Estaline em 1933, tendo passado pela Turquia, França, Noruega e finalmente, a sua última morada, o México.

A tradição marxista é avessa ao culto da personalidade, e como tal, também nós o somos. Não relembramos Trotsky e o seu assassinato para coloca-lo acima da crítica nem temos a pretensão de encontrar nas suas obras e no seu percurso a resposta acabada para todos os problemas da luta de classes hoje. Para os marxistas as grandes lideranças representam a síntese dos elementos mais revolucionários da sua época e o acúmulo das lições das épocas precedentes e são aqueles que, com esses mesmos pontos de apoio, conseguem responder aos problemas novos do seu tempo e abrir caminho às gerações seguintes. Leon Trotsky foi o último elo de uma cadeia de quase 100 anos de marxismo clássico, que se iniciou no Manifesto Comunista em 1848 e que terminou com a fundação da IVª Internacional em 1938. Desde a Primavera dos Povos à Comuna de Paris, da Revolução Bolchevique à luta contra a degeração da URSS, 100 anos de ensinamentos revolucionários das lutas dos trabalhadores, tinham em Trotsky um dos seus maiores e últimos representantes históricos. A vitória do Estalinismo, na URSS e do Nazismo na Europa ocidental dizimaram os herdeiros, as organizações, as lideranças, desta tradição: tinham de o fazer para poderem prosperar. E ainda assim, não puderam. Mas quebraram a ligação histórica entre as gerações que dirigiram as maiores batalhas do proletariado ocidental e as novas gerações. Até hoje, o movimento trotskista e a tradição marxista moderna não foram totalmente capaz de restabelecer este vínculo. Combinar o marxismo e as ideias socialistas com o movimento real dos trabalhadores voltou a ser uma tarefa por cumprir, em todos os cantos do globo. É por isso que as novas gerações devem ler Trotsky.

O assassinato de uma jovem militante de esquerda em Charlottesville, nos EUA, às mãos de um terrorista neo-nazi relembra-nos, junto com tantos outros acontecimentos nos últimos meses, que o capitalismo conduz a humanidade para uma nova era dos extremos. Os fantasmas que assombraram o século XX, desde o fascismo à guerra nuclear, voltam a ser um perigo presente. Ao mesmo tempo, também o surgimento de uma nova geração de activistas de esquerda, cada vez mais próximos de posições anti-capitalistas e muitas vezes socialistas, até no coração do Império, mostra que também hoje existe a matéria-prima revolucionária para tomar a História em nossas mãos. Apesar da babárie capitalista ser uma ameaça real ao planeta, a alternativa, tão bem colocada por outra revolucionária, Rosa Luxemburgo, também recupera actualidade. Socialismo ou barbárie é mais que nunca a grande disjuntiva que se coloca à humanidade. Reler Trotsky hoje, conhecer a sua vida e o seu assassinato, profundamente marcados por uma época em que a revolução e a contra-revolução se confrontavam da forma mais aberta possível, é armarmo-nos para entender o presente.

Às novas gerações, como assinala um dos textos que publicamos, não bastará a energia e a determinação em derrotar toda a forma de exploração e opressão: sem conhecer o percurso de 150 anos de luta contra o capitalismo que nos precede, combatemos cegos e desarmados. Reler hoje, no centenário da Revolução Russa, os seus escritos sobre a revolução bolchevique e a sua degeneração estalinsta, é essencial para entender esse acontecimento maior do século XX. Conhecer o estudo profundo que Trosky fez sobre o fascismo e a sua ascensção, sobre a guerra e sobre a crise económica de 1929, sobre o movimento negro nos EUA ou sobre a teoria da revolução, dá aos activistas de hoje ferramentas poderosas para entender o mundo hoje. Sabendo da sua morte iminente, Trotsky dedicou os seus últimos anos a preparar o seu legado e a fornecer às novas gerações todas as lições estratégicas que podiam ser o apoio das vitórias socialistas futuras. Por isso, nos seus últimos anos, o revolucionário russo, dedicou tantos dos seus textos às novas gerações. Nos 77 anos da morte, propomos, sobretudo aos jovens activistas que hoje despontam para as novas lutas, dois desse textos, que reproduzimos de seguida.

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