Declaração da LIT sobre o ataque de Israel à frota de ajuda humanitária
O massacre realizado pelo exército israelita contra a frota que levava ajuda humanitária à faixa de Gaza mostra mais uma vez a verdadeira cara do Estado de Israel.
O exército sionista realizou uma abordagem em águas internacionais aos barcos que transportavam 10 mil toneladas de ajuda humanitária (cimento, alimentos, remédios, brinquedos e livros) e 750 activistas (membros de ONG, pacifistas, jornalistas, escritores e parlamentares europeus). Entre os participantes encontrava-se Heydi Epstein, de 85 anos, sobrevivente do Holocausto judeu, que luta contra a agressão aos palestinianos desde que os sionistas perpetraram o massacre nos acampamentos de Chabra e Chatilla em 1982.
Os tripulantes defenderam-se com paus ao ataque dos soldados israelitas de elite, que, dispondo de armamento sofisticado, assassinaram pelo menos 12 activistas.
A hipocrisia de Israel não tem limites: acusaram os activistas de serem membros do Hamas e da Al-Qaeda (pondo um sinal de igual às duas organizações), declararam que tiveram de disparar em legítima defesa (quando eram eles que estavam a assaltar uma embarcação em águas internacionais) e que atacaram os barcos porque Israel estava sendo ameaçada.
Para Israel, um grupo de pessoas de 60 países cujo objectivo era aliviar um pouco o sofrimento do povo palestiniano é uma grave ameaça à sua segurança. A chegada da frota de ajuda humanitária é considerada por Israel uma provocação que legitima o assalto em águas internacionais e o abrir fogo contra activistas. A faixa de Gaza permanece, há mais de um ano, cercada pelo exército israelita e o seu colaborador egípcio, que impedem a entrada de ajuda humanitária, alimentos, medicamentos e materiais de construção para a reconstrução de 20% de casas e edifícios transformados em escombros após os bombardeamentos à população civil, em Dezembro de 2008, cujo resultado foram mais de 1400 mortos.
Israel, com esse ataque, demonstrou ao mundo que não dá nenhum valor à legalidade internacional, ainda que seja a legalidade das Nações Unidas, a mesma que tem legitimado a sua existência até hoje. Essa legalidade, desrespeitada quando lhe convém, é a mesma que levou ao exílio milhões de palestinianos e obriga aos que sobrevivem na Faixa de Gaza e Cisjordânia a viverem cercados por muros e na miséria.
Esse massacre mostrou, ainda, que o Estado nazi-sionista de Israel está disposto não só a exterminar o povo palestiniano, mas também a todos que ousem prestar-lhe ajuda, mesmo que seja somente levando-lhe alimentos para que não morram de fome.
A proposta de solução para o conflito através da criação de um Estado Palestiniano nos territórios de Gaza e Cisjordânia, apresentada há décadas e retomada por Obama ao assumir a presidência dos EUA, não só é irrealizável, porque deixaria os palestinianos sem a sua terra e à mercê de Israel, mas também porque Israel não está disposto nem sequer a isto.
O novo massacre mostra, por fim, que não há solução pacífica para Israel. Aos activistas da frota, responde-lhes com fogo e morte. É bom lembrar que esta não é a primeira vez que activistas internacionais, que se opõem ao genocídio realizado por Israel, são agredidos. Assim ocorreu com a activista judia norte-americana Rachel Corrie, que se opunha pacificamente à destruição de casas de palestinianos e foi esmagada por uma escavadeira israelita sete anos atrás. Com o seu nome, baptizou-se um dos barcos que ainda está por chegar com a ajuda humanitária.
É uma vergonha que existam acordos comerciais preferenciais como os que têm o Mercosul e a União Europeia com Israel. Países como Brasil e o seu presidente Lula, que dizem apoiar os palestinianos, compraram armas e aumentaram o intercâmbio comercial com Israel nos últimos meses. É hora de exigir a todos os governos do mundo que fechem as suas embaixadas em Israel e que deixem de reconhecer e comerciar com o Estado assassino de Israel. Há que impor o boicote a todos os produtos israelitas e impedir o comércio com os assassinos.
Chamamos às organizações operárias, os sindicatos, a realizar o boicote a Israel como no passado se fez contra a África do Sul do Apartheid. Não podemos esperar que sejam os governos a realizar esse boicote. Os trabalhadores de todo mundo podem consegui-lo, impedindo que se transporte qualquer tipo de mercadorias de ou para Israel.
É necessário denunciar a hipocrisia dos governos dos EUA e da União Europeia (há muitos feridos e alguns mortos europeus entre as vítimas do ataque israelita) ou mesmo da ONU, que lamentam as mortes, mas não condenam Israel. Dedicam-se a exigir aos mesmos autores do massacre a investigação dos factos. Mas os factos são incontestáveis: os israelitas assaltaram com armas de fogo em águas internacionais uma frota de activistas que levava ajuda humanitária, assassinando e ferindo dezenas de pessoas.
A ONU, que está a serviço do imperialismo e que há quase 70 anos tem apoiado as suas agressões militares, não condenou os fatos actuais e as “condenações” anteriores, quando as faz a Israel, não são mais que meras declarações sem nenhum resultado prático.
É hora de obrigar ao governo de Hosni Mubarack, do Egipto, a abrir imediata, total e definitivamente as fronteiras que mantém fechadas para agradar Israel e que estão permitindo o bloqueio e a fome do povo palestiniano. Não basta apenas que abra por umas horas ou poucos dias o posto de Rafah para a passagem da ajuda humanitária ou de alguns doentes. O povo de Gaza deve exercer o direito de ir e vir, de entrar e sair de sua terra, assim como de transaccionar todo tipo de mercadoria, sem as restrições que lhe impõe o governo israelita.
Os povos árabes estão exigindo há tempos a seus governos que deixem de conciliar e negociar com Israel, e de reconhecer o Estado de Israel, e que os que mantêm relações diplomáticas devem rompê-las de forma imediata. É necessário todo o apoio ao povo palestiniano contra os que os massacram diariamente.
O governo turco retirou o seu embaixador de Israel e suspendeu as manobras militares conjuntas que estavam previstas com esse país. Vários dos activistas que foram assassinados pelas tropas sionistas, bem como o barco onde ocorreram as mortes, eram de nacionalidade turca. Há que exigir a Erdogan, presidente da Turquia, que rompa definitivamente com o estado de Israel, ao qual estava a dar cobertura até agora, dentre os países muçulmanos.
É hora de lutar para acabar de uma vez com essa chaga que existe no mundo chamada Estado de Israel, um Estado racista e genocida. Só com a destruição do Estado de Israel poderá obter-se a paz na Palestina. Não há nada que negociar com Israel, senão o seu próprio fim. Os palestinianos têm direito a recuperar o seu país. Assim se poderá construir uma Palestina laica, democrática e não racista.
É necessário acabar de uma vez por toda com o Estado de Israel!
Secretariado Internacional da LIT (QI)
Junho de 2010