Estou entre aqueles/as que consideram Coltrane um gênio jazzístico. Ainda que tenha vivido pouco (morreu aos 40 anos com câncer no fígado), a música esteve intensamente presente na sua trajetória. Nossa lenda revolucionou o jazz.
O sax o acompanhava desde criança. Quando ouviu Charlie Parker, Coltrane passou a seguir seus passos: estudou intensamente o sax, seu instrumento e teoria musical. Quando não estava tocando, treinando, estava ouvindo música clássica na biblioteca pública.
Tocou em bandas da Filadélfia até chegar à orquestra de Dizzy Gillespie que o fez tocar sax tenor (dessa forma poderia aproveitar mais a influência de Parker). Meses de treinamento e estudo o deixaram dominando o novo instrumento. Passou por outras bandas, diversos repertórios e estilos musicais. John Coltrane necessitava internalizar essa experiência diversa em busca do seu estilo. Experimentava incessantemente com novos sons na hora de improvisar. Os músicos o observavam curiosos.
Conheceu Miles Davis. Fez parte de seu quarteto. Foi demitido duas vezes por causa dos excessos (heróina). Mas, Miles sabia que Coltrane era o seu músico mais brilhante e a sua musicalidade era ansiosa, agressiva, urgente. Em 1959, depois de participar da gravação do antológico Kind of Blue, deixou Miles Davis para formar seu próprio quarteto. Era hora de levar a experimentação aos últimos limites, até encontrar o que tanto perseguia.
Desenvolveu um estilo próprio e embarcou numa profunda radicalização da harmonia. Um exemplo foi quando gravou a música Bahia de Ary Barroso, em 1958. Ou, ainda, as versões para My Favorite Things (algumas que duram mais de 20 minutos), uma simples valsa tocada por um sax-soprano, considerado um instrumento ultrapassado para o jazz da época.
Indomável, Coltrane buscou inspiração na música negra que ouvia quando criança. Misturou a música popular com novos experimentos na tentativa de expressar suas emoções. Seu álbum A Love Supreme foi gravado em um dia. Extensos movimentos sonoros, tecnicamente brilhantes e ao mesmo tempo tão naturais são capazes de conduzir o ouvinte a um transe. O misticismo contido em A Love Supreme recupera a musicalidade dos rituais religiosos africanos, perdidos por séculos de opressão da escravidão dos negros norte-americanos.
John Coltrane era na ocasião (início dos anos 1960) a maior referência cultural para os jovens negros americanos. Na sua biografia Miles Davis afirma que o grupo de Coltrane estava para os Panteras Negras, da mesma forma que ele estivera para o povo negro que lutava nos anos 1950 contra as absurdas leis de segregação racial vigentes em vários lugares dos EUA.
John Coltrane abriu o caminho para um novo estilo, o free-jazz. A partir de então o jazz nunca mais seria o mesmo.
E no dia de hoje, compartilho o artigo de Dalwton Moura: jornalista, crítico musical e um amante do jazz. Muito bom o texto que lembra os 50 anos da morte de John Coltrane, a lenda do jazz! Leiam!
Dalwton é daqueles imprescindíveis para a música na cidade. Com projetos como o Jazz Series (no Dragão do Mar) e o Jazz em Cena (no Centro Cultural do Banco do Nordeste), o público da cidade teve a oportunidade de ver músicos cearenses, como Marcio Resende, Hugo D´Leon, Iury Batista, David Krebs e tantos outros, interpretando Giant Steps e outros clássicos do jazz. Nós, amantes da música instrumental agradecemos!
É importante lembrar-se da lenda do jazz e celebrar sua genialidade! Viva Coltrane! Viva o jazz!
Paula Farias, Esquerda Online