O mundo está de olhos postos nos EUA e no recém-eleito Presidente Trump. Logo após a sua tomada de posse, milhares de pessoas encheram as ruas em protesto, sob o lema “Not My President”.
Quem saiu às ruas saiu em contestação aos ataques que Trump pretende fazer em vários sectores – saúde, educação, ambiente, direitos dos trabalhadores, igualdade de género, direitos dos imigrantes, das LBGTQIA+ e das mulheres.
As mulheres, atacadas e insultadas durante toda a campanha eleitoral de Trump e prevendo uma pioria das suas condições de vida enquanto mulheres e cidadãs, assumiram a linha da frente, convocando para o passado dia 21 de Janeiro a Marcha das Mulheres, um chamado global de resistência às políticas opressoras do novo presidente. Mulheres de todo o mundo responderam, em solidariedade internacional com quem sofre na pele o machismo, misoginia e os retrocessos impostos por Trump. Desde Washington à Antártida, passando por Portugal, milhares de pessoas saíram à rua para demonstrar a sua aversão ao novo presidente americano.
Ao mesmo tempo foi organizada uma greve de mulheres (ao trabalho pago, mas também ao trabalho doméstico), nos dias 20 e 21 de Janeiro, contra a diferença salarial, a dupla jornada, o ataque ao sistema de assistência de saúde e à estagnação salarial.
Trump, o cumpridor de promessas
Em matéria de aborto, Trump já iniciou os cortes. O novo presidente americano é abertamente anti-escolha, querendo ilegalizar totalmente o aborto (permitindo somente em casos de violação, incesto ou quando a gravidez apresenta perigo para a saúde da mulher) e punir mulheres que o façam. Quarenta e oito horas depois da Marcha decretou o “Global Gag Rule”, que estipula que qualquer ONG que receba fundos americanos deixa de poder difundir informação sobre o aborto (onde fazer, cuidados a ter etc.) e deixa igualmente de poder prestar este serviço.
Revogou também o Obamacare, que embora não fosse um sistema de saúde público, possibilitava a cerca de 18 milhões de pessoas aceder a seguros de saúde subsidiados pelo Estado.
No Obamacare enquadravam-se também os gabinetes de planeamento familiar, que permitiam distribuir métodos contracetivos mais baratos e possibilitavam um acompanhamento pré-natal – Trump acha que estes gabinetes são “fábricas de abortos” e por isso mesmo devem cessar, impossibilitando o acesso a contracetivos, acompanhamento médico, limitando o poder de decisão das mulheres sobre os seus direitos reprodutivos.
Aliás, após a sua eleição, milhares de mulheres afirmaram nas redes sociais que iriam por um DIU antes de Trump assumir funções porque não se sabe o que reserva o futuro!
Ainda sobre o direito à reprodução, Trump planeia reduzir a licença de maternidade (passa de quatro meses para seis semanas). A licença continuará a não ser paga, em nome da competitividade. Também não pretende fazer nada para aliviar os custos dos cuidados infantis que recaem na totalidade sobre as famílias e que muitas vezes se tornam mais dispendiosos do que as rendas e os custos com a alimentação.
A diminuição da diferença salarial – que vai dos 6% aos 22% – também não está na agenda. O presidente é da opinião de que se as mulheres fizerem um bom trabalho, poderão, eventualmente, receber o mesmo salário que os homens. Vai mais longe e afirma que a igualdade salarial não é uma bandeira das políticas públicas mas sim uma questão da responsabilidade das empresas que contratam mulheres.
As políticas de Trump afetam as mulheres em geral, mas atacam mais violentamente os sectores mais pobres, precários e marginalizados da sociedade – aquelas que não podem viajar para abortar, as que não podem pagar creche, seguro de saúde, as que não tem acesso a métodos contracetivos e que precisam de trabalhar dois ou três empregos para sustentar a casa, a família, económica e fisicamente.
A Marcha de dia 21 mostrou que, mesmo com estes ataques brutais aos nossos direitos enquanto mulheres, temos vontade de resistir e organizar a nossa defesa.
Nas ruas estavam todas e todos aqueles que odeiam o Trump e o que ele representa, nos EUA e noutros lugares do mundo, mostrando que quando é necessário as mulheres sabem lutar.
Os últimos anos são expressão disso – desde as grandes mobilizações na Índia contra as violações, às manifestações na América Latina por ‘Ni Una Menos’, à greve das mulheres na Polónia contra a proibição do aborto, levantamo-nos contra o Trump e contra todos os que atacam os direitos das mulheres e dos trabalhadores.