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Novo Banco: Bom negócio para quem?

Tem sido noticiado que a venda no Novo Banco (“NB”) está por dias. Os valores exactos são desconhecidos do público mas há informação importante que merece uma leitura atenta.

 

A farsa

A primeira proposta do fundo especulador Lone Star passava pela compra do NB, por €750 milhões, um valor ridículo, sob a condição de o Estado português assumir a responsabilidade do buraco financeiro, no valor de €2,5 mil milhões, ainda existente no NB.

O Governo PS avaliou que, ocorrendo a venda, esta seria uma forma demasiado evidente de imputar os custos às contas do Estado e, assim, aceitou a proposta de venda de 75% ao fundo especulador Lone Star, ficando o Estado com os restantes 25% do capital do NB.

Esta foi a fórmula engenhosa, até agora, encontrada pelo Governo PS para manter a garantia de que o Estado suportará os custos necessários com o buraco financeiro do NB, sem que isso fique demasiado evidente aos olhos dos contribuintes.

Depois de grande parte da redução do défice ter sido conseguida através da redução do investimento e da despesa pública, o Governo PS parece ter pouco pudor em que o dinheiro do Estado continue a alimentar os parasitas financeiros.

BE e PCP assobiam para o lado.

 

Obedecer à UE, ao BCE e ao Lone Star é sacrificar o povo português

Portanto, o Lone Star faz depender a sua compra do NB da partilha dos buracos financeiros com os contribuintes portugueses. E quanto a isso, o Governo PS não se opõe.

Qual defesa de postos de trabalho ou do interesse do NB para a economia e soberania nacionais? Afinal, depois dos 1.000 bancários, despedidos em 2016, no NB, estão a ser preparados mais 300 a 500 despedimentos, em 2017. Afinal, o Governo PS, mesmo com o apoio de BE e PCP, não consegue discorrer qualquer ideia, para o NB, que possibilite mais e melhor investimento na nossa economia e emprego.

Independentemente do custo que este negócio traga para os contribuintes, o que interessa mesmo ao Governo PS é fazer passar a ideia que está determinado em vender o NB e dissimular a forma como o Estado irá assumir os seus buracos. BCE e Bruxelas alinharão nesta farsa se também os seus interesses forem salvaguardados.

Para tal, o Governo PS tem de enganar uns em detrimento de outros. O interesse do Lone Star é a partilha do buraco financeiro com o Estado português – o PS não se opõe. O interesse da UE e BCE é o aprofundamento da nossa dependência externa – o PS não se opõe. Tudo isto só será conseguido através do sacrifício do povo português. Quanto a isto o Governo PS também não se opõe, mas tem de se socorrer de alguma solução “engenhosa”; ir administrando as já costumeiras palmadinhas pelas costas dos portugueses; e garantir que BE e PCP continuam a assobiar para o lado.

 

Para onde vai a nossa soberania?

Não existe soberania sem um sistema financeiro fortalecido, próprio e autónomo, nas mãos de capitais nacionais (mesmo sendo privados). Na nossa opinião, melhor ficamos se esse sistema financeiro for público, detido e controlado pelo Estado, pois desta forma teremos nas nossas mãos a possibilidade de decisão sobre o futuro do nosso desenvolvimento.

Inversamente, ficamos mal se, perante a possibilidade de reforçar o nosso sistema financeiro público, descartamos essa possibilidade por uma ninharia. Mas pior estamos com um governo que nem a nossa soberania pretende defender.

Se não, vejamos:

1 – O Banif foi vendido, pelo Governo PS, ao Santander – grupo financeiro espanhol;

2 – O BPI acaba de ser comprado pela CaixaBank, banco espanhol, que assim passa a controlar mais um banco português; e,

3 – No caso do NB, a concretizar-se a sua venda ao especulador Lone Star, o banco fica, ainda que indiretamente, também sob a alçada de interesses espanhóis. A verdade é que entre os principais elementos da direção do Lone Star, para a Península Ibérica, está Felipe Morenés Botín, filho da Presidente do Santander – Ana Botín.

Esta não será, com certeza, uma coincidência. Com toda a certeza que o Governo PS tem conhecimento desta informação. E é também com toda a certeza que o Governo PS está determinado em, paulatinamente, continuar a beneficiar os capitais espanhóis e europeus privados, em detrimento da nossa independência económica e soberania política.

Afinal, os capitais espanhóis têm sido dos mais beneficiados com a debilidade e reestruturação do sistema financeiro português, onde o grupo Santander assume um papel de crescente relevo.

Este é precisamente o plano da UE, FMI e BCE, que foi desenvolvido pelo Governo PSD/CDS-PP, e que se mantém, sem alterações, com o atual Governo PS, apoiado por BE e PCP: fazer de Portugal um país cada vez mais dependente, mais pobre, menos soberano.

Qual é o interesse de Portugal para as grandes potências europeias? É a melhor forma de explorar e aprofundar, cada vez mais diretamente, as relações que ainda mantemos com países africanos e sul americanos. Quem está melhor localizado para o fazer? Espanha, que tem servido de mediador e um dos beneficiários mais directos deste plano.

 

BE e PCP: denunciar e exigir ou assobiar para o lado?

Será que BE e PCP, se não estivessem a suportar este Governo PS, não seriam mais exigentes quanto ao plano a ser seguido para a banca portuguesa? É evidente que sim.

Há postos de trabalho a serem destruídos. Há um sistema financeiro que está a ser vendido a estrangeiros. Há o enfraquecimento da nossa soberania. O que mais falta para a esquerda tomar uma posição mais firme?

É urgente a prisão e confisco dos bens de banqueiros corruptos e suas administrações. É necessário exigir a abertura das offshores. Sem uma banca pública fortalecida e independente não há desenvolvimento que resista. É necessária a oposição ao plano de Merkel e do BCE.

O desfecho de uma banca ao serviço de especuladores, nós já conhecemos, até porque nos toca fundo nos bolsos. O Novo Banco deve estar, sim, ao serviço do fortalecimento da banca pública.

 

José Aleixo

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