A política de arquivo da nossa corrente iniciou-se com os primeiros esboços de organização. Até formalmente ao Grupo Operário Marxista (GOM) na Argentina ter tido a sua aparição pública em 1944, um ano antes havia-se constituído em grupo fundacional firmemente decidido a inserir-se na classe trabalhadora e nas suas lutas.
As dificuldades apareceram rapidamente, dado que ao longo da História, na Argentina se deram sucessivos golpes de estado (1943, 1955, 1962, 1966, 1976) que uma e outra vez forçaram a organização a actuar na clandestinidade, o que junto com as perseguições e detenções sofridas como organização, dificultavam a continuidade e a conservação dos arquivos.
Ao longo da nossa História o arquivo partidário nunca esteve em locais públicos, à excepção de alguns anos no período do Movimento para o Socialismo, depois da abertura democrática iniciada em 1983. Dessa forma certos companheirxs que assumiam a tarefa, conheciam a sua real localização. Estas medidas aprofundaram-se mais, devido a que com o golpe do 24 de Março de 1976 o reconhecimento legal do Partido Socialista dos Trabalhadores foi substituído pela sua ilegalização, ou seja, proibição de qualquer actividade. Basta ver em www.fundacionpluma.info/ a lista dxs companheirxs assassinadxs e/ou desaparecidxs entre 1974 e 1983. Com elas, outrxs 110 companheirxs estiveram longos anos detidos.
As opções que se apresentavam para conservar os arquivos eram extremamente complicadas e arriscadas. A) Organizar novos arquivos em papel, puplicados ou triplicados do existente, dado que preventivamente se guardavam vários exemplares de documentos e publicações. Também microfilmava-se. B) Apelar a todos por lugares que não fossem domicílios de militantes, mas de simpatizantes e/ou amigos próximos sem antecedentes de detenção ou perseguição, que também podessem contar com espaço físico e aceitação familiar para correr o risco. C) Para responder a qualquer destas variantes havia que enfrentar logo os transportes complicados, já que existia controlo policial ou militar extenso e rigoroso. Se bem sofremos perdas de materiais por tantos movimentos e contratempos, tal foi mínimo no que respeita ao importante volume e condições de qualidade com a que se conservou.
Os arquivos contêm não apenas documentação e/ou publicações da Argentina desde os seus inícios (1944) até ao ano de 1992, ano em que se deu a mais importante ruptura partidária nacional e internacional. Contém também parte substancial da actividade internacional em diversos períodos e países, com excepção dos anos 1976 a 1982 quando devido ao golpe de estado na Argentina, Moreno e a sua equipa de trabalho se transferiu para a Colômbia.
O intercâmbio de publicações, documentação com diversos países da Europa e América Latina, como outra parte importante do seu património, soma-se à documentação trocada com outros agrupamentos internacionais do trotskismo. Tudo isso constitui, sem dúvida, um valioso contributo para o conhecimento, investigação e informação das novas gerações, tanto de historiadores, estudantes como militantes. E sem escapar ao propósito, ajuda a resgatar os feitos mais importantes da luta de clases a nível mundial, dado que sempre fomos uma corrente profundamente internacionalista.
Assim encaramos esta tarefa há mais de nove anos, mesmo com forças e meios reduzidos, temos o orgulho e a satisfação de ter conseguido que o site na Internet, www.fundacionpluma.info/ não tenha restrições de nenhum tipo e que já contenha milhares de documentos digitalizados ao alcance de quem deles necessite.
Também, porque sempre animou-nos o desejo e a decisão de terminar os nossos trabalhos realizando uma doação a uma instituição pública, preferencialmente latino-americana. E nessa busca, estamos satisfeitos de estar a formalizar contracto com a Universidade de Campinas, Archivos Edgard Leuenroth, para todo aquele material já digitalizado no nosso país.
Em homenagem a Moreno e a trinta anos do seu desaparecimento, deixamos assim a nossa homenagem!
A História continua viva! Xs nossxs companheirxs desaparecidxs também!
Nora Ciapponi – Fundación Pluma, 20 de Janeiro de 2017