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O capitalismo dá Trump, mobiliza-te por uma alternativa

Editorial do jornal Ruptura nº148, Dezembro 2016

Quando, em 2008, Barack Obama se tornou o primeiro negro a sentar-se na cadeira presidencial dos Estados Unidos da América a esperança tomou conta da maioria da população negra mundial. Sim, era possível.

Centenas de anos de escravidão e segregação pareciam estar a caminhar para um final estádio de igualdade. Com a crise gigatensca que começava em 2007/08, o presidente nascido no Hawai era um dois em um, trazia uma união étnica ao país e um perfil fora dos comandos do poder financeiro de Wall Street. Oito anos depois da era da guerra total pelo petróleo dos republicanos liderados por George W. Bush que deixara a imagem e a margem de manobra imperialista dos EUA pelos solos, o país chefe do capitalismo elegia uma figura cativante na palavra, simpática e jovem no temperamento e relaxada nos modos e protocolos, com um suposto programa de reforço da democracia tanto interna como externamente.

No entanto, pese medidas com algum teor progressivo mas de alcance extremamente limitado como o plano de saúde para uma fatia pobre da sociedade norte-americana, dois mandatos volvidos e a esperança deu lugar à desilusão. Obama demonstrou que a imagem e o discurso pouco podem, ou enganam, se não forem acompanhados por acção condizente. Salvaram-se os bancos e grupos financeiros (os chamados “investidores”), destruiram-se milhões de empregos na indústria, desalojaram-se milhões de famílias das suas casas, em suma, deixaram-se milhões na penúria.

E se a economia voltou a crescer e o índice de desemprego caiu foi à custa disso mesmo, com novos empregos muito mal pagos e ultraprecários sem possibilidades de recuperar o nível de vida anterior.

As famílias de operários brancos de altos salários, trabalhadores de empregos em serviços de comércio e banca das milhares de cidades de média dimensão viram a sua vida esboroar-se pelo fecho constante de fábricas e do grande e médio comércio. Ao mesmo tempo a discriminação e tensões raciais aumentaram expressivamente, os subúrbios das grandes cidades tornaram-se caldeirões gigantes de revolta aquecidos pela pobreza e pelo racismo usado para esmagar a sublevação tanto de negros como de latinos. Obama negro foi o catalizador do recrudescimento da exploração e segregação racial.

Se estes últimos levaram a desilusão directamente para a abstenção, e não votaram em Hillary Clinton, já os primeiros, a franja branca dos americanos rurais, classe média evangélica e católica, e operários mais privilegiados fustigados pela crise buscaram o racismo, a xenofobia, a misoginia e, em especial, uma alternativa que saía dos cânones políticos normais.

Donald Trump, um trapaceiro que parece encarnar as trevas da Idade Média junto com a falsa imagem de empreendedor de sucesso, é um regresso à exaltação de um EUA musculado e nacionalista que sempre caiu bem a uma população branca pequeno-burguesa, que maioritariamente desconhece o que existe para lá das fronteiras do seu país. Trump é e será o presidente das grandes empresas e capitalistas americanos, com a soturna Goldman Sachs a apoiá-lo.

Algumas lições são claras, governos que pareçam mais ou menos favoráveis aos desfavorecidos apenas em retórica e imagem, ou com medidas de atenuamento da intensidade da austeridade, tenderão a abrir futuramente caminho à direita, que explorará os sentimentos mais primários das classes médias e menos urbanas para utilizar o racismo e a xenofobia de forma a aumentar a exploração capitalista. Depois do intenso combate dos povos, trabalhadores e massas exploradas durantes os anos de 2011 a 2014, as alternativas políticas à esquerda ou não surgiram ou desiludem mantendo-se como sustentáculos do sistema capitalista.

Obama nos EUA, Hollande em França, Renzi em Itália, Tsipras/Syriza na Grécia e António Costa com PCP e BE, expressam políticas ditas progressistas mas que pouco os colocam à esquerda, cada um à sua maneira criam ou criaram ilusões tanto nos seus povos como nos activistas anticapitalistas de que é possível uma alternativa menos má, uma austeridade leve.

Mas se dos partidos socialistas e reformistas tradicionais nada de novo seria de esperar, a integração institucional de SYRIZA, PCP e BE traz o amansamento da luta que os capitalistas tanto ambicionam. Não qualifiquem, depois, os trabalhadores de estúpidos, quando estes assumirem que afinal em vez de alternativa são mais do mesmo, políticos corruptos, interesseiros e bem instalados.

Aos trabalhadores e explorados em geral, às mulheres, negros e negras, LGBT’s, aos imigrantes e refugiados é preciso lançar o repto: no capitalismo não há solução, o mundo hoje é um lugar perigoso fruto da vitória momentânea do dinheiro sobre a humanidade. São necessárias uma alternativa e uma acção claras para uma sociedade nova baseada numa democracia económica e solidária Para derrotar Trump e evitar novos há que mobilizar-se por essa alternativa.

O MAS surge e luta por esse compromisso, junta-te.

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