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Eleições Comissão de Trabalhadores Santander Totta: vitória do sindicalismo combativo

No passado dia 16 de Novembro, a corrente sindical MUDAR venceu e consolidou o seu resultado nas eleições para a Comissão de Trabalhadores do Banco Santander Totta.Neste seguimento, publicamos aqui uma entrevista a António Grosso, um dos dirigentes e sindicalista do MUDAR.

 

MAS: O que é o MUDAR?

António Grosso: O MUDAR, Movimento de Unidade Democracia e Acção Reivindicativa, foi criado em Dezembro de 2002, para se constituir como tendência sindical alternativa e concorrer às eleições do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), em Abril de 2003.

Nessa altura, as “Listas Unitárias”/PCP tinham, oficialmente, desistido de lutar no seio do SBSI e optado por formar um sindicato paralelo. Tal decisão provocou a divisão dos militantes bancários do PCP e uma grande parte acabou por se manter no SBSI. Com eles e outros sindicalistas, onde se incluem o João Pascoal e eu próprio, fundámos o MUDAR, que logo em 2003 obteve uma expressiva votação para os corpos gerentes do SBSI evidenciando a necessidade de uma alternativa às actuais direções sindicais.

 

MAS: O que vos diferencia das outras correntes sindicais?

AG: O MUDAR tem como princípios: a independência, a liberdade e a democracia sindicais, contra os privilégios burocráticos, sempre guiados pela regra do ‘nem benefício, nem prejuízo’ no exercício da actividade sindical, tendo esta de ser, prioritaria e invariavelmente, orientada para a defesa e conquista de direitos laborais e contratuais dos trabalhadores bancários.

Editamos, ainda, para toda a banca, um boletim de informação e contestação às políticas patronais e à conciliação dos dirigentes sindicais. Hoje, não somos apenas uma tendência sindical no SBSI; somo-lo também nas Comissões de Trabalhadores (CTs).

As restantes tendências sindicais são directamente dependentes do PS e PSD, que mais não fazem que gerir os seus privilégios e benefícios pessoais e partidários. O MUDAR tem sido a única oposição à coligação sindical PS/PSD.

Com efeito, estas duas tendências sindicais, embora se “digladiem” na discussão das políticas governamentais, encontram-se, há muitos anos, unidas para prejudicar os trabalhadores, em benefício da classe patronal, seja na concertação social, seja nas negociações da contratação colectiva com os banqueiros.


MAS: O resultado que agora atingiram nas últimas eleições para a CT do Santander é uma clara vitória e um resultado inédito. Na vossa opinião, o que explica este resultado?

AG: Este é o resultado de um longo e paciente trabalho de proximidade aos colegas do Santander Totta (incluindo os do ex-Banif, agora integrados), acorrendo diariamente a muitas solicitações dos trabalhadores, enfrentando a Administração, com independência e firmeza, pela resolução dos problemas – uns mais gerais, outros mais pontuais – de todos os trabalhadores. Este comportamento trouxe a aproximação e adesão de vários colegas lutadores/as, o que permite ter hoje uma boa equipa de trabalho no MUDAR.

O contacto e a comunicação constantes passam por visitas aos locais de trabalho, respostas telefónicas e por e-mail e a edição regular de uma folha – o ContraCorrente, muito apreciada pela generalidade dos colegas.

Na verdade, apesar de a CT ser composta pelas várias correntes sindicais, muitos colegas confundem o MUDAR com a própria CT e vice-versa, simplesmente porque os deveres que uma CT tem de cumprir são assumidos unicamente pelo MUDAR. Todas as reivindicações são da nossa iniciativa. O melhor exemplo é o aumento anual da remuneração para os trabalhadores deste banco, enquanto a tabela salarial no sector bancário não foi aumentada entre 2010 e 2015. Actualmente, o Banco Santander Totta concede vários benefícios sociais e remuneratórios, para além do ACT (Acordo Colectivo de Trabalho), graças à persistência da nossa acção, muitas vezes contraria à coligação PS/PSD, no interior da CT.

É por isso que temos sempre ganho as eleições para a CT, desde que há Santander Totta. No último mandato, éramos 4 em 11 elementos que constituem a CT (PSD também 4 e PS 3). Agora ganhámos mais 1 mandato: MUDAR 5; PSD 3; PS 3, em resultado do número de votos: MUDAR 1.248; PSD 783; PS 771.

 

MAS: Quais foram as principais propostas de campanha do MUDAR? De futuro, quais são as tarefas a que o MUDAR, através da CT do Santander, pretende dar resposta?

AG: Nestas eleições, demos voz a importantes reivindicações, a saber: aumentos salariais sem diminuição dos complementos (a Administração subtraiu os aumentos da tabela salarial do sector nos aumentos remuneratórios – chamados complementos – , que temos conseguido, ou seja, pagou com uma mão e retirou com a outra); prémio de antiguidade – é preciso contas certas (os negociadores do novo ACT acabaram com o “prémio de antiguidade” e, por isso, o banco arrumou de vez o assunto e pagou, em Setembro, esse prémio conforme os anos de serviço de cada trabalhador; mas fê-lo com contas que não são proporcionais ao tempo de serviço); mulheres bancárias – parar as discriminações e o assédio; o medo tem de mudar de lado e queremos respeito foram também temas da nossa campanha contra o assédio moral no trabalho, que tem passado por consequências graves para os trabalhadores.

Vamos, é claro, continuar a pugnar a nossa acção pela reposição de direitos, retirados ao ACT (já temos mais de 1.200 subscrições num abaixo-assinado pelo pagamento da dívida no prémio de antiguidade) e pela conquista de melhores condições de trabalho, designadamente, pelo pagamento das horas extra, onde o banco falha seriamente no respeito pelo trabalhador/a e pela lei, bem como não deixaremos de lutar contra o assédio e pela punição dos responsáveis de gritantes situações.

“Mudar é vencer! Mudar é repor!” – foi o lema da nossa campanha eleitoral e vai continuar a ser na nossa acção quotidiana!

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