CGD: o banqueiro vai nu!

Defender a CGD 100% pública e exigir a eleição democrática dos elementos da sua administração, entre eles trabalhadores bancários. É necessário definir democraticamente um plano de investimento anual e desenvolver uma auditoria e controlo permanentes.

O novo Presidente da CGD, António Domingues, nomeado pelo Governo PS, com o apoio do BE e PCP, irá auferir de salário € 423 mil ao ano. O Conselho de Administração da CGD conta ainda com seis administradores executivos, a ganhar € 337 mil ao ano, cada um, e com três administradores não executivos, a ganhar € 49 mil ao ano, cada um.

Ora, por ano, temos um Conselho de Admnistração da CGD, o banco público, a auferir um total que rondará os € 2,6 milhões. Em Portugal, sempre se pagou bem a banqueiros para afundar bancos e este Governo PS, pelos vistos, não é excepção.

Segundo a lógica do Ministro das Finanças, a política remuneratória dos administradores da CGD corresponde à mediana no sector em Portugal. Esta lógica deveria ser sim aplicada ao conjunto dos trabalhadores portugueses. Talvez assim não fosse tão difícil ultrapassar os míseros 530€ de salário mínimo que este governo propôs para 2016.

A olhar para a reestruturação que o Governo PS está a implementar na CGD, em que se prevê o aumento dos salários da administração e o despedimento de 2.500 a 3.000 trabalhadores, algo está errado.

Parece inevitável tirar a conclusão de que uma medida só poderá servir para compensar a outra. Serão sacrificados 2.500 a 3.000 trabalhadores e suas famílias para manter e até aumentar os benefícios de um punhado de banqueiros.

Sobre António Domingues, o novo Presidente da CGD, há a referir que vem como vice-presidente da Admnistração de Fernando Ulrich, do BPI, banco onde executou funções durante 27 anos.

Recordemos que, em 2012, o BPI também foi dos bancos que recorreu à linha de recapitalização do Estado em cerca de € 1,5 mil milhões. Sem esta injeção de capitais públicos, sabe-se lá onde estaria hoje o BPI, pois, pelos vistos, não existiam investidores privados que confiassem o seu dinheiro ao BPI. Recordemos ainda que a Admnistração de Fernando Ulrich, da qual António Domingues fez parte, durante anos, foi a mais visível defensora da drástica aplicação de austeridade sobre os salários de quem trabalha, na altura, sob o famoso “aguenta, aguenta!”.

Fernando Ulrich sintetizava a seguinte orientação: “os buracos financeiros não são para ser pagos pelos banqueiros, por isso alguém vai ter de os aguentar”. Uma orientação seguida pelo anterior Governo PSD/CDS-PP, uma orientação seguida pelo atual Governo PS, com o apoio de BE e PCP, e uma orientação seguida por António Domingues, como já veremos.

António Domingues parece ser muito bem relacionado. É amigo próximo de Artur Santos Silva, também antigo administrador do BPI, hoje presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, que, por sua vez, terá grande influência sobre o Primeiro-ministro, António Costa.

Ora, o Governo PS fala num novo começo para a CGD mas os velhos métodos de nomeação de amigos para a administração, as velhas práticas e as velhas promiscuidades mantêm-se. Aliás, António Domingues deixou bem claro, na Comissão de Inquérito a que foi sujeito, em Setembro de 2016, que a racionalização de custos é para continuar. Mais específico ainda, segundo António Domingues, é preciso continuar a reduzir pessoal e fechar agências.

A orientação de Fernando Ulrich salta à vista: a racionalização de custos na CGD é para aplicar a todos, exceto ao banqueiro.

O banqueiro vai nú. O Governo, com o apoio de BE e PCP, diz que ele vai elegantemente vestido, e ambos continuam a querer tomar por tolos todos os outros, cansados de lhe verem a pele.

As sucessivas administrações da CGD têm servido de correia de transmissão dos interesses privados, no seio do banco público. Ao invés de servirem o interesse público, têm-se servido deste em proveito do seu próprio interesse. Esta administração não comporta elementos de que fará diferente.

BE e PCP não devem apoiar esta reestruturação da CGD. A CGD ficará, para já, pública mas nada estará salvaguardado quanto ao seu futuro. Os planos, a médio-longo prazo da UE, com o acordo dos sucessivos Governos PS e PSD/CDS-PP, têm-no demonstrado.

Para além disso, os capitais 100% públicos na CGD não a salvaguardam da penetração dos interesses privados. É necessário ir mais além. Defender a CGD 100% pública e exigir a eleição democrática dos elementos da sua administração, entre eles trabalhadores bancários. É necessário definir democraticamente um plano de investimento anual e desenvolver uma auditoria e controlo permanentes. Mais, é necessário exigir que as sucessivas administrações passadas da CGD sejam responsabilizadas pelos buracos financeiros criados. Esta é a obrigação de BE e PCP!

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