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A gerigonça funciona?

Paulo Portas, um dos mais inefáveis reaccionários da direita portuguesa, para atacar o Governo de António Costa, apelidou, em tom jocoso, o actual acordo de “esquerda” entre o PS/BE/PC, de “geringonça”. E assim ficou para a história. Paulo Portas, um dos mais inefáveis reaccionários da direita portuguesa, para atacar o Governo de António Costa, apelidou, em tom jocoso, o actual acordo de “esquerda” entre o PS/BE/PC, de “geringonça”. E assim ficou para a história.

Nós, do MAS (Movimento Alternativa Socialista), nada temos que ver com o combate pela direita que o PSD e o CDS-PP fazem ao actual Governo. Basta lembrar que, quando Assunção Cristas (actual líder centrista e sucessora de Portas) critica o próximo Orçamento do Estado (OE) para 2017 por considerar que este representa um ataque cerrado às “classe médias”, só nos dá vontade de rir, dado que o Governo PSD/CDS-PP, que precedeu o actual Executivo, foi de longe o governo que mais atacou, não só as classes médias, como todo o povo português.

Massacrando-nos com a CES, cortes nos salários, congelamento de carreiras, cortes nas pensões, tendo ainda produzido, como bem descreveu as próprias palavras do então odiado ministro das Finanças da direita (Vítor Gaspar), o OE do “maior aumento de impostos que o país conheceu”.

Está tudo dito sobre esta direita ávida por regressar ao poder a todo o custo, mas que, miserável e hipocritamente, critica o actual Governo, por fazer o que inegavelmente a direita já fez e até a um nível de agravamento impensável. Deixando claro que nada temos que ver com estes sectores da direita, acontece que uma esquerda exigente e crítica, para contrabalançar os ataques da direita ao Governo Costa, não tem por que se acobardar como acontece hoje com o BE, o PC e até o PAN.

Ser de esquerda hoje não requer (pelo contrário) ser, necessariamente, seguidista da “geringonça”, acrítica da sua austeridade disfarçada de “consolidação orçamental” e, menos ainda, temos que estar satisfeitos com este Governo PS.

Este Governo, desculpem-nos a esquerda acomodada, é muito similar, nas questões centrais, a tantos outros que governam como a direita. Ainda que governe de forma soft (comparado com o hard do anterior governo PSD/CDS-PP), continua, no entanto, a ser um Executivo submisso ao Euro e à UE, aos seus constrangimentos económicos e, se tudo continuar como está, é certo que o país não sai da crise, os trabalhadores portugueses continuarão a empobrecer, agora pela mão de um Governo dito de esquerda, do PS/BE/PC. Esta é uma verdade inquestionável.

Actualmente, o MAS é a verdadeira e consequente oposição de esquerda a este Governo. Não podemos aceitar que o BE e o PCP, com mais ou menos crítica de vez em quando a algumas medidas mais gravosas, capitulem posteriormente a orientações em tudo semelhantes às que qualquer governo de direita produziu.

Vejamos somente um exemplo: na banca, tudo o que o PS está a fazer actualmente para solucionar os problemas do BANIF (desde o início do mandato do seu Governo), do Novo Banco, do antigo BPN e, mais recentemente, da CGD, em nada difere do que fez a direita. Todos os bancos intervencionados pelo Estado (previamente roubados pelos banqueiros e pelos seus amigos) aos milhões de euros promoveram o despedimento de milhares de trabalhadores bancários, sem que as situações nos respectivos bancos melhorassem um milímetro que fosse.

Neste momento, o PS desfere sobre a CGD as mesmas “receitas” dos anteriores governos. Aumenta exponencialmente os salários (já de si exorbitantes) dos seus administradores, para agradar à UE e, por outro lado, despede pelo menos 2 500 funcionários. Claro que estes despedimentos vão aparecer sob a capa de “reformas antecipadas”, “acordos amigáveis”, “rescisões voluntárias”, etc.

A esquerda julga-se no destino da CGD.

O MAS diz: não à reestruturação em curso. O BE e o PC deveriam equacionar o seu apoio ao Governo e ao próximo OE para 2017.

Há que ser mais exigente e rigoroso, há que aplicar verdadeiras e profundas mudanças na forma de governar o país, nos planos económico/financeiro, político e social. Para ser verdadeiramente de esquerda, não basta apenas parecer, é preciso sê-lo na prática e em questões cruciais para o país, como é o caso da gestão do sector bancário.

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