Ser trabalhador em Lisboa é sinónimo de perder horas da nossa vida todos os dias ou em transportes, ou de automóvel. As rendas altas no centro empurram-nos para a periferia. Uma rede universal de transportes públicos em toda a área da grande Lisboa é uma necessidade básica que o Estado tem que garantir.
O Metro, a Carris, a SofLusa, a Transtejo e a CP, padecem de problemas muito semelhantes: falta de pessoal, falta de manutenção, falta de investimento. Que se traduzem no cansaço e sobrecarga de trabalho para os trabalhadores actuais, carros/autocarros/barcos PARADOS por não se autorizarem os gastos para a sua reparação, e tempos de espera, transportes sobrelotados, atrasos e falhas intermináveis para os utilizadores. Ninguém ganha com esta situação: só teremos mais qualidade e segurança nos serviços com mais funcionários, mais respeitados e reconhecidos e menos sobrecarregados. Na Soflusa e no Metro por exemplo, os trabalhadores estão atolados em horas extraordinárias pois ainda não foram preenchidas as vagas deixadas em aberto pelas rescisões do governo anterior.
Continuam públicos. É preciso serem melhores!
A sede ‘privatizadora’ do último governo parecia não ter fim: antes de se irem embora de vez, ainda avançaram com a privatização da Carris e do Metro, o que iria causar um retrocesso ainda maior na qualidade e acessibilidade destes serviços e nas condições de trabalho dos seus funcionários. Felizmente, ainda em 2015 a privatização foi travada. Mas o que foi determinante para evitar essa catástrofe? Mais do que as pretensões do actual Governo do PS apoiado pela esquerda, o que garantiu a celeridade da sua intervenção foram as sucessivas greves nos anos anteriores dos trabalhadores dos transportes, e a ameaça destas continuarem para travar a privatização. Foi com essa luta que conseguimos impedir um enorme passo atrás. E será da mesma forma que conseguiremos avançar.
Em matéria de privatizações ruinosas, o PS não merece o benefício da dúvida: há 40 anos que se alternam no governo com PSD e CDS. Já tiveram várias oportunidades para reverter privatizações que são autênticos atentados ao bem comum como a da GALP, EDP, PT, Fertagus, Lusoponte, ou mais recentemente os CTT, a Tranquilidade, a REN, EMEF, CP Carga, TAP, etc. Os PEC do governo Sócrates já previam a privatização (ou a venda de ainda mais acções do Estado) de várias empresas como a ANA, Caixa Seguros, CP-EL, CP Carga, CTT, Edisoft, EDP, EID, Empordef-TI, ENVC, GalpEnergia, REN e TAP.
Privatização, não!
Os problemas dos Transportes de Lisboa não se resolverão com a sua privatização. Basta ir à Margem Sul e experimentar: todas as empresas de transporte privadas, todas de péssima qualidade e caras, muitas vezes sem passes intermodais, e que obrigam à necessidade de apanhar 3 ou 4 transportes para chegar ao destino! É vergonhoso que uma mesma empresa como o Grupo Barraqueiro, de Humberto Pedrosa, seja dona de 29 empresas de transportes em Portugal, como a Fertagus, MTS, RNE, EVA, RL… Desde o desmantelamento e privatização de empresas como a Rodoviária Nacional que estes e outros “grandes peixes” têm vindo a engordar à nossa custa, vendendo-nos ao preço que entendem um bem essencial. A solução é mais investimento nas empresas públicas e (re)nacionalização das privadas, não a sua concessão ou qualquer outra forma de privatização encapotada.
“Andem de transporte público”: será que o Primeiro-Ministro anda?
Há uns meses António Costa demonstrou que desconhece completamente a realidade dos Lisboetas. Para justificar o aumento dos impostos sobre os combustíveis com pretensas motivações ecológicas, aconselhou-nos a andar mais de transportes públicos, para não sermos afectados. Isso pode valer para quem mora nas Avenidas Novas, e trabalha no Marquês de Pombal, mas não para a gigantesca maioria do povo. Os transportes públicos não chegam a todo o lado, não funcionam 24h por dia, e muitas vezes fica mesmo mais barato ir de automóvel que comprar o passe. O planeta como o conhecemos não durará muito mais com o actual nível de dependência de combustíveis fósseis. Mas a culpa não é dos trabalhadores que se vêm forçados a ter carro. Quanto custam as alternativas eléctricas? Quanto custa uma casa para uma família no centro das grandes cidades? O Governo aumenta os combustíveis, mas não faz a outra parte, que é dar alternativas.
Unificar as lutas:
Só conseguiremos mais e melhor transporte público pondo na rua nos mesmos dias aqueles que têm os mesmos interesses: os trabalhadores dos transportes, e os cidadãos que os utilizam. A única forma de superar a falta de compreensão de alguma da população para com as lutas do sector dos transportes, é lutar juntos por objectivos de todos. Com mais greves de todo o sector, com reivindicações claras, com uma política de comunicação e diálogo com os utentes. Bastariam alguns dos milhares que usam os transportes de Lisboa todos em protestos para fazer a mudança acontecer, tal como aconteceu em Setembro passado.
Transporte PÚBLICO e de QUALIDADE!
Mais manutenção, mais segurança!
Mais autocarros! Mais carruagens no metro! Mais barcos!
Alargamento da rede! Extensão dos horários!
Mais contratações!
Preços dos passes associados aos rendimentos das famílias!
Mobilidade para todos! Melhores acessos para as pessoas de mobilidade reduzida!