O nosso objectivo aqui é despertar consciências. Queremos fazer lutadores e lutadoras. O capitalismo diz-nos todos os dias que somos objectos da História, que as mudanças da sociedade não dependem de cada um de nós. Mas dependem.
Este Acampamento tem tido nos últimos anos a capacidade de mostrar por onde este partido pode ir. Lembro-me quando éramos sobretudo jovens estudantes e o que nós dizíamos na altura era: “Queremos ir para o mundo do trabalho e queremos representar os sectores mais precarizados da classe trabalhadora.” Hoje temos aqui trabalhadores de call-center, sindicalizados no sindicato que ajudámos a criar. Temos um companheiro dirigente sindical estivador. Hoje os trabalhadores precários já começam a estar aqui.
É uma questão sobretudo das mulheres, dos negros e LGBT mas também de todos nós de nos sentirmos mais livres. No mundo da opressão só somos livres se lutarmos para acabar com essa opressão. Caso contrário somos um objecto passivo dessa opressão.
Hoje em Portugal há um tema em que temos avançado, que é a invisibilidade do racismo. Até hoje não víamos a dimensão do problema. É preciso uma força política em Portugal que diga que o estado português é um estado racista. Queremos fazer tremer as consciências. É preciso dizer que temos uma dívida para com os povos negros pelos 500 anos de holocausto. Não ouvimos obviamente o PS, PSD e CDS a dizer isso, mas infelizmente não ouvimos o Bloco de Esquerda e o PCP a dizer isso. Eles representam os alguns trabalhadores, brancos, estáveis, homens, maioritariamente. E mesmo esses representam-nos mal. Que falar dos outros?
Há essa necessidade na sociedade portuguesa. Temos a possibilidade de a satisfazer. Construir o MAS não só como quem luta pelas 35 horas, como quem luta contra a UE e o Euro, pelo que o povo esteja nas ruas a lutar e nas greves gerais. Já somos conhecidos por isso tudo, mas também queremos ser conhecidos como aqueles que ajudaram a criar e a unificar o movimento negro em Portugal, que estão dadas as condições para que se crie.
Esses vazios ou vão ser ocupados por nós ou pela revolta e pelo desespero. Queremos revolta, mas consciente, unindo as lutas e a classe. Só há uma força política disposta a fazer isso, que é o MAS, e que tem as portas abertas. É possível vencer. O mundo não foi sempre como é hoje, e não vai ser sempre como é hoje também no futuro. Depende de cada um de nós.
Manuel Afonso, dirigente do MAS, no encerramento do Acampamento de Jovens 2016