Editorial

Lutas exigem acção unificada. Contra o PEC, preparar greve geral.

A contestação popular, neste início do ano, voltou a sentir-se nas ruas. Enquanto no ano de 2009 prevaleceram as “tréguas”, e o descontentamento popular foi canalizado para a via eleitoral, para o voto contra o governo, já nestes três meses de 2010 houve uma mudança, e foram muitos trabalhadores de vários sectores e empresas que entraram em greve e realizaram manifestações contra a política do governo Sócrates II, pondo rapidamente um fim ao habitual período de “benefício de dúvida” que favorece os “novos” governos e intensificando ainda mais o desgaste de Sócrates.

O anúncio das medidas do PEC, e os previsíveis efeitos na destruição de emprego, dos salários dos trabalhadores e na maior destruição dos bens e serviços públicos, levou a que muitos trabalhadores do sector público, e também do sector privado, mostrassem a sua oposição às medidas de congelamento e restrições salariais e dissessem um basta às desigualdades sociais, um basta à corrupção e aos rendimentos milionários das administrações, um basta a todas estas políticas governamentais que têm beneficiado o poder político e económico capitalista.

Como novidade, este ciclo está a mostrar uma maior combatividade e adesão às lutas, e a greve dos enfermeiros foi um bom exemplo, participada em mais de 90% dos trabalhadores, tendo estes levado a sua luta à rua, na grande manifestação em Lisboa.

Apesar de muitas lutas serem parciais e/ou limitadas a partes de empresas, as greves fizeram-se sentir (como foi o caso da greve dos revisores da CP ou dos mineiros de Neves Corvo), e perspectivam-se mais lutas e greves em grandes empresas como a

GALP, as empresas de transportes, a administração pública e em diversas fábricas.

A situação europeia mostra que os governos, nos diversos países, têm o projecto comum de aplicarem PEC’s semelhantes, para que sejam os povos a pagarem a crise que o capital provocou. Em Portugal, a contestação ainda está longe dos níveis de luta dos trabalhadores e do povo grego que já começam e enfrentar, com sucesso, o seu PEC. Mas, o caminho da luta, por cá, também terá de ser de grande combatividade, se queremos que tenha êxito. Uma ofensiva europeia concertada pelo capitalismo requer uma resposta dos trabalhadores também à escala europeia, e os ventos das greves gerais gregas também terão de chegar a esta região mais ocidental.

É pois o momento dos militantes de esquerda, em particular do BE, e do movimento sindical começarem a preparar uma forte resposta ao PEC, uma resposta que o possa derrotar e abrir espaço a uma nova política de defesa do emprego, do salário e dos serviços públicos. Só a participação e mobilização dos trabalhadores para um plano de luta, debatido e decidido em Plenários de Empresa e Assembleias Sindicais, pode preparar com sucesso uma necessária greve geral. Neste campo, os trabalhadores gregos começaram a dar um exemplo de combatividade, há que segui-lo.

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