1.Para a esquerda são as lutas dos trabalhadores que põe à prova as suas opções e politicas. Foi em nome da defesa dos salários, contra a precariedade e as medidas da direita que PCP e BE dizem apoiar o governo PS.
2. A greve dos estivadores é por tudo isso: contra a precariedade, os baixos salários e uma medida da direita, a lei dos portos (ou as suas consequências, no caso a actividade da PROLIS).
3. O governo PS perante essa lei fez o mesmo que a direita nos habituou: fazer ouvidos surdos às reivindicações e decretar serviços mínimos abusivos.
4. Por sua vez BE e PCP dizem estar do lado dos estivadores e o PCP mostrou-se contra os serviços mínimos. Temos acordo com as palavras do PCP. Infelizmente os trabalhadores não vivem de palavras mas de salários, e os salários conquistam-se com actos. Esta já não é a primeira luta em que as palavras do PCP – e da CGTP -, não coincidem com os seus actos.
5. Se formos 2013 podemos lembrar-nos da famosa manifestação da ponte 25 de Abril, num momento de luta contra o governo Passos e Portas, em que este podia ainda ser derrotado e derrubado, em que também estavam em luta os estivadores, a CGTP recuou perante a proibição ilegal da manifestação da ponte que a direita decretou. Em vez de enfrentar o governo, que nada poderia fazer contra os manifestantes, a CGTP fez a primeira manifestação de autocarros da história, desmoralizando os trabalhadores e dando razão à proibição ilegal do governo, permitindo um grave precedente anti-democrático no país. Não por acaso desde ai não houve nenhuma grande manifestação nacional e a direita pode terminar o mandato.
6. No fim de 2014 a direita avançou com a privatização da TAP, os vários sindicatos do sector marcaram uma greve para os últimos dias do ano. Pouco tempo depois os sindicatos afectos à UGT e alguns outros recuaram. Mas o SITAVA e os sindicatos ligados à CGTP, com grande peso do PCP na sua direcção, mantiveram a greve. Perante isto a direita decretou uma requisição civil ilegal. A CGTP disse que a requisição civil era ilegal, o SITAVA manteve a greve, mas declarou que não apoiaria os trabalhadores que fossem acusados de romper a requisição civil, não chamou a desobedecer a este medida ilegal nem organizou os trabalhadores nesse sentido. Resultado: na prática não houve greve e a TAP como sabemos foi privatizada!
7. Hoje, na greve dos estivadores, o PCP tem maior responsabilidade porque apoia o governo. Se o PCP apoia o governo (coisa que o MAS crítica) deveria ser para ter algum poder para ajudar os trabalhadores nestas situações. Porém vemos que não é assim. O PCP vem a público pronunciar se contra os serviços mínimos e fez as seguintes perguntas à ministra do Mar “Quais as razões que motivaram a decisão do Governo no sentido de decretar serviços mínimos para a greve no Porto de Lisboa – e que apenas se concretiza se o patronato deliberadamente a provocar? E Que medidas estão a ser tomadas para que o patronato pare de desestabilizar a actividade portuária em Lisboa?”[1].
8. O PCP e o BE deveriam propor no parlamento não apenas a retirada destes serviços mínimos e fazer perguntas à ministra do Mar mas exigir a revogação da lei dos portos. Se o PS não aceita, não se percebe porque BE e PCP apoiam um governo assim.
9. Ao mesmo tempo, a CGTP, PCP, BE e toda a esquerda, deviam apoiar os estivadores para desobedecerem a estes serviços mínimos, fornecendo não apenas apoio político e jurídico (para demonstrar que os serviços são ilegais e apoiar os grevistas), mas também em mobilizar a intersindical e seus sindicatos para ajudar o sindicato dos estivadores a montar piquetes para garantir a greve e fazer uma grande manifestação em frente ao Ministério do Trabalho contra esta medida autoritária do PS. O apoio a esta luta devia estar no centro do 1º de Maio da CGTP. Assim romper-se-ia o cerco aos estivadores e com o apoio de todos os trabalhadores e toda a esquerda, o governo e os patrões dos portos teriam de recuar.