Nos próximos dias será publicado um conjunto de textos que tem como objectivo sistematizar aquelas que nos parecem ser as principais tendências económicas em desenvolvimento, durante o ano de 2016, e daí retirar algumas conclusões.
Não é fácil perceber, no imediato, o que se está a passar na economia mundial e quais serão exactamente as suas consequências. Ainda assim, (i) o abrandamento das economias dos países emergentes; (ii) a queda continuada do preço do petróleo; e (iii) as limitações da política seguida pelo BCE e UE assinalam os grandes factores que mais podem influenciar a trajectória do capitalismo mundial.
Alguns indícios de abrandamento das economias emergentes
Depois do enorme crescimento das últimas décadas, o ano de 2015 e início de 2016 ficam marcados pelos primeiros solavancos na economia chinesa. Prevê-se que a China tenha crescido cerca de 6,9%, em 2015, e venha a crescer 6,3% e 6%, em 2016 e 2017, respectivamente. Apesar de serem taxas de crescimento consideráveis, tem vindo a instalar-se um claro e continuado comportamento de abrandamento da economia chinesa, registando já o pior ritmo de crescimento dos últimos 25 anos.
Estes são sinais de que existem, pelo menos, sectores da economia chinesa que estão a sofrer fortes retracções no seu consumo e investimento. Ou seja, começam a alcançar o seu ponto de sobreaquecimento, excesso de produção e dificuldades em escoar os seus produtos, conduzindo a retracções no seu investimento.
Em 2015, as exportações chinesas registaram quedas abruptas: -8,9%, em Julho, e -6,1%, em Agosto, assim como as importações que registaram quebras de -8,6% e -14,3%, naqueles mesmos meses. Na totalidade do ano de 2015, as exportações chinesas terão diminuído -1,8% e as suas importações terão diminuído cerca de -13,2%. Por outro lado, a produção industrial tem sofrido um acentuado e contínuo abrandamento desde 2011. Para além disso, nos últimos 6 meses, os mercados financeiros chineses têm dado sinais de colapso, com fortes quebras, suspensão das bolsas e intervenção do governo com injecções massivas de capitais para, no imediato, evitar quedas catastróficas. Estes são, pelo menos, indícios de que toda a economia chinesa se começa a ressentir.
Para analisar a extensão dos impactos que poderão advir da queda da economia chinesa para as restantes economias mundiais, seria necessária uma investigação mais aprofundada quanto à saída, entrada e destino/origens do investimento estrangeiro da e para a China. No entanto, as quedas dos mercados financeiros chineses e o seu presente alastramento aos importantes mercados mundiais, como o americano e europeu, fazem crer que as repercussões, no presente cenário de crise, poderão ser, no mínimo, perigosas (para mais em economias praticamente estagnadas como a europeia e a dos EUA).
Para além da China, o Brasil e a Rússia são outras das economias emergentes que se ressentem. Em 2014, o Brasil cresceu cerca de 0,1%. Para 2015, espera-se que o Brasil tenha sofrido uma contracção económica de -3% e, para 2016, o FMI prevê que o PIB brasileiro mantenha um decréscimo de cerca de -1%. A Rússia terá registado um PIB de 0,6%, em 2014 e um decréscimo de -3,7%, em 2015.
Mesmo a Índia, que evidenciou algum fôlego em 2014, parece evidenciar uma perspectiva de abrandamento, tendo registado um crescimento de cerca de 7,2% em 2014 e de 5,5%, para 2015 (de acordo com a mesma forma de cálculo utilizada para o ano de 2014).
Num primeiro momento da crise (2008), as economias ditas emergentes assumiram um papel de grande relevância para as economias desenvolvidas. Perante uma crise brutal no seio dos EUA e da Europa, e para tentar contrariar a queda abrupta das suas taxas de lucro, as economias desenvolvidas avançaram com um duro plano de compressão de salários, condições de trabalho e serviços públicos (os famosos planos de austeridade, ainda em aplicação), ao mesmo tempo que exportaram parte considerável dos seus capitais, produtos e investimentos para as economias emergentes – onde a mão-de-obra é infinitamente mais barata
No presente momento (2016), verifica-se que a crise iniciada em 2008 e a, consequente, deslocação de capitais parece estar a gerar uma nova crise de excesso de produção, agora localizada nas economias emergentes. Ou seja, a crise de ontem, que se fez sentir predominantemente no centro do capitalismo, sem que tenha sido resolvida, está na origem de uma possível nova crise localizada nas economias mais periféricas.
A conjugação destes dois processos poderá alongar no tempo uma crise do capitalismo que já se estende há 8 anos, aprofundando os seus efeitos.
José Aleixo