Na madrugada de 27 de Fevereiro, grande parte de nosso país foi atingida por um terramoto, sentido desde Coquimbo, no Norte, até Valdivia, no Sul; na zona central do país, de Santiago a Conceição, o terramoto foi devastador. Como sempre, os mais atingidos foram os trabalhadores e o povo.
De imediato, o Governo fez declarações confusas e erróneas, afirmando que o terramoto não teria registado uma grande magnitude e, pior ainda, que não havia perigo de um tsunami no litoral de nosso país; a realidade encarregou-se de demonstrar o contrário. Houve tsunami e povoados inteiros do litoral das regiões de Libertador Bernardo O’Higgins, Maule e Bio-Bio desapareceram.
Novamente ficou em evidência a existência de dois “Chiles”, o dos ricos e poderosos que nada sofreram e o dos explorados e pobres que foram devastados pelo terramoto. Ficou claro, também, que as políticas económicas neoliberais são um fracasso. Nos povoados onde o investimento em saúde e educação não é rentável, as construções mais antigas desmoronaram. Mas não só aí manifestou-se a ineficácia da “lei do mercado”. Nas grandes cidades, onde já não há fiscalização das construções, em virtude da lei aprovada pelos governos da “Coalizão” [{coalizão de centro-esquerda no poder no Chile desde 1990}], estas vieram abaixo ou estão em tal estado que deverão ser abandonadas para posteriormente serem demolidas, com os seus moradores vendo o sonho da casa própria ser dissipado.
Este terramoto também demoliu o modelo neoliberal, pois deixou em evidência que as zonas mais afectadas pela crise económica e com os maiores índices de desemprego do país mostram os maiores níveis de desespero de seus habitantes para obter os elementos básicos de sobrevivência, como o são a água e os alimentos; isto ocorreu em Lota, Coronel, Talcahuano e Conceição.
São várias centenas de mortos [{a 3 de Março, o número oficial de mortos era de 799}] e é muito possível que as cifras se elevem além da casa dos mil, sem contar com os desaparecidos; enquanto Michelle Bachelet [{presidente do Chile}] falava de uma irrisória cifra de cerca de 60 mortos. Se a ineficiência do governo Bachelet se explicitou com uma simples divulgação de dados, a verdade é que esta ineficiência foi se agudizando com o decorrer das horas. A ajuda do governo central foi tardia, e tivemos que sofrer não só com o terramoto como também com a falta de bens básicos para a subsistência, como água, alimentos, electricidade, entre outros; e, para piorar, as comunicações mantêm-se suspensas desde o dia do terramoto.
A resposta do povo trabalhador
Ante a lentidão mostrada pelo governo para enfrentar esta catástrofe, o povo pobre reagiu nas cidades mais afectadas com o autoabastecimento. As pessoas organizaram-se para sair à procura de alimentos e dos bens básicos para sobreviver nos grandes {shoppings} e supermercados, e a isto a autoridade e os meios de comunicação da burguesia chamaram de “saque”. Nós justificamos plenamente estes “saques”, pois, frente à carência de alimentos, é legítimo buscar a sobrevivência; o que, sim, condenamos é o aproveitamento que fazem os {lumpens} para roubar, o que só faz com que a autoridade justifique com estas acções a repressão e a militarização das zonas atingidas.
Enquanto hoje os meios de comunicação condenam o “saque”, sempre mantiveram-se calados e durante anos nunca denunciaram o saque do qual todos os chilenos fomos vítimas pelas empresas transnacionais e os patrões deste país, como o futuro presidente Sebastian Piñera. Estes saquearam os nossos recursos sob a vista e a resignação dos governos da “Coalizão” e com seu total beneplácito.
O governo e a direita (próxima a ser governo) alegaram que a solução dos problemas é a repressão, o toque de recolher e a limitação das liberdades individuais básicas, e decidiram, mediante a legalidade da Constituição de Pinochet [{ditador Augusto Pinochet, que tomou o poder no Chile com o golpe militar de Setembro de 1973]}, decretar o toque de recolher nas zonas atingidas e militarizá-las. Nós nos opomos taxativamente a esta situação, pois entendemos que não é a solução aos problemas acarretados pela catástrofe, a solução é ajuda imediata já!
Que fazer de imediato
Concordamos com os companheiros do Sindicato SITECO em sua declaração: “(…) a todas as organizações sindicais e sociais para juntar esforços para recolher alimentos, cobertores, fraldas, todo tipo de vestiário e outros produtos para ajudar os nossos irmãos de classe que hoje sofrem, assim como também constituir brigadas operárias para contribuir na reconstrução de nossa Pátria, como tem sido a tarefa e dever históricos de nossa grandiosa classe operária”.
Acrescentamos que deve ser a CUT a colocar-se à cabeça desta tarefa, pois só a classe trabalhadora será capaz de ajudar à classe trabalhadora, devem ser os trabalhadores dirigidos por organismos de classe, como a CGT e o SITECO, que liderem esta ajuda, e exijam da CUT que levante esta bandeira de solidariedade e luta; não temos dúvida de que dentro da CUT ainda há dirigentes honestos e lutadores que saberão estar à altura das circunstâncias. Devemos construir uma corrente classista que demonstre que, na acção, podemos organizar-nos e sair em ajuda dos que perderam tudo. Devem ser estes organismos os encarregados da distribuição dos produtos de primeira necessidade e da organização dos comités de autodefesa dos habitantes.
Olhando para o futuro
Concordamos com os companheiros de Revolução Proletária quando dizem: “governo dos trabalhadores, planeamento socialista e democrático”, pois temos clareza que só o socialismo poderá evitar que estes eventos naturais nos atinjam com tanta força. É certo que não podemos evitar estes cataclismos, mas também é certo que, com uma economia a serviço dos trabalhadores, e não de mercado, poderíamos evitar uma importante quantidade de mortos; só um cego não vê que aqueles que têm tudo nada sofreram; enquanto que os que tudo produzem, a classe trabalhadora, mas que não têm nada, foram os mais afectados.
Aqui também faz-se concreta a contradição “socialismo ou barbárie”, pois ficou claro que, enquanto os de cima, os poderosos, hoje dormem em suas casas sem problemas e sem nenhuma restrição, os de baixo devem suportar o toque de recolher, a falta de alimentos e de serviços básicos.
Plano de emergência já!
Alimentos e utensílios básicos para toda a população atingida!
Não ao toque de recolher e fim das restrições às liberdades individuais!
Que a CUT lidere a solidariedade!
Por uma corrente classista que lidere a ajuda aos atingidos através dos sindicatos!
Nacionalização de todos os grandes supermercados, sob controlo dos trabalhadores!
Plano de reconstrução: moradias, estradas, hospitais e escolas financiadas pelo Estado e sob controlo dos trabalhadores!
Pela renacionalização do cobre para financiar todos os programas de construção!
Perdão de todas as dívidas habitacionais!
Trabalho para todos os desempregados e salário digno de 350 mil pesos!
Força Revolucionária – Esquerda Comunista
Partido Revolucionário dos Trabalhadores
Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional