Esta é a questão que paira sobre a cabeça de milhares de trabalhadores. A noção de que a austeridade mais não é que a receita para salvar os grandes bancos à custa do povo já é geral há vários anos.
A compreensão de que a austeridade só serve para salvar a Banca levou centenas de milhares de pessoas às ruas entre 2011 e 2013. Mas, apesar de algumas vitórias, como contra o aumento da TSU, a austeridade continuou e continua.
A vitória do Syriza na Grécia encheu de esperanças milhares de trabalhadores. Travar a austeridade era a promessa de Tsipras. Porém, os recuos do Governo grego nas negociações com o Eurogrupo têm o efeito contrário. Entre outras coisas, o Syriza, ao se submeter às regras de Merkel e do Euro, reforça a ideia de que “não há alternativas”.
Reafirmamos que podemos travar a austeridade!
Se grande parte dos povos europeus se opõe à política de austeridade e procura políticas alternativas; se há um ódio crescente aos políticos e partidos da classe dominante; se há até o crescimento eleitoral dos partidos que recusam a austeridade, porque parece impossível mudar de rumo?
Porque até agora, infelizmente, a esquerda e os partidos que representam os trabalhadores não têm estado à altura. Em Portugal, nos momentos das grandes lutas que derrotaram a TSU, a CGTP e os movimentos afectos ao PCP e ao Bloco de Esquerda tudo fizeram para controlar e acalmar a contestação. A CGTP protagonizou até o triste episódio da manifestação da ponte 25 de Abril, feita de autocarro, para não enfrentar o Governo. Ao mesmo tempo, o PCP e o BE, ao manterem-se divididos, reforçam a ideia de que é impossível derrotar os partidos da austeridade. Por fim, estes partidos não têm posições claras sobre a dívida e o Euro que ajudem a explicar como se pode romper de facto com a austeridade. Reina a divisão e a confusão.
Faz falta uma CONVERGÊNCIA CONTRA A AUSTERIDADE
À antiga divisão da esquerda soma-se agora uma constelação de novos partidos que, de alguma forma, se opõe à austeridade, à corrupção e aos governos PSD/CDS-PP e PS. Este fenómeno expressa a procura de alternativas. É necessário unir e clarificar. Por isso o MAS propõe um Encontro das Alternativas que prepare uma candidatura unitária de partidos, movimentos e activistas contra a austeridade e que desafie também o BE e o PCP para uma aliança que possa derrotar a direita e o PS.
Apoiar e ampliar as lutas
Por não se ter derrotado o Governo quando havia milhares na rua, hoje há menos lutas. Greves como a da EFACEC, do Metro e da Carris ou as lutas contra a privatização da TAP ou contra os despejos devem ter o apoio de todos os sindicatos e movimentos, para, a partir daí, voltarmos às grandes lutas contra a austeridade. Greves isoladas e manifestações rituais só desgastam quem resiste.
Um programa para resgatar salários e soberania
A devolução de salários e pensões, o aumento do salário mínimo para 600 euros ou a diminuição do IVA são medidas essenciais para repor o que foi roubado. Para combater o desemprego e a precariedade é necessário acabar com os contratos a termo e as horas “extraordinárias” permanentes. Mas só com a nacionalização da banca e com a suspensão do pagamento da dívida é que é possível sustentar estas medidas, assim como com o ataque feroz à corrupção, confiscando os bens de banqueiros e políticos corruptos. Tudo isto coloca na ordem-do-dia a saída do Euro, sem a qual não há soberania, como prova a situação grega. Só com uma orientação clara podemos travar a austeridade.
Manuel Afonso