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BES, o Buraco dos Espírito Santo (5/5) – A face política do buraco BES/GES

Como terceiro factor que contribuiu para a fragilidade do BES, elencam-se as quezílias entre os pares de Salgado.

 

A mais destrutiva terá sido a guerra com Pedro Queiroz Pereira (PQP), industrial, accionista de controlo da Semapa e antigo aliado dos Espírito Santo. Este era igualmente administrador e accionista (com 7%) da ES Control, holding de topo do GES.

As relações entre as famílias Queiroz Pereira e Espírito Santo terão sido pisadas em 2001, quando o BES apoiou o chumbo da oferta pública de aquisição de PQP sobre a Cimpor, tendo o Banco chegado a apoiar a francesa Lafarge na compra de uma parte da cimenteira.

Após este episódio, as relações ainda pioraram com a luta pelo controlo da Semapa. Segundo a informação publicada, Ricardo Salgado terá gerido, durante uma década e por intermédio de uma sociedade luxemburguesa anónima, uma importante participação no grupo Semana. Faltaria apenas 1% para que Salgado dominasse, com os seus aliados, o grupo Semana. Em 2012, a intenção do banqueiro seria mesmo a de controlar a Semapa, o maior grupo industrial português.

PQP, ao descobrir, sentiu-se traído e terá montado um plano para afastar os Espírito Santo do capital social do seu grupo, pelo menor preço possível. Criou uma equipa, dentro da Semapa, para passar a pente fino as contas da ES Control. Constituiu um dossiê que revelava todo o buraco financeiro do GES. Aliou-se ao BPI, com mais de 10% da Semapa, e foi este que detectou a dimensão da exposição que o fundo Espírito Santo Liquidez, vendido aos clientes do BES, tinha a títulos de dívida de empresas do GES. Em Outubro de 2013, PQP, enquanto administrador e accionista da ES Control e como forma de pressionar a saída dos Espírito santo da Semapa, denunciou ao BdP indícios de irregularidades naquela holding, levantou problemas sobre a estrutura de gestão e fez passar a ideia de que existiam fragilidades financeiras no GES.

Esta era em 2013, apenas uma das frentes de batalha de Salgado, a maior, sem dúvida. A par desta, e talvez como consequência, justou-se a factura deixada pela administração de Álvaro Sobrinho no BES Angola e, entre a família, Ricciardi começou a levantar dúvidas sobre a capacidade de liderança de Salgado.

Foi precisamente a partir de Outubro de 2013 que o reinado do BES se começou a desmoronar.

Como quarto e último factor surge a justiça portuguesa. Se na última década todos os casos criminosos que envolviam os Espírito Santo passaram impunes, é precisamente agora que um caso de fuga fiscal cria um clima de condenação e um escrutínio da vida da família.

Olhando para a última década, o BES viu-se envolvido: (1) Caso Portucale com ministros do CDS-PP; (2) Caso dos Submarinos com Paulo Portas; (3) Caso Mensalão e o financiamento do PT de Lula da Silva; (4) fraude na gestão dos CTT, onde se inclui a venda de imóveis valorizados do dia para a noite; (5) Operação Furacão e (6) Operação Monte Branco relacionadas com fraude fiscal e branqueamento de capitais; (7) 14 milhões de euros que Ricardo Salgado não declarou ao fisco; (8) informação privilegiada aquando da venda de acções da EDP; casos de branqueamento de capitais em (9) Angola e (10) Espanha, etc. e nenhum dos casos teve qualquer espécie de responsabilização ou punição da família Espírito Santo.

Perante o relativo isolamento do poder político, a vulnerabilidade trazida pelos casos de corrupção, uma população calejada de crimes financeiros e, principalmente, perante o enfraquecimento financeiro do GES a justiça parece estar em ruptura com os interesses instalados e em sintonia com os interesses externos que se vão instalando.

É certo que nada aconteceu a Ricardo Salgado ou à sua administração pela gestão danosa do seu grupo, é certo que a justiça nada fez que pudesse, de facto, punir a continuada actividade corrupta do banqueiro. Mas, por outro lado, também é verdade que nunca antes nenhum banqueiro português terá pago uma caução de 3 milhões € para permanecer em liberdade.

Parece que a justiça, em defesa dos novos interesses da banca internacional, ainda que não resolvendo nada, é um pouco menos branda com os velhos interesses instalados.

Todos estes factores são indícios daquilo que poderá prepara-se no futuro.

Se até aqui a banca nacional era detida maioritariamente por capitais nacionais, isso está prestes a deixar de ser uma realidade. Este é um factor fundamental para a independência de um país. O sector financeiro gere os recursos de toda uma economia. Com eles influência e determina o poder político, dita o investimento, vai construindo o caminho para o futuro (quer seja bom ou mau). Sem eles está a mando de interesses externos, a dependência do país intensificasse de forma mais rápida e os povos periféricos vão-se tornando reféns das grandes economias mundiais que daqui só querem extrair mais e mais riqueza.

O conjunto de factores enunciados ditou uma enorme fragilidade do capital nacional. Não existindo nenhum banco português com força financeira para entrar no Novo Banco, este pode muito bem ser o fim de um Regime, que até agora era dominado pela burguesia nacional, e que daqui em diante será determinado pela burguesia internacional. Com a venda do capital do Novo Banco, muito provavelmente, a estrangeiros, seremos um país confinado ao desenvolvimento que a banca internacional ditar.

A médio prazo, o plano da Troika, de devastação da economia portuguesa, será levado às últimas consequências. Os serviços públicos, como a saúde e educação, sofrerão uma destruição ainda mais acentuada até tudo estar privatizado. O investimento público e privado serão condicionados, o Estado ficará refém de interesses internacionais. Os salários continuarão a baixar como forma de extrair mais lucro e as condições de vida continuarão num logo processo de destruição. A economia tornar-se-á progressivamente mais dependente. Este poderá ser um duro processo de colonização, não só de Portugal mas de todos os países periféricos.

Não que a banca na mão de capital privado nacional nos assegurasse alguma destas realidades. Que se olhe para os últimos anos. Mas o que é facto é que a banca na mão de estrangeiros só irá adensar e acelerar o processo de empobrecimento.

Basta de impunidade! Prisão e confisco para quem roubou o BES, GES e o País!

É urgente uma auditoria independente ao Grupo Espírito Santo!

Nem um só despedimento dos trabalhadores do BES e GES!

É necessária uma gestão pública da banca! Não a soluções “a la BPN”!


José Aleixo

 

Parte 1: BES, o Buraco dos Espírito Santo

Parte 2: BES, o Buraco dos Espírito Santo – Prisão e confisco para quem roubou o BES!

Parte 3: BES, o Buraco dos Espírito Santo – Impunidade para os banqueiros, custo para a população!

Parte 4: BES, o Buraco dos Espírito Santo – A face política

Este é um texto composto por 5 partes e esta é a última. É um texto que pretende ajudar à compreensão geral da crise em que se encontra o Grupo Espírito Santo, o mais poderoso grupo privado financeiro português. Desde o seu enquadramento na crise internacional, passando pelo papel da Troika,pela função do Governo de Passos Coelho, pela influência das relações pessoais e terminando com as possíveis consequências para a economia, política e e quotidiano da sociedade portuguesa.

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