bes_ja_21

BES, o Buraco dos Espírito Santo (2/5) – Prisão e confisco para quem roubou o BES!

O financiamento concedido pelo BES aos negócios do GES foi considerado o maior dos problemas para o banco, pois como já foi referido emprestou cerca de 1,5 mil milhões €, tornando-se mesmo o maior credor do seu próprio grupo.

Em inícios de Junho de 2014, surge o outro dos grandes problemas para o BES: o escândalo financeiro no BES Angola. Este banco, a actuar no mercado angolano, perdeu o rasto a empréstimos concedidos de forma discricionária, pela sua administração, no valor de 5,7 mil milhões €, 80% do total da carteira. Grande parte dos quais terão sido concedidos a empresas ligadas a altas figuras do regime angolano. Daí que o Estado angolano tenha prestado uma garantia de cerca de 4,3 mil milhões €, como contraparte dos créditos concedidos pelo BES Angola.

Como se não bastasse, chegou a vir a público que alguns dos milhões desaparecidos em Angola terão chegado a contas pessoais de Ricardo Salgado e do seu braço direito Amílcar Morais Pires.

A participação do BES no BES Angola é avaliada em 670 milhões € e o banco português tem empréstimos concedidos ao banco angolano no valor de 3 mil milhões €. O BES Angola está, neste momento, intervencionado pelo Estado angolano. Consequentemente, a garantia no valor de 4,3 mil milhões €, prestada pelo Estado angolano, foi revogada e o BES foi impedido de reclamar os créditos concedidos ao banco angolano. Para além deste gigantesco buraco financeiro, é perdida uma das mais importantes fontes de lucro para o BES e, por sua vez, para o GES.

O início do mês de Junho é também a altura em que o BES termina um novo aumento de capital na ordem dos mil milhões €. Mais uma operação de reforço do seu nível de capital que pretenderia equilibrar os empréstimos concedidos pelo BES ao restante GES.

A família, para evitar que a sua participação ficasse demasiado diluída no capital do banco, tenta acompanhar o aumento de capital. Pede 100 milhões € ao banco japonês Nomura e acaba o aumento de capital com 25% do BES. Deixa de ter uma posição de controlo mas continua a ser o seu maior accionista. Como garantia de boa cobrança daquele empréstimo de 100 milhões, a família dá 5% das acções do próprio BES.

Um mês depois, face ao crescendo de dúvidas levantas quanto à solidez do GES e à dimensão da exposição do BES ao seu grupo, as acções do BES desvalorizam abruptamente e a família Espírito Santo acaba por perder os 5% do BES para o banco Nomura. A participação da família ficou nos 20%.

A crescente desconfiança na solidez do GES e do BES culmina, no dia 14 de Julho, com a substituição do líder histórico Ricardo Salgado por Vítor Bento. Para a nova administração entram também João Moreira Rato, que vai ocupar o cargo de administrador financeiro, e José Honório, como vice-presidente da comissão executiva do banco.

A família perde a gestão e grande parte da propriedade do Banco.

Os últimos dias de Julho de 2014 são o fim de uma era: Ricardo Salgado é detido, ouvido em tribunal e constituído arguido no caso Monte Branco, estando em causa a prática de crimes de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais. O banqueiro sai em liberdade mediante o pagamento de uma caução de 3 milhões €. Pelos vistos, a impunidade tem um preço para quem o pode pagar!

No dia 30 de Julho, o BES apresenta prejuízos semestrais nunca antes vistos em Portugal – 3,6 mil milhões €. Estes resultados, segundo palavras do Governador do BdP, reflectem “a prática de actos de gestão [, pela administração de Ricardo Salgado,] gravemente prejudiciais aos interesses do BES e a violação de determinações do BdP que proibiam o aumento da exposição a outras entidades do GES.”

No dia 31 de Julho são descobertas, pelo BdP, perdas de 1,5 mil milhões € provenientes da actuação da administração de Ricardo Salgado, nos seus últimos dias no Banco. Este valor contribuiu para que os prejuízos do Banco aumentassem exponencialmente e alcançassem o valor de 3,6 mil milhões €. Não se sabe do paradeiro daquele milhar e meio de milhão. A restante administração de Salgado acaba suspensa pelo BdP e nos dois dias seguintes as acções do banco caem 40% e 50%, respectivamente.

O culminar de todo o episódio dá-se com o BES a deixar de ter liquidez assegurada pelo BCE, a par da obrigação daquele reembolsar a totalidade do seu crédito junto do Eurosistema, em cerca de 10 mil milhões €. Sem acesso às linhas de financiamento do BCE, o BES está em suspenso. 3 de Agosto de 2014, Domingo, sob a orientação do BCE, e contra todas as promessas do Governo e BdP, dá-se a intervenção do Estado no Banco e no GES.

É necessária uma gestão pública da banca! Não a soluções “a la BPN”!


José Aleixo

 

Parte 1: BES, o Buraco dos Espírito Santo

Parte 3: BES, o Buraco dos Espírito Santo – Impunidade para os banqueiros, custo para a população!

Parte 4: BES, o Buraco dos Espírito Santo – A face política

Parte 5: BES, o Buraco dos Espírito Santo – A face política do buraco BES/GES

Este é um texto composto por 5 partes e esta é a segunda, as próximas serão publicadas nos próximos dias. É um texto que pretende ajudar à compreensão geral da crise em que se encontra o Grupo Espírito Santo, o mais poderoso grupo privado financeiro português. Desde o seu enquadramento na crise internacional, passando pelo papel da Troika,pela função do Governo de Passos Coelho, pela influência das relações pessoais e terminando com as possíveis consequências para a economia, política e e quotidiano da sociedade portuguesa.

Anterior

BES, o Buraco dos Espírito Santo (Parte 1/5)

Próximo

BES, o Buraco dos Espírito Santo (3/5) – Impunidade para banqueiros, custo para a população!