Ricardo Salgado BES

A casta rasca

Os últimos anos da actividade financeira em Portugal têm uma marca: corrupção, tráfico de influências, roubo, manipulação de contas e manipulação de mercado levados a cabo pelas administrações dos mais variados bancos nacionais com a conivência dos vários governos PS, PSD e CDS-PP.

Entre buracos financeiros e recapitalização da banca (BPN, BPP, BCP, CGD, BPI e Banif), os contribuintes, através do Estado, já terão injectado no sistema financeiro nacional um total que rondará os 16 mil milhões de euros.

No meio do turbilhão financeiro dos últimos anos, o BES dava ares que teria o poder e influência suficientes para ultrapassar, não só todos os escândalos de corrupção em que a sua administração se tem envolvido, como também todas as dificuldades impostas pela crise mundial.

Para além de ter sido o único dos grandes bancos nacionais que não recorreu ao financiamento estatal, olhando para a última década, o BES viu-se envolvido: (1) Caso Portucale com ministros do CDS-PP; (2) Caso dos Submarinos com Paulo Portas; (3) Caso Mensalão e o financiamento do PT de Lula da Silva; (4) fraude na gestão dos CTT, onde se inclui a venda de imóveis valorizados do dia para a noite; (5) Operação Furacão e (6) Operação Monte Branco relacionadas com fraude fiscal e branqueamento de capitais; (7) 8,5 milhões de euros que Ricardo Salgado não declarou ao fisco; (8) informação privilegiada aquando da venda de acções da EDP; casos de branqueamento de capitais em (9) Angola e (10) Espanha, etc.

Mas as peripécias da família mais poderosa do país não ficam por aqui. A profundidade da crise do Euro apelou à reacção do BCE e este, por sua vez, tem aumentado a pressão para que a banca europeia se dote de maiores níveis de capitais próprios. Ora, tendo o BES recusado o financiamento estatal – fórmula encontrada para evitar o escrutínio público dos podres do seu Grupo – o dinheiro teria de vir de algum lado.

Ricardo Salgado tentou financiar o Grupo através de empréstimos por parte de clientes do BES – 1,7 mil milhões de euros. Ao saber-se deste artifício e como forma de garantir o pagamento integral daqueles empréstimos, o Grupo foi obrigado a constituir provisões no valor de 700 milhões de euros na holding Espírito Santo Financial Group. Seguiu-se a tentativa de financiar o GES através dos aliados que poderiam estar em melhor posição de o fazer. Mas tal não se confirmou. O governo de Passos Coelho, no meio de tanta instabilidade política, não deu o aval a um possível financiamento de 2,5 mil milhões de euros por parte da CGD e também do BCP (sob intervenção estatal). Estamos no rescaldo de um resultado eleitoral muito penoso para os partidos do Governo, a quase um ano das próximas eleições legislativas, e Passos Coelho, na esperança de capitalizar ao máximo a crise do PS, não se pode dar ao luxo de ficar associado a mais um buraco financeiro. Resposta idêntica terá sido dada por altas figuras do regime angolano – a braços com uma garantia bancária prestada ao BES Angola no valor de 4 mil milhões de euros.

Nestas condições, a administração do BES viu-se obrigada a fazer parte do financiamento necessário através da emissão de novas acções num total de mil milhões de euros. Este aumento de capital obrigou à divulgação das descobertas feitas pelas últimas auditorias: empréstimos concedidos em Angola, dos quais se perdeu o rasto, num valor total de 5,7 mil milhões de euros; dívidas de 1,3 mil milhões de euros que não constavam nas contas da ES International, para além desta holding já apresentar uma falência técnica que ronda os 2 mil milhões de euros – o que terá mesmo motivado a abertura de um inquérito a três holdings do Grupo no Luxemburgo.

Concluindo: a Ricardo Salgado e restante família apenas se solicita que se afastem da administração do BES. Resta saber quem irá pagar a factura deste novo BPN.

A amplitude das irregularidades e dos crimes cometidos nas últimas décadas, pela privilegiada casta de banqueiros e políticos, apenas é acompanhada por uma outra grandeza: a impunidade. É urgente o fim da impunidade dos crimes económicos. Chega que um bando de privilegiados continue a roubar e que a factura vá cair nas costas de toda a população. Quem roubou e continua a roubar o país deve ser colocado na prisão e ver os seus bens confiscados.

José Aleixo

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