Manifestação 1º de Maio

Um 1º de Maio marcado por algumas diferenças

A grande novidade deste 1º de Maio foi o aparecimento, na tradicional manifestação da CGTP em Lisboa entre o Martim Moniz e a Alameda, duma coluna de jovens trabalhadores do novo sindicato dos call-centers, fundado no passado dia 26 de Abril.

Também foi novidade uma grande coluna de imigrantes, maioritariamente mulheres negras, que gritaram constantemente contra a discriminação racial no trabalho e por direitos iguais aos dos trabalhadores nacionais.
Foi visível que quer um quer outro grupo não obedeciam aos habituais parâmetros do sindicalismo burocrático controlado pela direção da CGTP, não só pelo conteúdo dos seus cartazes e pancartas como pela combatividade das suas palavras de ordem. Talvez por isso, o cordão de segurança da central tudo fez para criar obstáculos à integração pacífica destas colunas na manifestação… O mesmo se passou com a coluna do MAS, que desfilou sob a bandeira da Suspensão do Pagamento da Dívida.

Lamentamos profundamente este tipo de sectarismo, que só dificulta a participação de novos sectores da classe trabalhadora dispostos à luta numa situação tão difícil como é a actual. A acção da CGTP  tende a afastar – em vez de aproximar – os mais jovens e lutadores, e a rejeitar aqueles que, pela sua acção, demonstram a necessidade dum sindicalismo democrático, combativo e mais participado pela base!

Contra a dívida, por um novo Abril

Relegada para o fim do desfile, e quase isolada dos restantes trabalhadores por carros que, “estrategicamente”, foram colocados entre o grosso do desfile e a cauda do mesmo, nem por isso a coluna do MAS deixou de se fazer notar pela sua determinação e espírito de luta. Em mais nenhum outro local da manif se gritou contra o pagamento da dívida que estrangula o país. “Quem deve aqui dinheiro é o banqueiro! Porque esta dívida é do patrão, queremos dinheiro p’ra saúde e educação!” – foram algumas das consignas entoadas. E reivindicámos “Abril outra vez!”, para mostrar que uma nova revolução é essencial para que a classe trabalhadora tenha futuro neste país.

Quem se integrava na coluna fazia-o por sermos “os mais aguerridos e dinâmicos”, como nos disse Alzira, funcionária pública aposentada. E acrescentou: “Temos que mudar também a maneira de nos manifestarmos, sermos mais pró-activos.”

De facto, a forma não é independente do conteúdo. Se desfilarmos como um cortejo quase fúnebre – como começa a ser habitual entre muitas manifestações dirigidas pela cúpulas burocráticas – a mensagem que é passada é a de que não há nada a fazer, e que somos impotentes para derrotar este governo e a sua política. As únicas saídas seriam “traduzir a luta pelo voto” em eleições (como disse Arménio Carlos no discurso final neste 1º de Maio) e apelar constantemente às instituições do regime, como o parlamento, a Constituição e o presidente da República…

Unidade e luta contra o governo de quem suga o país!

Pelo contrário, o MAS aposta na luta, na mobilização social e na confiança que os trabalhadores devem ter nas suas próprias forças e organização para serem capazes de  derrotar este governo e transformar a sociedade a favor da maioria. Por isso as pessoas vêm ter connosco nas  manifs dizendo, como a professora desempregada Joana: “Ao menos a vossa coluna é combativa e animada. Sonho com a justiça social e um mundo melhor, é por isso que estou aqui!”        

Luís, engenheiro informático, explicou por que motivo escolheu a coluna do MAS para se manifestar neste 1º de Maio: “Gosto do vosso espírito jovem e irreverente.”

– Quer dizer que fazemos a diferença? – perguntámos.

– Naturalmente que há diferenças entre as forças que se manifestam aqui. Mas o mais importante para mim é estarmos aqui unidos. Todas as forças de esquerda dizem que é necessária uma alternativa, por isso acho que o mais importante é a união contra as actuais medidas dum governo subserviente à troika, à banca e aos sectores que neste momento sugam o país.

Esta união da esquerda defendida por Luís, não deveria começar pela mobilização conjunta das duas centrais, CGTP e UGT, e de todos os partidos de esquerda, pela demissão imediata deste governo, que entrega o povo a quem nos suga? Não seria isso muito mais determinante para derrotar o governo, do que o voto nas próximas eleições?

Ana Paula Amaral

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