Fazemos desde já a nossa “declaração de intenções”, ou melhor, ao que vimos sobre matéria “europeia”: somos por uma união europeia dos povos e contra a real e atual União Europeia dos ricos, dos poderosos, do comando de Merkel sobre a Europa. A atual “união” é dos de cima, contra os de baixo. É a União Europeia real dos interesses da França e da Alemanha (das respetivas burguesias imperialistas) a impor austeridade sobre os povos.
É a UE da defesa dos interesses dos banqueiros e donos das multinacionais, todos juntos para destruir as conquistas de milhões de trabalhadores europeus desde a II Guerra Mundial. É a procura global e obstinada de colocar a Europa a competir com o capitalismo de trabalho escravo de dois megas países como a Índia e a China. Para se manter o sistema à escala internacional, os governos europeus, seja da direita clara e assumida, seja da social-democracia clássica (os governos PS em vários países europeus), assumiram a estratégia de endividamento megalómano de vários países que garanta centenas de milhões de euros de pagamento em juros e serviços da chamada dívida pública (ou “soberana”), prioritariamente, orientados para os bancos alemães e franceses e, em menor escala, para os banqueiros de outros países inclusive dos afetados pela “crise” que não há forma de terminar.
É uma falsa União Europeia, pois é a união em guerra aberta por reduzir drasticamente o nível de vida de milhões de trabalhadores, jovens e idosos europeus. E por destruir as suas respetivas conquistas consignadas em diversas leis e constituições, se necessário for igualando por baixo com a mão-de-obra que ainda trabalha, em diversas partes do mundo, em situação de escravatura moderna e ridículos salários.
Foi neste marco que o PS primeiro (com Mário Soares, lembram-se da Europa connosco?) incorporou Portugal na então CEE (1 Janeiro de 1986); depois foi a vez de PS e PSD terem acelerado a incorporação da moeda única (o euro atual) a 1 de Janeiro de 1999; mais recentemente conhecemos o chamado Tratado de Lisboa (1 de dezembro de 2009) e agora o tratado orçamental (2 de Março de 2012).
Todos estes passos que a direita e o PS resolveram dar têm dois pontos em comum: nenhuma consulta popular (nenhum referendo) sobre a acelerada integração na Europa dos negócios com o prejuízo que conhecemos nos salários e nas pensões como contrapartidas pela permanência no euro; e a perda acelerada de soberania política, a tal ponto que até os orçamentos de Estado têm de ser “inspecionados” pelas altas instâncias da UE e da Alemanha em particular. Conclusão: Portugal, o mais velho país independente da Europa, cada vez menos é senhor das suas próprias decisões estratégicas. Por esta razão e porque as contrapartidas por permanecer no euro e na UE são a chantagem e o corte permanente (através da dívida) nos salários e pensões de milhões de trabalhadores, desde logo no meio milhão de funcionários públicos.
E todo o país sangra em desemprego, emigração forçada de novas gerações de jovens com cultura e formação académica, mas sem qualquer hipótese de emprego. Até milhares de pequenas empresas e negócios são afogados numa maré de impostos, portagens exorbitantes nas autoestradas, combustível a preço de ouro, tudo para transformar o país de novo num parente pobre da Europa.
O MAS será, provavelmente, o único partido que vai exigir, nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, um referendo em Portugal que questione a nossa permanência no euro. O euro e a dívida afundam o país. O MAS vai ainda defender que sem uma medida corajosa de suspensão do pagamento dos atuais 7.000 a 8.000 milhões de euros anuais de serviço da dívida (e de uma auditoria exaustiva à própria dívida) que saem dos nossos impostos diretos para os banqueiros, não haverá saída nem futuro para Portugal.
Gil Garcia