Mais um empurrão e a prova e o Crato vão ao chão!
Por todo o país vão chegando notícias a demonstrar que a adesão ao boicote & cerco da prova de avaliação dos professores foi um sucesso, fazendo com que esta não tenha sido realizada em muitas escolas. Só houve prova quase que exclusivamente em escolas que sofreram a intervenção da polícia.
Centenas de professores colocaram-se à entrada das escolas para convencerem os seus colegas a não prestarem a prova; outros, acabaram mesmo por entrar nas escolas para conseguir adesões ao boicote no seu interior; muitos dos professores inscritos para fazê-la entraram na salas, mas acabaram por desistir; centenas de exames foram anulados devido ao barulho produzido pelos protestos. A greve dos vigilantes teve uma grande participação.
Enfim, o boicote foi um sucesso, o governo e o ministro de Educação sofreram uma grande derrota. Mas não querem reconhecê-la porque sabem que ela mostra a porta de saída para Crato. Mas a verdade é que a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) está ferida de morte e deve ser enterrada. Para isso, os professores não vão aceitar a manobra do governo de tentar impor um novo calendário para os professores que não a fizeram.
Um dia para não esquecer
Os muros e grades das escolas amanheceram hoje a estampar cartazes a dizer: “Hoje somos nós! E amanhã?”; “Não à prova, exigimos respeito”, “Não pactues”, “Diz não à humilhação”, “Crato rua, a escola não é tua”. Todos os que participaram desse dia de boicote – professores contratados, efetivos e reformados e também outros trabalhadores e estudantes solidários com a sua luta – não vão mais esquecê-lo. Na escola secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, dezenas de professores acamparam na calçada em frente na noite anterior para estarem a postos de manhã bem cedo para convencer os colegas a não entrarem. O acampamento, assim como várias outras iniciativas por todo o país, foi organizado pelo movimento Boicote&Cerco, criado através do Facebook.
Sentados em frente ao portão da Infanta D. Maria, os ativistas foram pressionados pela polícia. Não desistiram, mas o boicote não resultou, pois a pressão policial acabou por intimidar os professores inscritos para a prova. André Pestana, um dos organizadores do movimento, animava os seus colegas a dizer que o boicote estava a funcionar em muitas outras escolas do país.
Era verdade. Em Lisboa, a professora efetiva Aurora Ezkertiar conta que na secundária do Restelo, onde estava junto com outros professores do movimento Boicote&Cerco, a greve dos vigilantes e o boicote dos contratados obtiveram uma adesão de 100%. Já garantida a não realização da prova nesse local, dirigiram-se para a Secundária de Benfica e, a seguir, para a Virgílio Ferreira em Carnide para fortalecer o cerco. Nesta última, de megafone em punho, entraram na escola e conseguiram que muitos professores aderissem ao boicote.
Não houve ou foi anulada a realização de provas nas escolas Marquês de Alorna, Alto do Lumiar (manifestantes entraram na sala da prova) e Padre António Vieira. Fatos semelhantes ocorreram no Barreiro, no Porto, em Viana do Castelo, em Braga, por todo o país. Em Faro, nenhum dos 300 professores inscritos fizeram a prova. O jornal Público relata que, na secundária D. Manuel I, em Beja, os 192 professores inscritos nem sequem começaram a fazer a prova. Dos 180 professores convocados para vigiar a prova, apenas 11 compareceram. Tudo começou quando alguns professores, já sentados para começar o exame, levantaram-se, no que foram seguidos por todos os outros colegas. Dirigiram-se para o corredor e começaram a gritar “Vergonha, vergonha” e “Não à prova”. Os enunciados foram queimados e cantou-se “Grândola vila morena”.
É possível vencer!
O boicote desencadeado pelo movimento Boicote&Cerco, reunindo professores em todo o país, tendo como único recurso o Facebook, demonstra como é possível organizar e mobilizar os trabalhadores quando se tem vontade para isso. O movimento poderia ter sido ainda mais forte se a Fenprof também o tivesse convocado e não limitado a greve aos vigilantes. Os professores provaram, mais uma vez, que, quando vêm alternativa, aderem à luta com vontade, sem medo, confiantes de que têm razão e que podem vencer.
A luta ainda não terminou, mas o boicote de hoje foi um marco importante, uma derrota dura imposta ao governo. Os professores saíram fortalecidos, e não só eles. Toda a classe trabalhadora está de olhos postos na luta docente porque também está farta desse governo, da troika e das suas medidas que estão a retirar direitos da maioria para preservar as regalias de alguns.