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Professores tomam a rua no Porto contra a “prova do despedimento”

A manhã de 30 novembro estava fria e o horário pouco habitual para realizar concentrações ou manifestações. Provavelmente o encontro às 11 horas no Porto estava adaptado, não para permitir que o maior número de professores estivesse presente mas para que os dirigentes da Fedaração Nacional de Educação (FNE) e da UGT pudessem ter oportunidade de discursar tanto na Invicta como às 15 horas em Viana do Castelo para onde estava marcada, incompreensivelmente, outra concentração, nesse mesmo dia.

A FNE podia aproveitar para demonstrar que a sua vontade de terminar com a prova de avaliação, que é mais de humilhação, não era apenas um oportunismo perante a inacção da FENPROF, mas chegados à Praça Gomes Teixeira (conhecida por Praça dos Leões) os professores, na sua maioria contratados, rapidamente constataram que a ideia era outra: fazer um comício com a concentração.

As colunas da carrinha colocada pela FNE debitavam música em alto volume. Alguns docentes comentavam que não tinham pago transporte para escutar música nas ruas do Porto, pois tinham viajado de Braga, Viseu, Coimbra, Aveiro, Vila Real. Quando se começaram a gritar palavras de ordem rapidamente os dirigentes subiram ao palanque para darem início às intervenções programadas.

Antes a imaginação já tinha tomado conta do protesto, com vários cartazes a transmitirem a voz da revolta contra uma prova completamente ignóbil. O movimento “Professores contra a prova e pela escola pública”, que esteve na organização das manifestações e vígilias que nas últimas semanas ocorreram um pouco por todo o país, distribuía um panfleto apelando ao boicote e cerco à prova.

Das palavras dos dirigentes escutou-se que estão liminarmente contra esta prova, embora vejam com bom olhos o pedido do Provedor de Justiça, para que os professores mais experientes sejam dispensados dela, e as acções colocadas em tribunal para travá-la. Mas os professores contratados percebem que isso não basta nem é suficiente, a fome já bate à porta de centenas, os seus anos de experiência são deitados ao lixo – alguns estão contratados há 19 anos – e as licenciaturas e mestrados que muitos têm pelo menos um par deles, são desconsiderados pelo ministro quando é o próprio ministério que certifica e valida as instituições de ensino superior que “formam” os professores. É a humilhação total.

Tanto percebem que a palavra de ordem mais escutada foi “Boicote!” muitas vezes interrompendo o discurso dos dirigentes. No final das intervenções alguns docentes voltaram a pedir, como já no início o tinham feito, para que todos pudessem falar, o que lhes foi negado.

No entanto os professores não tinham saído de casa para fazer passeios de lazer e, respondendo ao desafio de um colega do movimento “Professores contra a prova e pela educação pública”, que subiu à carrinha da FNE, à revelia dos dirigentes sindicais, com um megafone, decidiram sair em marcha até à avenida dos Aliados. Aos gritos de “Crato para a rua, a escola não é tua”, “Boicote!”, “Está na hora de o governo ir embora!”, “Demissão”, “Emprego Sim, Prova Não”, mais de 1500 professores ultrapassavam o comício da FNE e aumentavam o protesto para além das barreiras da burocracia sindical.

O ânimo crescia agora com a manifestação a descer em direção aos Aliados. E se nos primeiros momentos a marcha avançou pelo passeio quando a massa de professores entrou na rua dos Clérigos as margens do passeio não contiveram nem a multidão nem a revolta e esta tomou a rua a partir daí. O frio inicial do protesto rapidamente se transformou em calor da luta, rompido o cerco do amorfismo da FNE gritou-se bem alto “Boicote” e “Demissão”.

Chegados à frente da câmara municipal do Porto o resultado também foi diferente. Houve espaço para que todos pudessem intervir, falar e propor as suas ideias. As intervenções foram ricas, emocionantes e incisivas. Daí saiu um apelo a todos para o boicote à prova, tenham-se inscrito ou não nela, um abaixo assinado a ser entregue aos reitores das universidades para que se retratem em relação ao valor das licenciaturas que dirigem, um chamado à participação na manifestação de 5 de dezembro, em Lisboa, e, por último, para que todos ali participem na reunião nacional de professores a 7 de dezembro, que se realizará em Coimbra na praça da República (Teatro Académico Gil Vicente), para que todos os professores possam decidir democraticamente sobre como prosseguir a luta e o boicote contra a prova.

Para finalizar a acção queimou-se simbolicamente os diplomas académicos obtidos pelos docentes, como dizia um deles “até o canudo nos roubam agora”. Para que tal não aconteça é preciso que a vontade de luta dos professores demonstrada nessa manhã seja resiliente o suficiente para boicotar a prova.

 

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