A greve dos trabalhadores dos CTT teve início à meia-noite do dia 29 de novembro e, como habitualmente alguns trabalhadores e dirigentes sindicais apresentaram-se na central de Cabo Ruivo, o maior centro de distribuição e tratamento de correio de todo o país, para fazerem o seu papel dissuasor tal como compete ao piquete de greve, de acordo com a lei, num esforço conjunto para fazerem compreender a todos os trabalhadores a necessidade de se cumprir um dia de greve na defesa dos postos de trabalho, acordo de empresa e manutenção do subsistema de saúde, ameaçados pela privatização em curso.
Espantosamente, ou não, foram surpreendidos por um número inusitado de carrinhas da força especial de intervenção, (2 de tropas especiais, 2 de agentes da PSP e alguns carros) e de agentes da PSP.
Quando os camiões, conduzidos por trabalhadores que optaram por não aderir à greve, estavam a tentar sair e o piquete tentou dissuadi-los verificou-se uma espantosa intervenção policial. Primeiro um cordão de agentes da PSP fez uma barreira entre os trabalhadores e o portão, causando empurrões, ânimos exaltados, apelos à calma, mas a polícia estava implacável e chamou o corpo de intervenção para garantir a saída dos camiões.
Foi aqui que realmente a situação descambou, a desproporção de forças era demasiado descabida, eram mais agentes do que ativistas, num cenário verdadeiramente surreal
Fizeram um perímetro de segurança impedindo os trabalhadores de se moverem, as televisões e rádios à procura dos furos entrevistavam Arménio Carlos, deputados do BE e do PCP, dirigentes sindicais perfeitamente indignados por tamanho dislate.
Com certeza que Miguel Macedo dirá que o dispositivo policial era adequado, que tem muito orgulho da polícia. Claro que não quando se atreveram a subir as escadarias de São Bento, mas quando se aplicam em tentar acabar com a greve de outros trabalhadores. Dirá também que a resposta policial esteve adequada, isto só mesmo na cabeça dele, pois não é credível que os próprios polícias se convençam duma coisa dessas.
Quer tenham sido chamados pelo presidente do Conselho de Administração dos CTT, para mostrar aos acionistas que os Correios não são uma empresa de greves e lutas e que os trabalhadores são facilmente derrotados; quer tenham sido chamados pela tutela, quer pelo Estado, este ataque aos direitos democráticos dos trabalhadores demonstra uma grande fraqueza: o medo de que os trabalhadores se unam para o derrotar.
Na verdade, é isso que está a faltar na luta nos CTT: uma acção concertada das direções sindicais e todas as estruturas de defesa dos direitos dos trabalhadores junto dos mesmo, envolvendo-os de forma democrática e com poder de decisão nas formas de luta para que tenham uma presença maior em número e vontade de ganhar.
29 de novembro de 2013
LP