Há dias que no Facebook e na blogoesfera que se anuncia uma coligação pós-eleitoral da CDU com o PSD na Câmara de Loures. Sabendo que nos meandros das redes sociais rapidamente meias verdades são tidas como verdades e dado o insólito da situação custou-nos a crer. Não que dos lados do PCP sejam inéditas opções bizarras, sapos que os trabalhadores e o povo de esquerda engoliram e se arrependeram mais tarde.
Mas custou-nos a crer que o PCP entregasse a sua maior vitória autárquica, encabeçada pelo carismático Bernardino Soares, nas mãos da direita no momento mais à direita da direita portuguesa.
Mas o insólito revelou-se verdade! Hoje o Jornal I noticiou no seu site que “PSD coliga-se com CDU na Câmara de Loures”. Segundo o “I”, a CDU aceitou coligar-se com a coligação “Loures Sabe Mudar” em que o Partido Popular Monárquico e o Movimento Partido da Terra estão com o PSD.
Ao vereador eleito pela direita, Bernardino Soares entrega o pelouro dos assuntos jurídicos, o que não é coisa pouca: quando os autarcas da direita fogem à lei e a esquerda acusa a direita de não respeitar a constituição, o PCP entrega à direita os “assuntos jurídicos”. Põem a raposa a guardar o galinheiro!
A direcção do PCP não nega, antes pelo contrário, remete para um comunicado que, à hora em que escrevemos, demora ainda em ver a luz do dia. Resumindo: a grande aposta do PCP para as recentes eleições autárquicas era reganhar Loures, que já há 12 anos havia perdido para o PS. Para isso pediu aos trabalhadores e povo de Loures que desse “Confiança à CDU”. Uma vez ganha a Câmara, o PCP alia-se aqueles que estão a destruir o país. Cabe aos trabalhadores de Loures reflectir… “A direita em Loures é diferente daquela que entrega este país à troika? Será este o modelo de governo “patriótico e de esquerda” que o PCP tanto defende?”.
Haverá mil e um justificações, mas nenhuma bate certo. Antes de mais, vejamos a famosa “confiança” que a CDU pede… sabiam os eleitores que, ao votar na CDU, ajudariam a dar um pelouro ao vereador da direita? Isso foi claro na candidatura da CDU? Bernardino Soares explicou que para manter a maioria na Câmara estava disposto até a aliar-se com aqueles que vendem o país a retalho? A resposta é não. A resposta é que a CDU não respeitou o voto dos trabalhadores e do povo. É este o modelo de democracia de Bernardino Soares, que já afirmou ter “dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia” (DN edição online de 23/06/09). Não nos espanta.
Dirão ainda os comunistas que era a forma de não entregar a Câmara à direita e ao PS que, juntos, teriam maioria e tornariam impossível a governação da CDU. Mas este argumento só engana quem quer. As alianças com a direita descredibilizam a esquerda, e neste caso tornam a CDU refém do PSD e companhia. Estes irão exigir cedências à sua política de direita por parte da CDU, e quando esta estiver suficientemente descredibilizada, aí a direita tirará o tapete a Bernardino e prepará um novo executivo da direita, do PS ou de ambos. A jogada de Bernardino só serve para enterrar a esquerda e abrir caminho à direita. A cegueira de manter o poder a todo o custo empurra o PCP para os braços da direita.
Assim se vê, porque não sai a direita do poder
Por fim faz falta uma reflexão. O país está afundado em miséria e corrupção, devido ao PSD, ao CDS e ao PS, que governaram Portugal durante décadas e chamaram agora os abutres da troika para o festim final. Mas a esquerda, sobretudo o PCP, já tem um longo percurso e nunca conseguiu pôr fim ao desastre. PCP e Bloco de Esquerda recusam-se fazer unidade, alianças ou diálogo, muito menos pensar em construir juntos um “Governo de Esquerda” ou sequer coligações autárquicas. Mas o PCP não tem pejo em juntar-se ao PSD no momento em que este aprova um Orçamento de Estado que mais rouba salários e pensões.
Já o Bloco pôs-se ao lado de Sócrates na candidatura presidencial de Alegre ou lamenta-se que António José Seguro não está aberto a aliar-se ao Bloco de Esquerda. É caso para lembrar o ditado “diz-me com que andas, dir-te-ei quem és”. E esta esquerda é uma esquerda velha, sem coragem, agarrada a um regime podre que não quer mudar. Com esta esquerda velha, precisamos de uma esquerda nova. Para isso sim, contem com o MAS.
Afonso Louro