Há uma notícia que tem, nos últimos dias, fervilhado na comunicação social: a greve geral dos professores anunciada pela FENPROF para a próxima segunda-feira, 17 de Junho. A polémica existe porque os professores entrarão em greve na mesma data em que os alunos, supostamente, fariam os exames nacionais de português e latim.
Tudo aponta para que esta greve se dê com uma grande mobilização dos professores: na última semana, docentes pelo país inteiro faltaram às reuniões de avaliação dos alunos – e em nenhum momento os prejudicaram.
No entanto, o nosso ministro da educação, Nuno Crato, diz o contrário: elogia os professores que não farão greve no dia 17, ordena ao júri de exames que envie um comunicado às escolas ordenando todos os professores a comparecerem para vigiarem exames, diz que os professores em greve irão prejudicar os estudantes; cria à sua volta a imagem de bom defensor dos direitos dos alunos…o mesmo ministro que preside ao maior desmantelamento da Educação Pública portuguesa alguma vez visto.
É lamentável toda esta propaganda contra os professores e a sua greve: com este discurso (que o governo utiliza e a comunicação social reproduz), tenta-se virar alunos contra professores. Esta greve não serve apenas aos professores, mas a todo o sector da educação. Não é apenas contra a mobilidade especial que os professores lutam, é também contra o aumento do número de alunos por turma. Não é apenas contra o aumento do horário de trabalho, é também contra o fecho de disciplinas, contra a degradação dos espaços escolares, contra o aumento da carga horária que os alunos têm…
Vimos, no sábado passado, dia 15, uma grande manifestação de professores; mas não eram apenas professores que lá estavam: eram também estudantes que, mobilizados em solidariedade para com os seus professores, lá marcavam presença. O mesmo terá que acontecer no próximo dia 17. O argumento de que os exames são fulcrais para a entrada dos alunos na faculdade é falso: na verdade, os exames servem apenas para cortar o acesso de milhares de estudantes ao ensino superior!
Também é falsa a preocupação que Nuno Crato parece revelar: um ministro que despede mais de 60 mil professores num abrir e fechar de olhos, que nos tira o passe escolar, que nos obriga a fazer cada vez mais exames é um ministro que não serve aos nossos interesses enquanto alunos. Esta greve poderá provocar um abalo no governo; poderá fortalecer a luta para suspender os seus planos de miséria para a Educação. E quando olhamos para as corajosas lutas dos povos na Turquia, na Grécia e no Brasil, vemos que os governos, quando estão encostados à parede pela contestação, tremem de medo. O Governo pode não ter enviado a polícia para desarmar esta justa luta, mas sente-se o medo: as declarações de Nuno Crato visam apenas desmobilizar os professores e fomentar a desunião num combate que é de todos.
Mas, tal como na Turquia, não desmobilizamos: esta greve irá para a frente, com força, em defesa da Escola Pública Portuguesa. Porque é mentira que os professores nos prejudiquem com a sua greve; na verdade, esta greve é o acto mais solidário que podem fazer pelos estudantes, defendendo-os na luta! Como poderiam os professores, que dedicaram toda a sua vida ao ensino, querer mal aos seus alunos? Não é muito mais fácil detectar este sentimento num governo que investe 8 mil milhões no pagamento de juros da dívida pública (nos bancos, por outras palavras), e apenas 7 mil milhões nas escolas portuguesas? É assim que as coisas se tornam claras: não são os estudantes quem se prejudica com a greve aos exames; quem se prejudica é o governo, e em especial o ministro Nuno Crato, ao ver o seu lugar ameaçado!
Nesta luta não há espaço para a neutralidade; a situação do Ensino Português fica mais grave a cada dia que passa. Os estudantes precisam tomar o seu lugar na contestação, junto dos professores. Quando cortam na educação, não cortam apenas nos professores; cortam também em nós, alunos. Quando falamos de Educação não falamos só de professores. Não falamos só de funcionários. Não falamos só de estudantes. Falamos de todos. Por isso mesmo, estamos todos juntos nesta luta: a greve dos professores é, também, a nossa greve.
João Matos e João Veloso, estudantes